Bitcoin. Conheça o universo de risco desta moeda virtual

Como o mercado das moedas virtuais ainda é novo é natural que provoque tanto euforias como pânico. A especulação é grande e ainda está a caminho da regulação

A febre da bitcoin parece estar mais controlada. Depois de ter chegado a atingir os 19500 dólares, esta moeda virtual tem vindo a registar nos últimos uma forte desvalorização ao cotar abaixo dos 13 mil dólares. E por ser uma moeda tão volátil exige cuidados redobrados, como lembra ao i, Tiago da Costa Cardoso, gestor da corretora XTB. “Este é um mercado novo e como tal, os fluxos tendem sempre a tender para euforias ou pânico. Sendo um mercado ainda relativamente pequeno e em construção, é normal os níveis de volatilidade serem muito elevados. Cada vez mais essa volatilidade deverá ser diluída pelo aumento do Market Cap deste mercado”, refere o analista. 

Ainda assim, o responsável acredita que 2018 será o “grande ano do blockchain”, ou seja da tecnologia base das moedas virtuais. É esta base que permite manter o rasto a todas as moedas, validar as trocas numa rede de computadores e impedir que qualquer pessoa possa gerar unidades da moeda. “A bitcoin é um blockchain que tem características próprias, mas que pelo desenvolvimento tecnológico que este conceito tem tido, vemos a Bitcoin a atrasar-se em detrimento de outras moedas digitais. Acredito que em 2018 vamos ver a bitcoin a perder a hegemonia, ao mesmo tempo que o Market Cap desta indústria vai continuar a subir a uma velocidade acelerada. O facto de ser um mercado ainda pequeno e com os investidores a conhecerem cada vez mais as potencialidades do blockchain, faz-me crer que temos ainda muito potencial de crescimento e que o foco se vai virar para as altcoins (moedas digitais alternativas)”, diz ao i.

Mas por não ser uma moeda regulada, este tipo de investimentos também exige cuidados. É aconselhável? A resposta é simples: tudo depende do tipo de risco e de diversificação que o investidor quer ter. “Temos de ser claros e perceber que este é um mercado ainda embrionário, baseado numa tecnologia que ainda se está a desenvolver. Ainda é difícil encontrarmos o real valor de cada blockchain e perceber que usabilidade podem ter na vida real. Mas, claro, mais risco também é sinónimo de mais retorno, pelo que não se deve alocar mais do que uma pequena percentagem dos portefólios aqui”, revela Tiago da Costa Cardoso.

E antes de investir é aconselhável perceber muito bem o que é o blockchain, o que nem sempre acontece, admite o analista. “Infelizmente a maioria dos investidores apenas entra neste mercado porque ouviram falar de uma coisa chamada bitcoin e fazem disto casino. Este é um mercado com um potencial tremendo e arrisco mesmo a dizer que podemos estar perante o blockchain agora, como estivemos nos anos 90 diante da World Wide Web. Mas é muito importante perceber os riscos e o funcionamento deste eco-sistema e olhar para alternativas à bitcoin, que deverá perder a popularidade assim que se facilitar a compra de moedas digitais alternativas com moedas fiat (euro, dólar, iene, etc)”, salienta.

Como investir A verdade é que comprar criptomoedas pode não ser uma tarefa fácil já que não funciona como a maioria dos investimentos. Em vez de comprar ações, por exemplo, o investidor adquire tokens, uma espécie de códigos digitais que representam as moedas.

E para saber a cotação das moedas digitais, bem como comprar e vender moeda, existem portais específicos para o efeito. Alguns exemplos são o CoinMarketCap, o Coinbase, o Kraken, o BTC ou o CryptoPay. Para começar, os investidores têm de criar uma conta num destes sites, associar-lhe uma forma de pagamento e, depois de todas as verificações de segurança, criar uma carteira (wallet) de moedas digitais. A ideia é simples: esta carteira funciona como uma espécie de conta bancária de uma ou de diferentes moedas virtuais. É com ela que o investidor pode armazenar as moedas, transferir para outras carteiras ou receber pagamentos.

A partir do momento que o investidor quiser fazer esse resgate terá de fazê-lo através de exchanges internacionais que deverão ligar uma conta bancária e fazer uma transferência SEPA – área única de pagamentos em euros onde é possível efetuar e receber pagamentos internacionais em euros. 

A caminho da regulação A Proteste Investe lembra que a bitcoin cumpre a função de moeda ainda “de forma muito imperfeita” porque o número de agentes económicos que a aceitam ainda é limitado e porque faltam leis que regulem as transações. Ainda assim, chama a atenção para o facto do Japão estar na dianteira, uma vez que, no início de abril, as autoridades aprovaram alterações à legislação que supervisiona a atividade bancária nas quais se inclui uma secção dedicada às moedas virtuais. “O Virtual Currency Act reconhece que as criptomoedas são ativos que podem ser usados para fazer pagamentos, e que os rendimentos das compras e das vendas podem ser tributados. Grandes retalhistas na área da eletrónica começaram então a aceitar bitcoins. E, no final de maio, a companhia aérea Peach Aviation foi notícia por se ter tornado na primeira transportadora nipónica a permitir que os clientes comprem bilhetes de avião com esta divisa digital”, revela.

Também a Rússia, que já quis processar criminalmente quem transacionasse bitcoins, anunciou que vai legalizar esta e outras criptomoedas até 2018, como medida de luta contra o branqueamento de capitais.

Enquanto isso a Europa vai dando passos para a sua regulamentação. “A Comissão Europeia está preocupada com a possibilidade de as moedas virtuais poderem facilitar movimentos financeiros ilícitos. O caminho até à regulação poderá ser trilhado via alteração da Diretiva (UE) 2015/849, que visa o combate ao branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo”, diz a publicação.

O Banco Central Europeu e a Autoridade Bancária Europeia apoiam a iniciativa, pois consideram que “é urgente impedir grupos criminosos de transferirem dinheiro de forma anónima. O que está em discussão é a possibilidade de alargar aos fornecedores de serviços de alojamento de carteiras de criptomoedas obrigações que já recaem sobre as instituições financeiras tradicionais, como identificar clientes e reportar transações suspeitas”.