PS: recuperar Tony Blair e vender a mãe

No longo prazo, a reviravolta centrista de Costa e Santos Silva prejudica o PS. As razões da morte dos socialistas europeus são conhecidas

E u ainda sou do tempo em que se dizia que António Costa era de ‘esquerda’ e António José Seguro de ‘direita’. Foi assim que as tropas de Costa se posicionaram na campanha interna que levou ao afastamento de Seguro da liderança do PS. Cavalgando a onda de um PS mais à esquerda, Costa venceu as primeiras eleições diretas. O povo socialista defendia a reestruturação da dívida, discutia a ortodoxia europeia plasmada no tratado orçamental, bramava contra a troika e a austeridade e a Europa. 

O primeiro congresso de Costa foi uma manif esquerdista. Em junho de 2016, já com a geringonça em movimento, foi um panfleto sobre como os socialistas iam ‘salvar a Europa’. Pedro Silva Pereira, antigo n.º 2 de Sócrates, defendia o Governo Costa como o único «capaz de dar o contributo necessário para salvar o projeto europeu» e atacava a Comissão Europeia. 

João Galamba mostrava que o futuro iria ser luminoso e, claro, de esquerda: «O partido não se chama europeísta, chama-se Partido Socialista (…). É preciso uma liderança que não fique presa ao passado, mas uma que arrisque. Foi isso que fez António Costa».

Ana Catarina Mendes resolvia repetir o mimo com que Costa tinha uma vez atacado Seguro mas para defender Costa: «Quem pensar como a direita acaba a governar como a direita». Carlos César, outro moderado adepto de um bloco central que acabou em protagonista da geringonça, mostrava o pragmatismo da coisa: «O PS reformulou-se nestes quatro anos e reposicionou-se (…). É na melhor interpretação do presente que encontramos o fermento da nossa utilidade». 

Aparentemente, a «melhor interpretação do presente» passou a ser a defesa da Terceira Via de Tony Blair, como disse esta semana Augusto Santos Silva. O problema com esta mudança de discurso é que põe a nu o calculismo gelado de Costa e companhia. Contra Seguro, nada era ideológico, foi tudo para manter o poder. A geringonça serviu para o conquistar – taticismo de curto prazo. 

No longo prazo a reviravolta centrista de Costa prejudica o PS. As razões da morte dos socialistas europeus estão identificadas: ficaram iguais à direita. Qual é hoje a diferença entre Costa e Rio? Nenhuma. É possível que o PS consiga por agora ser bem sucedido, mas eu não queria ser mãe de nenhum alto dirigente do partido: ele vendia-me.