Prescrevam canábis ao Parlamento

As farmácias estão cheias de medicamentos à base de morfina, mas a canábis é mais perigosa…

Há discussões que de tão absurdas até doem. Só existem por preconceitos bacocos e ignorância total. A história da legalização da canábis para efeitos medicinais devia envergonhar todos aqueles que se opõem à medida. E, já que são contra, por que razão não defendem também a ilegalização de todos os medicamentos à base de morfina? Por que não defender também que as intervenções cirúrgicas passem a ser feitas sem o recurso a anestesia, já que há muitos derivados de opiáceos? Repito, é impressionante como é notícia a hipotética legalização de medicamentos à base de canábis. 

Daqui a 20 anos quando alguém se der ao trabalho de rever esta história deve achar que as gerações anteriores eram quadradas. Então não se legaliza um medicamento cuja substância ativa é mil vezes inferior à da morfina? Ou será que alguém acredita que aqueles que recorrem à morfina ficam agarrados à heroína?

Mas vamos à polémica: está mais do que provado que os doentes oncológicos e aqueles que sofrem de epilepsia, entre outros, ganham outra qualidade de vida quando têm acesso à canábis, sendo que a melhor forma de esta ser ingerida é em líquido ou em comprimidos. Claro que à falta de melhor, fuma-se a dita planta. Planta essa que é consumida diariamente por muitos milhões de jovens e menos jovens para fins recreativos. Na Assembleia da República, o mais conservador de todos os partidos com assento aí, o PCP, logo tratou de diabolizar a legalização para fins medicinais. Que pode ser uma porta aberta para futuros consumidores recreativos, dizem. Mas os camaradas não sabem o que se passa para lá da Soeiro Pereira Gomes e do Parlamento? Seria uma medida destas que iria fazer disparar o consumo de charros? Só quem vive noutro planeta é que pode pensar assim. 

Não defendo apenas o consumo para fins medicinais, acredito que se a canábis fosse totalmente legalizada, o Estado poderia controlar as quantidades de substância ativa e, dessa forma, menorizar os problemas que muitos jovens enfrentam por fumarem haxixe ou erva adulterada e que causa esquizofrenia, como também está provado.

Os traficantes para ‘diminuírem’ o volume dos fardos produzem a canábis em estufas e por baixo da terra – com recurso a luzes negras, acelerando o crescimento e juntando as sementes mais fortes – o que faz com que um quilo de canábis ‘artificial’ tenha menos de metade do volume daquela que é plantada ao ar livre. Dessa forma ocupam menos espaço no transporte.

Ah! O dinheiro ganho com a legalização dava para o Estado investir em programas de prevenção e podia ser canalizado para as reformas miseráveis que existem no país.