Vacinas – obrigatório não ser ignorante

A vacinação é um caso exemplar de sucesso de intervenção na saúde pública e o Programa Nacional de Vacinação português é um exemplo em todo o mundo. Importa cuidar da manutenção da sua eficácia através do reforço da capacidade do Serviço Nacional de Saúde, da sensibilização pública e do combate à ignorância e ao egoísmo.

O mais recente surto de sarampo ocorrido em Portugal fez regressar diversas questões acerca da vacinação. A eficácia do Programa Nacional de Vacinação, os meios do Serviço Nacional de Saúde para corresponderem às exigências de cobertura adequada da vacinação, mas também a obrigatoriedade da vacinação e até a corrente antivacinas são questões que estão na ordem do dia.

A generalização da vacinação em todo o mundo permitiu avanços determinantes na saúde pública, na diminuição da mortalidade infantil, no controlo de pandemias, na diminuição de doenças e malformações e até na erradicação de doenças do planeta. A varíola é o mais notável caso de sucesso da generalização da vacinação no mundo, tendo sido erradicada. Também o caso do sarampo é um exemplo de sucesso da vacinação, tendo diminuído significativamente o número de mortes provocadas nos últimos anos.

A vacinação permitiu salvar a vida e promover a saúde de muitos milhões de pessoas. Tal evidência é irrefutável e constitui um sucesso da civilização.

Apesar dos benefícios evidentes da vacinação quer para cada individuo quer para a comunidade, tem crescido uma corrente antivacinas que tem provocado a diminuição da taxa de cobertura da vacinação, sendo responsável pelo aumento do número de algumas doenças que se encaminhavam para a erradicação, como é o caso do sarampo.
A corrente antivacinas resulta de um conjunto de posições erradas, egoístas, crendices e até equívocos e tem como consequências sujeitar indivíduos (nomeadamente crianças) a doenças ou à morte, mas, ainda mais grave, colocar em causa a saúde e a sobrevivência de comunidades. O movimento antivacinas constitui um retrocesso civilizacional.

Alguns opositores à vacinação baseiam-se em convicções ‘naturalistas’ que defendem que a administração de produtos químicos é demasiado agressiva para o organismo, chegando ao ponto de afirmarem ser preferível ter a doença a ter a vacina. Ora, tal argumento é estúpido (não encontro outra expressão), pois essas doenças provocam a morte ou incapacidades permanentes. Por outro lado, evitar que uma criança seja vacinada no tempo certo é um ato de negligência.

A oposição à vacina do sarampo é o melhor exemplo de um equívoco sustentado num estudo de um médico americano que apontava a relação entre a vacina e o autismo, mas que se veio a concluir que era fraudulento.

Ainda assim, sabe-se que a vacinação não está isenta de efeitos secundários e que existe alguma toxicidade associada às vacinas. No entanto, estes aspetos negativos estão cientificamente controlados e os benefícios para os indivíduos e para a comunidade são incomensuravelmente superiores aos inconvenientes.

Perante comportamentos que colocam em causa a vida, a saúde e o bem estar da comunidade vale a pena não excluir a obrigatoriedade da vacinação se se verificar a ineficácia de ações de sensibilização para a responsabilidade individual e coletiva que constitui o ato de vacinar. 

Importa não esquecer o papel central dos profissionais de saúde e do Serviço Nacional de Saúde no Programa Nacional de Vacinação. Constrangimentos nos meios dedicados a este Programa colocam em causa a sua eficácia e antes de se pensar em medidas impositivas devem corrigir-se estas limitações.