Centeno e os cortes na Saúde

Senhor ministro, solte lá os 22 milhões de euros para as obras do Hospital de S. João, porque todos merecemos ter os nossos filhos tratados condignamente.

Este tema de existirem crianças a serem tratadas de forma «miserável» (expressão que ouvi de responsável) no Hospital de S. João no Porto, veio trazer à ribalta o tema das verbas sucessivamente retidas pelo Ministério das Finanças, neste caso de 22 milhões de euros. São algumas crianças a receber quimioterapia no corredor, Sr. ministro! Crianças ou adultos, é inadmissível, Sr. ministro! 
Depois de um artigo pragmático publicado esta semana no Público em que predominou, a meu ver, a vertente técnica sobre a vertente de político e falando sobre futuro, Centeno (antes ministro, hoje também presidente do Eurogrupo) veio dar uma esperança àqueles que, como eu, acham que as palavras são sempre bonitas mas acreditam que os atos são mais importantes. O futuro é uma incógnita e Portugal com a atual dívida pública tem uma bomba relógio nas mãos. Por isso nos congratulámos com a promessa de um rigor e, sobretudo, com contenções salariais depois de três anos de distribuições eleitoralistas. 

O Bloco saltou de imediato como tinha de fazer para a sua direção afirmar ao seu eleitorado que não está refém do Governo, mas a realidade é que este Centeno felizmente que começou a meter os pés na terra! Qualquer mexida internacional nas taxas de juro, como se perspetiva num prazo mais ou menos curto, e Portugal leva um rombo. Centeno (presidente do Eurogrupo) sabe isso muito bem e quer proteger o país, como é sua obrigação. 

Mas numa semana em que tem tão grande início, com um artigo tecnicamente muito bom, escusava de ‘borrar a pintura’ a dizer que não há cativações no SNS. Então, Sr. ministro, sejam cativações ou retenções, explique lá isso às farmacêuticas com atrasos brutais nos recebimentos ou aos serviços de recursos humanos hospitalares com processos de recrutamento parados ou, neste caso do S. João, com obras aprovadas há meses, existindo verbas disponíveis mas que não aparecem para as obras urgentes. Solte lá os 22 milhões de euros, porque todos merecemos ter os nossos filhos tratados condignamente. 

PS. Sobre as obrigações das SAD e suas generosas taxas de juro, acho que a razão se tem de sobrepor à paixão e a CMVM tem de ajudar nisto, esclarecendo os ávidos de ganhos fáceis para não se surpreenderem com futuros (e atuais) anúncios de possíveis incumprimentos. A economia não mete golos mas pode sofrer goleadas quando se mistura com a paixão. Como sucede com todas as paixões, quanto maiores estas forem, virá sempre o momento dos maiores desgostos (seja por roturas ou falecimentos). No futebol como na banca, podem existir incumprimentos e lá diz o povo «quando a esmola é grande o pobre desconfia».