PSD. Rio ganha país, perde Lisboa. Santana acabou de vez (outra vez)

Contra a frente de esquerda, promete Rio, como prometeu Santana. Unidade pode não ser a palavra de ordem, mas houve solidariedade no dicionário

Chorou-se, bateram-se palmas, citou-se Mário Soares e tiraram-se selfies à Marcelo. Nunca se celebrou tanto ir tentar liderar uma oposição. Mas este fim de semana aconteceu. Pedro Santana Lopes Santana saudou a vitória do adversário e não mostrou arrependimentos. Rui Rio saudou também o seu adversário.

Talvez um discurso de vitória obrigue a menos retrospetivas que um discurso de concessão desta, mas o facto foi notado. A euforia também. O termo “frente de esquerda”, usado por Santana desde o início de candidatura, foi rapidamente adotado por Rio. No que diz respeito à “unidade” no partido, ainda há algumas dúvidas. Menos, claro está, no dicionário a usar.

“O atual governo terá na nossa liderança do PSD uma posição firme e atenta mas nunca demagógica e populista porque nunca [estará] contra o interesse nacional”, assegurou Rio, prometendo “uma alternativa de governo à atual frente de esquerda que se formou no governo, capaz de dar a Portugal uma governação mais firme e mais corajosa, capaz de enfrentar os problemas estruturais que o país há muito enfrenta”.

Houve até espaço para um elogio a Pedro Passos Coelho, cujo governo sofreu algumas críticas de Rui Rio entre 2011 e 2015.

“Todos sabemos que [Pedro Passos Coelho] teve de enfrentar a mais grave e mais longa crise económica financeira que o país viveu nos últimos 40 anos”, afirmou. Para Rio, o seu agora antecessor “foi o primeiro-ministro que tirou Portugal da bancarrota para onde os desmandos de outros atiraram o país”. Mas às réstias do passismo, incluindo possíveis adversários seus para futuro, agora que Passos sai de cena, ficou um aviso: “O PSD não foi criado para ser um clube de amigos nem um agregado de interesses individuais”.

Soares, o original No seu discurso de conclusão de campanha, Pedro Santana Lopes terminou com uma citação de Mário Soares, antigo Presidente e fundador da República, falecido no ano passado.

“Só é derrotado quem desiste de lutar”. E a luta continuará para Santana. É mais uma das vidas políticas do ex-primeiro-ministro que acaba, mas fica a promessa que continuará “a combater politicamente”.

“O que espero é que Portugal fique bem servido com esta escolha”, atirou.

Em Lisboa Houve vitória de consolação para os santanistas e foi em Lisboa.

A ala de Rio, que havia apostado forte com uma lista à concelhia do PSD-Lisboa, encabeçada pelo ex-presidente interino Rodrigo Gonçalves, e preenchida com três ex-secretários de Estado, foi derrotada por uma lista de Paulo Ribeiro, que contou com os apoios dos autarcas Paulo Quadrado e Luís Newton e do deputado lisboeta Sérgio Azevedo.

A derrota de Gonçalves é particularmente simbólica, na medida em que o ex-presidente de junta é (ou era) conhecido como um dos apoiantes de Rio com maior capacidade de mobilização de eleitores locais, isto é, de votos. Tal, desta vez, não sucedeu.