O Zuckerberg quer casar pessoas

A Vanessa entusiasmou-se agora com esta nova ideia do Zuckerberg de tapar lá o escândalo do Cambridge Analytica com um novo Tinder, agora para supostos ‘relacionamentos significativos’. Isto assusta-me. É que a Vanessa já casou três vezes.

Vanessa casou três vezes. Quem já conhece a personagem sabe mais ou menos como os factos se processaram: primeiro, foi com o Júlio, com quem se enrolou, se não me engano, numa Festa do Avante! quando ainda era muito nova, quando saiu da faculdade. Alugaram uma casa minúscula e eu ainda cheguei a viver com eles. Tiveram o Bernardo, o primeiro dos três filhos da Vanessa. 

Depois decidiram separar-se por causa de um esquentador que não funcionava. Quer dizer, o esquentador foi a gota d’água. As gotas d’água que decidem os divórcios costumam ter este tipo de grandiosidade. Pouco tempo a seguir a divorciar-se do Júlio, a Vanessa casou com o João, coisa que me irritou um bocadinho porque tinha sido eu a combinar sair com o João e ela apareceu estupidamente. Passei por aquela humilhação do meu ‘date’ se ter enrolado com a minha melhor amiga, mas paciência. Uns tempos depois, não contentes com a maneira como aquilo tinha começado, decidiram redobrar a humilhação convidando-me para madrinha. Era uma época em que éramos ensinadas a esconder os nossos verdadeiros sentimentos – se ser madrinha era dobrar a humilhação, recusar e dar o flanco iria transformar-se numa humilhação a triplicar. E então aceitei. Calar e comer, não me restava mais nada. 

Por acaso, lembro-me perfeitamente do dia do casamento da Vanessa com o João. Achei que a melhor maneira de me ir esquecendo da dupla humilhação era emborcar uns gins. Na altura eu era nova, tinha resistência suficiente para gins e ainda maior resistência a humilhações. Estava no bar a sacar mais um copo de gin (naquele tempo era só gin, gelo e limão, uma cena simples) quando o João se aproxima de mim e diz:

– Já viste que se naquela noite a Vanessa não tivesse ido ter connosco, sabe-se lá se não éramos nós os dois a casar! 
A besta disse isto com um olhar complacente, o mais mortífero olhares. Sem querer, entornei-lhe o meu gin em cima do fato de noivo e não tive que responder. 

Algum tempo depois da Vanessa casar com o João, nasceu o Joãozinho. Algum tempo depois do Joãozinho nascer, a Vanessa apaixonou-se pelo Zé, um dos melhores amigos do marido. Foi chato.

Nunca me passou pela cabeça que a Vanessa quisesse casar pela terceira vez. Mas ela quis. Como os pais tinham-se recusado a pagar um terceiro casamento (e foi com má-vontade que ainda se atravessaram pelo segundo), ela fez uma feijoada. Aliás, o Zé fez a feijoada. Era também uma homenagem à forma como se conheceram: se o Zé não convidasse o João para as suas especialíssimas feijoadas, aquele casal nunca se teria encontrado. 

Quando eu já pensava que a Vanessa tinha desistido de cenas estáveis e restringido a sua vida amorosa a coisas com menos compromissos metidos ao barulho, ela disse-me ontem:

– Estou a pensar em arranjar uma relação séria. Lembrei-me agora disso por causa do Zuckerberg. Ele vai agora criar uma coisa tipo Tinder, lá no Facebook, para ‘relacionamentos significativos’ e eu acho que vou alinhar.

– ‘Relacionamentos significativos’????

– O gajo diz que só quer coisas sérias. Não é como o Tinder, cenas de uma noite. 

– Coisas sérias no Facebook?? Coisas sérias como o Cambridge Analytica? 

– Oh pá, não sejas chata.

Zuckerberg tentava tapar o escândalo com algo mais do que sexo. Zuckerberg queria agora casar as pessoas.

Zuckerberg propaga os valores da família como se fosse um padre católico.

– Eu cá vou alinhar, respondeu-me a Vanessa. 
Por mim, já decidi: num casamento abençoado por Zuckerberg não ponho os pés. O consumo de gin estará certamente a ser vigiado.