Mais importante que os resultados é o que fazemos com eles

Os rankings estão aí. Mais tarde do que o costume mas isso não é notícia. Ainda muito a tempo para ajudar algumas famílias a escolher a escola dos seus filhos no próximo ano lectivo; para ajudar outras a perceber o que se passa na escola que os seus filhos já frequentam. 

Os rankings não são toda a verdade sobre uma escola. Mas são claramente uma realidade a que todas prestam atenção. Esta é, para mim, a grande virtude dos rankings. Tornam público, muito público, algumas das fragilidades do nosso sistema educativo.

Não estou especialmente interessado em quem fica em primeiro ou quem fica em último. O que me importa é perceber o que sucede de uns anos para os outros com as diferentes escolas e sectores. Não tanto com as escolas cujos alunos têm melhores resultados (que são um grupo relativamente estável), mas com as escolas cujos alunos tiveram resultados maus ou sofríveis. Se a escola serve para promover a equidade e a superação, então seria expectável que algo acontecesse nas escolas cujos alunos têm piores resultados. Estes são, presumivelmente, os alunos que mais precisam da escola!

Em 2015 a FFMS publicou um estudo de um grupo de economistas da Nova em que estes foram ver o que se passou com as escolas 10 anos depois do primeiro ranking. O resultado passou convenientemente desapercebido. 40% das escolas privadas que ficaram nos piores lugares fecharam e 35% melhoraram. 9% das escolas privadas que ficaram no 3.º quartil de resultados (apenas ligeiramente melhores que os piores) fecharam. Não sabemos quais as razões para estes movimentos, algumas foram virtuosas, outras talvez não. Mas o importante é que houve mudança e as escolas onde os alunos não mostravam aprender fecharam. Já no sector das escolas estatais, apenas 14% desapareceram e 44% melhoraram. Isto significa que 43% ficaram na mesma nos piores lugares. Isto não pode ser. Não podemos aceitar, como país, um sistema educativo com muito poucos incentivos à melhoria. Tradicionalmente, diz-se que isto é assim porque há escolas que têm alunos de origem socio-económica muito desfavorecida. E é verdade que estas escolas existem. Mas hoje também sabemos, graças a um estudo de 2016 da Direção Geral das Estatísticas da Educação e Ciência

“Desigualdades Socioeconómicas e Resultados Escolares” que há distritos em Portugal onde as escolas fazem toda a diferença e ultrapassam as dificuldades do meio e escolas onde isso não acontece.

Os rankings, apesar de todas as suas limitações, mostram-nos um sistema educativo a duas velocidades. O problema não são os rankings. O problema é que temos de fazer muito mais para vencer os ciclos de insucesso escolar. E isto não se faz desvalorizando a excelência. Faz-se criando incentivos a fazer melhor. Faz-se dando mais autonomia a todas as escolas e mais liberdade de escolha às famílias. Quer dentro do sistema público, quer no particular e cooperativo.

Os resultados dos alunos não explicam tudo sobre uma escola. Mas é preciso explicar o que fazer nas escolas quando os alunos não aprendem.

Rodrigo Queiroz e Melo   
(Diretor da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo)