Rio ganhou as diretas, Montenegro ganhou o congresso

Querem, então, dizer-me que o ‘novo’ líder – cuja direção é assobiada, que nem com o mundo inteiro numa lista consegue unir um congresso e cujo candidato a sucessor disse ‘até já e cuida-te’ – vai ganhar eleições a António Costa? Ok…

Elina Fraga poderia não existir que este título seria o mesmo. Rui Rio ganhou as diretas contra Santana Lopes; Luís Montenegro ganhou o congresso com o PSD.

Rio não conseguiu vingar num fim-de-semana que teve o dia da despedida de Passos Coelho, o dia da pré-candidatura de Luís Montenegro e o dia do apupo à ex-bastonária. Disse umas coisas. Repetiu os argumentos da oposição de Passos («Não reformam nada para futuro») e juntou-lhe ódios de estimação como a Google em Lisboa ou a Justiça com Marques Vidal. O resto – a nostalgia ideológica sobre «a social-democracia» – não serve para mais do que auto-infligir crises identitárias no partido, que na verdade nunca teve grande identidade.

Carlos Moedas, nesse sentido, teve razão ao pedir aos congressistas que seguissem em frente no que toca a rótulos entre «esquerda» e «direita». Se perguntássemos ao comissário europeu qual a sua ideologia, a resposta mais sincera seria: «o futuro». E é por isso que embora ache que Moedas merece ser líder do que entender, este PSD não merece – ou não compreenderia – uma sua liderança. Foi bom – para não dizer um alívio – notar nos aplausos que as bancadas de observadores lhe ofereceram ou na curiosidade em conhecê-lo nos corredores.

Se olharmos antes para Paulo Rangel, vemos que é o único político no PSD que consegue defender o Estado social sem parecer de esquerda, o que é um atributo fenomenal, mas também constatámos algo talvez propositado nesta sua intervenção: a Europa, só a Europa e nada mais do que a Europa.

Pedro Duarte falou pouco e disse menos, estando cada vez mais próximo de um centro-esquerda tão antigo quanto o seu estatuto de 'alternativa jovem'. E trazer a robotização para a conversa não resolverá esse problema…

Se ouvirmos Miguel Pinto Luz sem a snobeira portuguesa de temer a juventude, somos capazes de concordar que foi um erro gastar o espetáculo na carta crítica a Rio e deixar as propostas programáticas para o discurso ao congresso. Ao contrário, com o espetáculo na sala de espetáculos e o programa no papel, poderia ter corrido melhor.

Não se pode, no entanto, deixar de reconhecer-se: defendeu, como Montenegro mas antes de Montenegro, que Passos não desvirtuou o partido; defendeu, como Montenegro mas antes de Montenegro, que governar com este PS é que seria uma desvirtuação do partido; e defendeu, como Montenegro mas antes de Montenegro, o lugar de Portugal na Europa.

É, por isso, um pouco tonto sentenciá-lo à hibernação política. Mesmo que nada disso elimine o facto de toda a sala ansiar por Montenegro – independentemente do que qualquer um dissesse.

A sala não aclamou as ideias de Luís Montenegro para o país ou para o partido; a sala aclamou Luís Montenegro contra Rui Rio – que é, de facto, o último quadro do PSD que pode atirar pedras a «hesitações» ou «faltas de coragem» de alguém.  Montenegro poderia ter dito qualquer coisa depois disso que o congresso queria mais. Rio ter depois antecipado a apresentação da sua direção para tentar recuperar a plateia, falhando totalmente, foi um momento simbólico.

O dia seguinte, com uma lista ao Conselho Nacional feita por dois homens que conhecem bem Montenegro – Carlos Eduardo Reis, da candidatura de Santana em 2008, onde ambos estiveram, e Sérgio Azevedo, seu ex-vice no grupo parlamentar – também não pecou por falta de simbolismo. Rio levou Santana, Paulo Rangel e o secretário-geral de Passos Coelho para tentar a unanimidade, mas uma lista que fora a terceira mais votada em 2016 acabou por roubar-lhe a maioria absoluta no maior órgão do partido.

Querem, então, dizer-me que o 'novo' líder – cuja direção é assobiada, que nem com o mundo inteiro numa lista consegue unir um congresso e cujo candidato a sucessor disse 'até já e cuida-te' – vai vencer eleições a António Costa?

Este fim-de-semana, conclui-se que Rio ganhou as diretas e Montenegro ganhou o congresso. Mas Costa, mais sortudo, ganhou 2019.