Há uma grande sondagem para as legislativas de 2018: vão ser as eleições para o Parlamento Europeu, que acontecem escassos cinco meses antes.
Aí, o PS testa a sua capacidade para obter uma maioria absoluta nas legislativas seguintes, o PSD avalia o potencial da nova liderança, o CDS volta a medir a popularidade de Assunção Cristas – e de Nuno Melo – e o PCP e o Bloco de Esquerda vão identificar se existem (ou não) estragos eleitorais pelo apoio dado desde 2015 ao Governo PS que possam vir a traduzir-se nas eleições nacionais.
Da última vez, as europeias ditaram a queda de António José Seguro – os 31% obtidos nas eleições foram considerados por António Costa uma vitória «poucochinha» e abriram alas para que Seguro viesse a abandonar o cargo de secretário-geral socialista nas primárias que acabaram por ser convocadas e deram a vitória a António Costa.
Uma resposta radical
Há cinco anos, o cabeça-de-lista ao Parlamento Europeu foi Francisco Assis, que neste momento continua a ser o principal rosto, entre os socialistas, na oposição à solução de Governo criada. Assis não continuará em Estrasburgo, ao que o SOL apurou. Aliás, foi o próprio que fez questão de o sugerir publicamente quando se despediu da Assembleia Municipal do Porto na sequência das últimas autárquicas:
«Considero encerrada a minha vida política autárquica. Não voltarei a ser candidato a nenhuma autarquia, seja em que circunstâncias for e, muito provavelmente, daqui a dois anos encerrarei a minha vida política», disse Assis, sinalizando o seu desejo de abandonar o Parlamento Europeu.
Francisco Assis antecipou-se, embora usando a fórmula radical de «encerramento da vida política», àquilo que poderia ser uma inevitabilidade. Poderia o PS ter como principal rosto da campanha eleitoral um adversário da ‘geringonça’ quando é, na realidade, a solução governativa que vai a votos nestas europeias? Dificilmente, consideram socialistas ouvidos pelo SOL.
Assis é muito jovem e um encerramento da vida política aos 50 anos costuma ser raro. A possibilidade de que volte a ser candidato à liderança socialista num futuro pós-Costa ainda é alimentado por alguns dos seus próximos.
Ao que o SOL apurou, poderá agora ser a hora de Ana Catarina Mendes, a secretária-geral adjunta do PS, se tornar a número 1 às Europeias. O PS apareceria, assim, com um dos seus pesos-pesados, e da íntima confiança do secretário-geral, nas próximas eleições. Será também um teste pessoal para Ana Catarina Mendes, que é, entre a geração mais jovem, um dos nomes apontados para um futuro pós-Costa. A ideia é do agrado da própria Ana Catarina Mendes.
A secretária-geral adjunta dos socialistas já tem alguma experiência nos corredores europeus: a 22 de janeiro foi reeleita vice-presidente da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, na sua qualidade de presidente da delegação da Assembleia da República à Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa. Ana Catarina Mendes vai ocupar este cargo durante um ano, o que lhe permitirá chegar às eleições de 2018 com algum trabalho de casa.
A tensão com Carlos César
Carlos César está farto de ser líder parlamentar do PS. O facto já é do conhecimento geral, particularmente de toda a bancada parlamentar socialista que tem assistido ao enfado com que o presidente do PS e da bancada gere o trabalho diário. Ao que o SOL apurou junto de diversas fontes, o cansaço de Carlos César com o cargo já não só é público nos corredores parlamentares como é notório.
Afinal, o homem que foi o todo-poderoso presidente do Governo Regional dos Açores durante 10 anos – e foi essencial na ascensão de António Costa à liderança do partido – acabou por ver-se relegado a um cargo que não é tão decisivo no funcionamento da ‘geringonça’ como de início António Costa lhe fez crer. Aliás, o próprio Costa também nunca gostou de ser líder parlamentar – ocupou brevemente o cargo durante a liderança de Ferro Rodrigues até ter ido para o Parlamento Europeu, em 2004, alcandorado a cabeça-de-lista depois da morte de António Sousa Franco em plena campanha eleitoral.
As tensões na bancada são visíveis, nomeadamente com a secretária-geral adjunta, Ana Catarina Mendes, uma adversária do pacote da transparência que dividiu os deputados socialistas nas últimas jornadas parlamentares. A ida de Ana Catarina Mendes para Bruxelas também ajudaria a diminuir a tensão entre os socialistas. A verdade é que, apesar de ser secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes raramente é chamada pelo líder parlamentar a protagonizar as grandes intervenções da bancada socialista.
Ascenso em fúria
A coisa aconteceu há mais de uma semana. Ascenso Simões, ex-diretor de campanha de António Costa, pediu a Carlos César para ser presidente ou coordenador da Comissão Eventual de Acompanhamento do próximo quadro financeiro comunitário 2030.
A comissão tem como objetivo acompanhar o processo de definição da estratégia de aplicação dos fundos comunitários, no âmbito do Quadro Financeiro Plurianual da União Europeia pós-2020. Com esta comissão, o Parlamento vai «participar ativamente nesta reflexão estratégica nacional» sobre o futuro quadro de Fundos da União Europeia para «acompanhar e contribuir, no limite das suas competências e atribuições, para o processo de definição da ‘Estratégia Portugal 2030’».
Quando ouviu a solicitação de Ascenso – antigo secretário de Estado de António Costa e um dos seus íntimos, hoje mais afastado – Carlos César disse que já tinha feito as suas escolhas. O presidente seria Fernando Rocha Andrada, o antigo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais que teve que se demitir depois da ida ao Europeu a convite da GALP, e o coordenador João Paulo Correia, o deputado socialista responsável pela área das Finanças.
Ascenso não gostou de ser, mais uma vez, encostado às boxes. E mostrou o seu desagrado a Carlos César, à entrada do plenário da Assembleia da República, numa manifestação pública de fúria que é rara acontecer nos corredores parlamentares.
Ascenso e César não têm mantido as melhores relações. Ascenso insistiu em continuar a votar ao lado do Bloco de Esquerda a diminuição dos benefícios das elétricas, depois de Costa mandar dar o dito por não dito. César mandou o caso de Ascenso para análise dos órgãos do PS.