Os ‘rankings’ mal amados…

Até se encontrar melhor barómetro, os rankings representam uma amostra das competências dos alunos e do estado do ensino 

Em jeito de desabafo e com o mesmo simplismo com que trata um qualquer fait divers, o ministro da Educação resolveu partilhar a sua aversão aos rankings das escolas, concluindo que «há vida para além dos exames».

Pois há. O problema é que os exames nacionais constituem um instrumento fundamental de aferição do aproveitamento dos alunos, submetendo todos à mesma bitola, estejam no ensino público ou no privado.

Sucede que, feita a comparação, os resultados mostram, globalmente, que houve 27 colégios privados à frente da primeira escola pública, o que provocou visíveis engulhos a Tiago Brandão Rodrigues, o ministro saído das brumas anglo-saxónicas para se transfigurar no «papagaio da Fenprof» (António Barreto dixit). 

Desde que chegou, o ministro ignorou com soberba pareceres do Conselho Nacional da Educação, desprezou a opinião de quem sabe e refugiou-se no preconceito ideológico, em vez de privilegiar o trabalho científico. Valeram-lhe, porém, os louvores da Fenprof, essa sucursal do PCP com um presidente vitalício. 

Sem biografia que o recomende, Brandão Rodrigues trouxe consigo um caldo de facilitismo, com consequências perversas para o futuro dos alunos. 

Este governante, adversário confesso dos rankings (que se publicam desde 2001), é o mesmo que se lançou numa santa cruzada contra os contratos de associação com colégios privados, e provocou um vendaval no sistema de ensino ao eliminar, de uma penada, os exames no 4.º e 6º ano a meio do período letivo. 

Coube-lhe, ainda, a insólita decisão de validar um exame nacional de Português – apesar da comprovada fuga de informação sobre a prova –, com proveito dos cábulas e frustração de quem estudou.  

A sua prosápia impressiona. Disse ele que «o bom trabalho que se faz nas escolas vai muito além dos rankings». Pois vai. O pior é que os rankings representam, anualmente, até se encontrar melhor barómetro, uma amostra indicativa das competências dos alunos e do estado do ensino. 

Os defensores da escola pública costumam argumentar que esta não pode escolher os alunos, ao contrário do setor privado, com a agravante de muitos estabelecimentos se situarem em ‘territórios críticos’ do interior ou em zonas urbanas carenciadas. É um facto, mas não explica tudo.

Há escolas públicas em bairros sem essa turbulência social, e nem por isso ganham terreno às privadas próximas. A estabilidade do corpo docente – menos contaminado por greves às ordens da Fenprof –, e critérios metodológicos mais rigorosos, serão fatores a ter em conta na consolidação dos saberes, e que não se confundem com a ‘balda’, geradora de insucesso escolar e de abandono precoce.

A ‘cultura da nota’, que parece incomodar Brandão Rodrigues, não provoca traumas nem incentiva a desigualdade, quando os alunos são a verdadeira prioridade e não meras ferramentas para empregar mais docentes.  

Por isso, quando o Público titula Pais e diretores unidos pelo fim dos exames para entrar no Superior, é o gato escondido com o rabo de fora… O acesso ao ensino superior merece ser discutido seriamente, inspirado até na experiência de outros modelos europeus, mas não pode servir de pretexto para demonizar os exames.

Claro que esta controvérsia não é estranha a uma reaparecida dialética político-ideológica, que matou à nascença a tão necessária avaliação do desempenho dos professores – o ex-‘cavalo de batalha’ da antiga titular da pasta da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, que dela desistiu a troco de nada.

Ironicamente, viria a ser ‘chumbada’ na avaliação interna do ISCTE como docente no período de 2014-16, o que não a impediu de ser eleita reitora do Instituto. Uma singularidade. Como ter sido nomeada por Sócrates para presidente da FLAD, uma aberração no seu perfil de esquerda.

O certo é que Lurdes Rodrigues aproveitou os rankings das escolas para se desdobrar numa campanha pública, alegando que estes «só servem para angustiar as famílias».

Pelos vistos, as famílias apenas se angustiam com os rankings e não com o deficiente aproveitamento dos seus educandos ao longo do ano letivo. 

Na opinião da nova reitora do ISCTE, «o principal efeito dos rankings (…) tem sido aprofundar o fosso da desigualdade escolar».

Faltava este toque sociológico na argumentação de quem considera que «as escolas misturadas do ponto de vista social, económico e escolar são melhores escolas». 

Os rankings são mal-amados por uma certa esquerda que defende as virtudes ‘misturadas’ da escola pública enquanto põe os filhos a recato no privado – como já se viu com um membro do atual Governo.

Bem prega Frei Tomás. Ou como se ‘mandam às malvas’ os princípios quando se trata de habilitar a prole para o futuro,  com um toque de elite…