O poder das sociedades saudáveis e produtivas

«Por dia, morrem quase 200 pessoas por doença cardiovascular em Portugal. É como se caísse um avião todos os dias».

Não faltam estudos para nos ajudarem a  encontrar razões para perceber o que verdadeiramente é determinante para que uns países sejam mais ricos e outros mais pobres. Com base em variáveis tão dispares, como as de natureza social, cultural, religiosa, política, territorial, etc. Estudos, livros, a partir de casos concretos comparados, onde várias ciências e saberes, como a história, a geografia – de entre outras -, nos permitem conhecer o que pela positiva e pela negativa é determinante para o ranking da chamada ‘Riqueza das Nações’.

A saúde, no seu todo, como variável que compreende não só a esfera individual, como também a esfera estatal e cada vez mais também a profissional e a implicitamente empresarial, tem vindo a assumir preponderância, enquanto área relevante ao nível das políticas públicas, no que diz respeito à sua importância no desempenho económico, positivo ou negativo. Num mundo aberto, onde a concorrência é grande, sobretudo social e economicamente.

Têm sido vários os países que têm vindo a fazer novas abordagens em relação a estas matérias. 

Quem, por exemplo, não tem presente o que a Administração Obama fez ao nível da implementação de uma política pública para a educação nos hábitos alimentares (advogando novos hábitos alimentares, por exemplo, como a adoção da dieta mediterrânica). 

Quem não tem acompanhado o que o Estado japonês tem vindo a fazer na relação com as pessoas e as empresas do país para combater o excesso de peso e a obesidade, enquanto doenças a debelar (com o reforço do consumo de legumes, peixe, etc.)?

Exemplos também os temos na Europa. A propósito desta doença, a chamada ‘globesidade’, que tem vindo a assumir-se no mundo como uma espécie de guerra que a humanidade tem deixado que cresça debaixo dos seus narizes. Porque vivemos uma espécie de ilusão. Vivemos mais tempo, mais anos, a esperança de vida dos homens e das mulheres é maior, mas tal não significa que se viva sempre bem e melhor. Estudos recentes previram que provavelmente um em cada dois europeus que venham a  nascer nas próximas três décadas irão desenvolver um determinado tipo de cancro. A ser assim, estaremos a referir-nos a quase metade da população europeia (em Portugal, em termos médios, têm aparecido quase 47 mil cancros por ano).

No século XX, o paradigma da saúde baseava-se essencialmente no tratamento dos doentes. Enquanto agora, no século XXI, o paradigma é outro: colocar em primeiro lugar quer a prevenção dos eventuais futuros doentes e também o de ‘aprimorar  os saudáveis’. E  logo a seguir as demais áreas da política de saúde. Neste quadro, assume especial importância o poder das sociedades saudáveis e consequentemente produtivas. Onde a prevenção assume um lugar de destaque. Porquanto os países, as sociedades e as pessoas, com menos saúde são mais pobres, menos produtivas e menos criadoras de riqueza e de emprego.

As sociedades mais produtivas e ricas e de mais e melhor emprego são as mais saudáveis. E têm efeitos estruturantes na sua atratividade, competitividade, no seu crescimento.

A saúde reflete-se cada vez mais no desempenho económico das empresas, dos países e das pessoas. A saúde já não é só um direito. É muito mais do que isso. Daí a importância das empresas adotarem boas práticas, para melhorarem a saúde dos seus trabalhadores e colaboradores. Não só ao nível da medicina do trabalho, como também em outras áreas conexas. Um dos exemplos da necessidade de intervenção, à escala mundial, é o já referido exemplo da obesidade.  Atualmente, estima-se que em cada três adultos no mundo um deles sofre de obesidade ou está perto disso, porque tem excesso de peso. E tal tem reflexos negativos muito significativos. Tira assim anos à esperança média de vida. Estimam-se em cerca de 2,3 mil milhões de pessoas, em todos os continentes, as que têm excesso de peso e que na maioria dos casos são consideradas obesas. O país líder do ranking dos ‘excessivamente gordos’ é os EUA, com cerca de 90 milhões. Os indicadores são muito preocupantes. Nos últimos anos, a tendência agravou-se mais entre os jovens do que entre os adultos.  Subiu quase 49% entre os mais jovens e 27% entre os adultos. É uma tendência da última década. Os EUA sozinhos têm mais obesos do que a Índia e a  China em conjunto. Existem países no mundo em que a maioria das mulheres são muito obesas (sobretudo em países do Médio Oriente).

A OMS (Organização Mundial de Saúde) reconhece que, biologicamente, o sexo feminino tem mais tendência para o excesso de peso e de obesidade. Aliás, como já aqui se referiu anteriormente, a cultura ocidental exerce mais pressão sobre as mulheres para não engordarem do que sobre os homens. Os mais pobres e com menos rendimentos são quem mais tem a tendência para a obesidade, devido sobretudo a não priorizarem a saúde nas suas vidas e até por não terem acesso à educação para hábitos alimentares saudáveis.

Todos os anos morrem milhões de pessoas no mundo devido a obesidade. 

Portugal não foge a esta tendência. 

Sobretudo nos jovens (quase 30% nos rapazes e 27% nas raparigas). Quase 65% dos homens têm excesso de peso e 55% das mulheres também o têm. 

Aqui está um exemplo de uma prioridade para o nosso pais assumir ao nível das políticas públicas – o poder dos países e das sociedades saudáveis e produtivas é desafiante para os seus povos.

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