Duas boas notícias

O Instituto Nacional de Estatística divulgou hoje as contas nacionais referentes ao terceiro trimestre de 2017, e as notícias ultrapassam de longe as previsões mais otimistas. 

Primeiro, o Estado português tem as contas públicas praticamente equilibradas: registou nos primeiros nove meses do ano um défice orçamental de 0,3% do PIB (total da produção do país), preparando-se, pois, para suplantar confortavelmente o objetivo inicial de registar um défice de 1,5% do PIB, que ainda ontem num discurso António Costa disse que será de 1,3%, ou menos. É verdadeiramente um feito notável: pela primeira vez na história de democracia portuguesa, o Estado prepara-se para ter as contas públicas equilibradas, se não neste ano então no próximo, e poderá continuar a reduzir a dívida pública em percentagem do PIB, essa sim muito elevada.

A segunda boa notícia hoje divulgada pelo INE é que a economia portuguesa continua a reduzir o seu endividamento em relação ao exterior. Aqui não falo das contas públicas, mas da economia portuguesa no seu todo: Estado, empresas e famílias. Temi que o aumento das importações mais rápido do que o das exportações viesse por em causa esse desendividamento, mas não: no terceiro trimestre, o saldo positivo da economia portuguesa em relação ao exterior até aumentou ligeiramente. Este excedente é pequeno, mas vai no bom caminho, e contrasta acentuadamente com os anos em que Portugal se endividou brutalmente. E isso não foi assim há tanto tempo.

É certo que, com as economias dos nossos principais parceiros comerciais a crescerem, a conjuntura é favorável. Mas isso não explica a espetacular descida do défice público, assente no aumento das receitas, mas também na diminuição das despesas. Há que dar mérito a Mário Centeno, pela política de rigor que tem vindo a implementar, e a António Costa, por ter escolhido Centeno para ministro das finanças, e por o deixar atuar sem muitos constrangimentos. É de assinalar que esta não é apenas a minha opinião pessoal, pois a taxa de juro da dívida portuguesa com o prazo de dez anos continua em queda, estando agora na casa dos 1,7% (já foi de 4,3% no início do ano). O que prova que os mercados financeiros, que são os comentadores políticos mais cínicos do mundo, estão agradados com a evolução da economia portuguesa.