A candidatura às “Advanced Grants” do Conselho Europeu de Investigação (ERC na sigla em inglês) foi feita em Quioto, onde Elvira Fortunato estava a dar uma palestra. O email a anunciar a bolsa de 3,5 milhões de euros, feito inédito para uma equipa de investigação portuguesa, chegou esta semana, com a investigadora portuguesa desta vez do outro lado do Atlântico, no Arizona, também em trabalho. Há muito que a cientista dá cartas a nível mundial na área da eletrónica, onde surpreendeu com inovações como um transístor de papel. Agora quer revolucionar o universo dos circuitos integrados que vão alimentar, nos próximos anos, tendências como a “internet das coisas”, em que qualquer objeto permitirá fazer chamadas ou aceder à world wide web.
Aos 53 anos, o novo reconhecimento é motivo de muita alegria, diz ao i a investigadora, que traça como objetivo continuar a estar na “champions league” nesta área. As verbas vão permitir sobretudo dar asas a um sonho: a construção de um novo laboratório de “nanocaracterização”, para o desenvolvimento de novos dispositivos eletrónicos a uma escala infíma. “Sem este financiameto era mais difícil. Em Portugal o financiamento é escasso. Temos tido a sorte de ter estes apoios europeus, esta é a nossa quinta bolsa no departamento, é um caso único no país”, sublinha Elvira Fortunato, professora Catedrática da Faculdade de Ciências e Tecnologia (NOVA), Vice-Reitora da NOVA e directora do Centro de Investigação de Materiais do Laboratório Associado i3N.
O projeto que traz para Portugal a bolsa de topo do ERC intitula-se “Multifunctional Digital Materials Platform for Smart Integrated Applications | DIGISMART” e pretende allterar a forma como se fabricam os atuais circuitos de gadjets como telemóveis, pondo de lado o silício e explorando materiais mais amigos do ambiente como óxidos metálicos como zinco.
Das 13 Advanced Grants atribuídas a Portugal, esta é a segunda conquistada por Elvira Fortunato e representa o maior financiamento do ERC atribuído ao longo destes dez anos a Portugal, revelou a universidade. Em 2008, na primeira edição destas bolsas avançadas, a investigadora já tinha sido contemplada com uma bolsa de 2,25 milhões, o que permitiu a construção do primeiro laboratório de nanofabricação no campus da Faculdade de Ciências e Tecnologia da NOVA, na Caparica.
No ano passado, vieram parar a Portugal duas bolsas avançadas, cinco bolsas para investigadores em iníco de carreira e oito bolsas de consolidação. Desde 2007, o Conselho Europeu de Investigação apoiou mais de 7000 projetos nos diferentes estados membros, entre mais de 65 mil candidaturas. Portugal soma 84 projetos financiados, sendo que doze receberam bolsas avançadas. Alguns são liderados por investigadores portugueses, outros por cientistas estrangeiros radicados no país. A maioria (41) foram as chamadas “starting grants”, que podem atingir 1,5 milhões. No caso das “advanced grants”, o valor máximo padrão são 2,5 milhões de euros, mas execionalmente pode ser alargado até aos 3,5 milhões. Foi o que aconteceu desta vez.