Virgílio Macedo. “O PSD não pode voltar a esquecer o trabalho de casa autárquico”

Deputado, figura influente do PSD-Porto e apoiante de Rio, ao i diz que o partido não fez bem o trabalho de casa para as autárquicas e que gostaria de ver Passos em Belém

Dirigente de longa data na distrital do Porto, deputado e apoiante de Rui Rio, pede “a todos os sociais-democratas para estarem unidos na mesma social-democracia”. Virgílio Macedo elogia a preparação à distância das autárquicas e gostaria de ver Passos Coelho um dia em Belém.

Apoiou Rui Rio. Acha que a disputa interna foi tão pacífica quanto as pessoas agora no congresso parecem dizer, ou as diretas foram realmente agressivas?

Acho que o debate foi positivo porque proporcionou discussão de ideias. Isso é um fator de motivação para o partido. É bom ver gente mobilizada para debater. Os militantes envolvem-se e têm depois a consciência, independentemente do resultado, que há que unir esforços. É a única maneira de conseguir uma solução política – e uma solução política ganhadora – para o país. 

Quando fala em unir esforços, está a referir-se a gestos simbólicos como a entrada de Santana Lopes e Rui Rio juntos no congresso?

Sim. Foi um primeiro sinal muito positivo que o PSD deu aos seus militantes e a todos os portugueses. É fundamental distinguir as lutas internas, que têm o seu tempo e o seu espaço, das lutas, já em conjunto, por um país melhor. No fim do dia, aquilo que verdadeiramente conta é isto: os sociais-democratas estarem juntos – todos juntos – na mesma social-democracia. Os partidos precisam da confiança das pessoas, e a credibilidade começa na união deste congresso.

Essa unidade será possível no grupo parlamentar, que vai a eleições esta quinta-feira?

Eu acredito que sim. A bancada tem todas as condições para isso; para protagonizar da melhor forma o projeto político que Rui Rio está a construir. Independentemente de terem sido apoiantes de Rui Rio ou de Pedro Santana Lopes. Até durante as diretas, Rui Rio disse isso mesmo: o que interessa é o interesse dos portugueses. Essa tem de ser a prioridade do PSD. Nunca foi de outra maneira.

Nos próximos tempos, o PSD terá três atos eleitorais: europeias, a Madeira e as legislativas. O tempo não é curto demais?

O calendário é muito curto e entraremos em campanha muito rapidamente. Tudo leva a crer que teremos legislativas em outubro de 2019, mas eu estou confiante. Muito confiante. Rui Rio tem as características certas para motivar o partido, unir o partido à sua volta, e chegar a esses atos eleitorais como uma verdadeira alternativa aos nossos adversários. 

Acha que houve falta de crença nos últimos dois anos, que a mensagem deixou de passar tão bem?

Havia um certo estigma – e, para mim, um estigma injusto – em relação à liderança de Pedro Passos Coelho. O tempo vai dar-lhe razão, a história fará justiça à sua governação. 

A vida política dele acabou?

Não! Agora fará um intervalo. Quem está envolvido na política nunca acaba a carreira política.

Votaria nele para Presidente da República?

Obviamente que sim. Convictamente. 

No primeiro discurso de Rui Rio ao congresso, falou-se na importância das autárquicas. Com a sua experiência como dirigente distrital [no Porto], como vê a necessidade de preparar autárquicas à distância depois dos maus resultados de 2017?

Rui Rio tem toda a razão em pôr agora as autárquicas na ordem do dia. A implementação local do partido é que dá lastro para mais facilmente ganharmos eleições nacionais. 

Mas seguindo esse raciocínio não será mais difícil ganhar as eleições nacionais de 2019 depois da derrota autárquica do ano passado…?

Eu percebo a sua pergunta. Mas você também ouviu o discurso de Rui Rio. Não era um discurso que quisesse alterar ou esquecer o passado. Era um discurso virado para construir futuro. As conjunturas mudam muito rapidamente. É difícil combater os populismos deste governo, ninguém esconde isso. 

Mas o populismo não vai embora tão cedo, ou vai?

O populismo deste governo não vai acabar, não (risos), mesmo que este governo acabe, os populistas não deixam de existir. São adversários difíceis, claro. Mas não é da tradição deste partido desistir… E é por isso que lhe digo que as autárquicas serão uma prioridade número 1. Não são o tipo de eleições a preparar em um ano ou dois anos. Quando isso acontece, as opções não são as melhores, nomeadamente ao nível dos candidatos que vão substituir os presidentes em exercício. O partido tem tido dificuldades nesse aspeto. A diminuição do nosso número de Câmaras teve muito a ver com isso: não soubemos gerir sucessões. Não se pode voltar a esquecer esse trabalho de casa. 

Passos Coelho chegou a falar da “indisponibilidade” de alguns quadros para serem candidatos autárquicos. Porque acha que isso aconteceu?

Não acho que tenha sido bem assim. Houve alguns processos naturalmente complicados e o partido como um todo não fez o seu trabalho de casa, como lhe disse há pouco. Não é obviamente a seis meses das eleições que se convencem esses militantes a encabeçarem candidaturas… Para mim, a responsabilidade foi de todos: não é só das concelhias, das distritais ou da Comissão Política Nacional. Não se preparam soluções no final do terceiro mandato de quem está prestes a alcançar o limite de mandatos, tem de se começar a preparar logo no final do segundo. Ter uma estratégia concreta. Dar visibilidade com antecedência aos putativos candidatos para as pessoas saberem com o que contam quando chegar o ano eleitoral. Por isso é que faz todo o sentido que o novo presidente fale já das próximas eleições autárquicas. 

Falar já disso significa que se tenciona ficar independentemente do resultado das legislativas, que são bem antes?

Não… Aquilo que se tenciona fazer é isto: ganhar as legislativas ao Partido Socialista. Todos os cenários para além desse não interessam. O plano A é ganhar, o plano B é ganhar e o plano C é ganhar. E não vamos deixar de preparar as autárquicas por isso.