Patrícia Müller: “Insistência, agressividade e desconforto não estão no limite do engate”

Desde a publicação da já chamada carta de Deneuve no “Le Monde” que o consenso inicial em torno do tema do assédio parece desfeito. Partindo desta ideia, o i  fez duas perguntas a (Pôr o nome e o cargo da pessoas):

Patrícia Müller, Guionista e escritora

1. O “Guardian” fez uma lista de perguntas que devemos fazer a nós mesmos para termos a certeza das águas em que navegamos. Entre elas, incluiu: “A outra pessoa deixou claro que não está interessada?”; “O meu avanço pode assustar a outra pessoa?”; “O meu avanço não é adequado nem no sítio, nem no espaço temporal?”. São perguntas assustadoras. Se eu achar que o meu avanço pode assustar, ser inapropriado ou se não souber escutar um não, está tudo estragado. Sedução é perceber que a outra pessoa está em sintonia connosco; que quer relacionar-se e que corresponde ao nosso interesse. Sou implacável com o resto. Insistência, agressividade e desconforto não estão no limite no engate, estão muito para lá do admissível.

2. É altura de mudar as coisas. Serão cometidos excessos em alguns casos, mas na essência é preciso abanar a estrutura. Teremos de ser mais #metoo que Deneuve, se queremos que comportamentos sejam alterados. Talvez isto se traduza num encolhimento masculino (literal e metafórico), mas parece-me que esse terá de ser o caminho até se atingir um equilíbrio.