Santanistas dividem congresso

Rio foi o eleito, mas os olhos estão focados em Luís Montenegro. Dez anos depois, o ‘santanismo’ voltará a partir em congresso e parece que a história se repete mesmo. Até no PSD. 

O PSD corre em déjà vu. Os vencedores de hoje, que haviam vencido há dez anos, vêem os derrotados de então novamente divididos para o congresso. 

Depois da vitória de Rio contra Santana, o burburinho parlamentar vem ofuscando o verdadeiro rebuliço: a estrutura mexe, das concelhias às distritais, dos autarcas aos deputados, soldados cruzam trincheiras, fazem-se tréguas e vingam-se pactos, fações saem de alas e alas desaparecem de todo ou preferem resguardar-se para futuro (sendo ‘o futuro’, a auto-presumida derrota em legislativas). 

Depois das diretas, há congresso, e aí votar-se-á a composição do Conselho Nacional, a maior reunião regular entre os sociais-democratas.

Se, em 2008, foi a ala de Manuela Ferreira Leite que ganhou a liderança do partido contra Pedro Santana Lopes e Pedro Passos Coelho, em 2018 foi a mesma ala de Ferreira Leite (desta vez encabeçada pelo seu vice-presidente da altura, Rui Rio) que tornou a derrotar o ‘passismo’ e o ‘santanismo’, desta vez até unidos. 

A consequência, ao que o SOL apurou, é similar: o santanismo partiu, dividindo-se, e o passismo guarda-se para a próxima (o que, da última vez, resultou). As razões para tal são igualmente semelhantes: a ambição de um homem e o caráter político de outro. 

Em 2008, Santana Lopes perdeu e o ‘santanismo’ dividiu-se em dois no Conselho Nacional. Um santanista explica ao SOL por que ainda é assim. «Não há santanismo sem Santana. A personalidade forte de um político faz isso: quando deixa vácuo, desagrega». 

Pedro Pinto, amigo de longa-data de Santana, hoje presidente da distrital de Lisboa, encabeçou em 2008 a lista mais institucional ligada à sua candidatura, sendo que Pinto também em 2018 voltou a ser dos mais próximos de Santana Lopes. 

Mas já há dez anos havia um homem com vontade de mostrar autonomia e projeção: Luís Montenegro. Aquele que muitos olharam como favorito a suceder a qualquer um que triunfasse (fosse Rio, fosse Santana) – que ainda faz outros tantos interpretar a liderança de hoje como «transitória» – avançou com uma lista sua ao Conselho Nacional. Tendo subido à direção do grupo parlamentar quando Santana liderava a bancada, esse foi o início de um caminho de emancipação de Montenegro que deu frutos reais: volvido um par de anos e era ele que presidia o grupo parlamentar.

Coincidentemente, um dos jovens dirigentes que, nessa altura, se juntou a Luís Montenegro foi Carlos Eduardo Reis, outro dos ‘santanistas’ que reapareceu em 2018. «Ele fez uma transição engraçada. Não se deixou ficar na ‘jota’ (JSD), foi fazendo o seu percurso. Não foi um ‘passista’ convertido a Santana para sobreviver». Reis, que fora porta-voz da juventude de Santana em 2008, acompanhou-o novamente de perto este ano e no último congresso (2016) encabeçou uma lista ao Conselho Nacional que conta com os deputados Sérgio Azevedo (vice-presidente de Luís Montenegro enquanto este liderou a bancada parlamentar) e Clara Marques Mendes.

A particularidade do santanismo separar-se perante a derrota de  Santana torna, então, a surgir. E as ambições de Luís Montenegro são, conhecidamente, mais vastas do que eram em 2008. 

Do lado de Rui Rio, há preocupações que o ex-líder de bancada «queira ser um líder de fação» e que o modo tempestuoso como Hugo Soares (seu sucessor) não colocou o lugar à disposição depois de Rui Rio ser eleito «representar um sinal». Do lado oposto, há outra tranquilidade. «Está na rádio todas as semanas, vai para a televisão todas as semanas e não há maneira de Rio ganhar as europeias ou as legislativas. Montenegro só precisa de esperar». 

Pretenderá esperar sentado com uma lista ao Conselho Nacional? Como já referido: da última vez resultou.