PSD. Pinto Luz impõe “limites” a Rui Rio. Salvador Malheiro acusa-o de “irresponsabilidade”

Salvador Malheiro, que dirigiu a campanha de Rui Rio, critica a ideia de chumbar orçamentos que ainda não se conhecem

“É irresponsável.” Foi assim que o presidente da distrital de Aveiro, Salvador Malheiro, reagiu à carta que Miguel Pinto Luz, ex–presidente da distrital do PSD de Lisboa, escreveu a Rui Rio.

Na mensagem entregue na sede nacional do partido com o líder eleito como destinatário, Pinto Luz – atualmente vice-presidente da Câmara de Cascais – felicita Rui Rio, colocando depois limites ao seu futuro mandato enquanto presidente do PSD por ter considerado a campanha interna como pouco esclarecedora, além de considerar que existem “omissões” na moção apresentada pela candidatura do antigo presidente da Câmara do Porto.

Diz a carta de Pinto Luz, na enumeração dos referidos limites, que “o mandato agora conquistado” por Rio “não lhe permite viabilizar o orçamento do próximo ano”, na medida em que esse Orçamento do Estado “vai ser construído” pelo atual governo, do PS, “em véspera de eleições”.

Foi a esse limite concreto que Salvador Malheiro – presidente da distrital de Aveiro e diretor da campanha de Rio – reagiu. “Como é possível que se tente condicionar a orientação de um voto sobre um Orçamento do Estado que ainda não se conhece? Vota-se contra só por votar contra?”, desconsidera o também presidente da Câmara de Ovar, que descreve a ideia como “uma irresponsabilidade” e se escusa a mais comentários sobre a iniciativa do homem que foi, durante mais de um ano, o seu homólogo em Lisboa.

Pinto Luz não apoiou ninguém nas diretas que cruzaram Rui Rio e Pedro Santana Lopes, sendo, aliás, um dos homens que estiveram na iminência de avançar para a corrida, como Luís Montenegro e Paulo Rangel, tendo depois recolhido a intenção. Malheiro, por outro lado, foi o primeiro dirigente do PSD a assumir publicamente o apoio a Rui Rio como candidato à liderança dos laranjas, tendo depois dirigido a sua campanha.

Ao que o i apurou junto da estrutura rioista, a carta que Pinto Luz enviou a Rio não foi colocada “no topo das prioridades” da nova liderança, havendo “abertura para todas as discussões”, nomeadamente “em congresso”, que “é onde estas [devem] acontecer”.

Não cobiçarás o governo alheio Mas há mais limites além do chumbo do Orçamento do Estado do próximo ano – presumivelmente, o último aprovado pela solução de governo conhecida como geringonça, sendo o último previsto nas posições conjuntas assinadas entre PS, PCP e Bloco de Esquerda em 2015.

Pinto Luz vem mesmo pedir que haja uma recusa explícita do bloco central, isto é, uma coligação do centrão entre PS e PSD. “O mandato agora conquistado não lhe permite estabelecer contactos ou encontros formais e discretos com a liderança do Partido Socialista com o propósito de abordar a reedição do Bloco Central”, diz a carta a que o i teve acesso e que também coloca entraves à regionalização e a algum euroceticismo manifestado por Rio.

“O mandato agora conquistado não permite que o processo de descentralização seja aproveitado para fazer uma regionalização administrativa”, escreve Pinto Luz, que é favorável à descentralização mas não ao regionalismo, separando as águas.

“Bem sabemos que algumas vezes manifestou publicamente reservas à atuação de algumas instituições comunitárias, contudo, essas mesmas manifestações pessoais não podem ser confundidas com o posicionamento estrutural do PSD em relação à Europa”, continuou Luz, limitando e insistindo na revisão da moção que a candidatura de Rio apresentou durante as diretas até ao congresso. “O congresso de fevereiro é uma imensa oportunidade para retomar o debate das matérias de facto em vez de retomar discussões sobre cenários políticos e exercícios especulativos.”

É para ganhar sff No fim, e antes de uma série de questões relacionadas com prioridades programáticas (reforma do Estado social, liberdade de escolha na saúde e na educação, sustentabilidade da segurança social, investigação científica e produção cultural), Pinto Luz deixa o limite final – e talvez o mais aguerrido. Para o jovem quadro do PSD, também ex-secretário de Estado de Passos Coelho, o mandato agora conquistado por Rui Rio “não lhe permite não vencer as próximas eleições legislativas”, na “tradição do partido” que venceu as últimas duas eleições para a Assembleia da República, embora nunca, sozinho, com maioria parlamentar. Dito de outro modo: Rio tem de, pelo menos, igualar o primeiro lugar de Passos em 2015 para permanecer presidente do PSD. Isso, certamente, Pinto Luz não será o único a pensar. Foi só o único até agora a dizê-lo.

Enriquecedor Para Luís Marques Mendes, ex-presidente do partido, Pinto Luz “será um dos protagonistas do próximo congresso” e este desafio a Rui Rio para que o líder eleito clarifique as várias posições enunciadas “é um contributo para o enriquecimento do debate político” na reunião magna dos sociais- -democratas, agendada para o terceiro fim de semana deste fevereiro.