Sporting. Quem vai entregar a taça?

Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, decidiu não marcar presença na final da taça de Portugal. Marcelo está a ponderar, mas António Costa vai com ‘muito gosto’. 

Marcelo Rebelo de Sousa não sabe se vai. Ferro Rodrigues já decidiu não marcar presença. António Costa estará com «muito gosto», mas não deixou de alertar que é preciso perceber «como as coisas correm». As mais altas figuras do Estado estão a avaliar se existem condições para assistir à final da taça de Portugal.

O Presidente da República, a quem cabe entregar o troféu à equipa vencedora, não quis garantir a sua presença e só o deverá revelar no dia do jogo. «A final é só no domingo», disse o chefe de Estado, a meio da semana. Marcelo admitiu que se sente «vexado pela imagem projetada por Portugal no mundo».

Em condições normais, Marcelo assistiria ao jogo a partir da tribuna de honra do Estádio Nacional, mas poderá ser encontrada outra solução. Belém está a ponderar várias hipóteses e uma delas pode passar por não se sentar ao lado de Bruno de Carvalho. É também preciso que estejam garantidas todas as condições de segurança e essa avaliação será feita até ao último minuto.

O presidente da Assembleia da República ainda ponderou qual seria a melhor solução, mas durante a tarde de ontem decidiu não ir ao Jamor. O Presidente da República e o primeiro-ministro foram informados que Ferro Rodrigues não vai porque considera que «o jogo não se poderia realizar como se nada tivesse acontecido».

Sportinguista ferrenho, em condições normais Ferro, que é sócio do clube há 68 anos e pertenceu ao Conselho Leonino, não faltaria. Mas a situação está longe da normalidade. Na quarta-feira o presidente da Assembleia condenou «o ódio, o fanatismo e a corrupção no futebol português», e apelou a que se «investiguem os dirigentes desportivos e aqueles que fazem do futebol português esta desgraça». Bruno de Carvalho sentiu-se atingido e ameaçou processá-lo. «Não posso aceitar que a segunda figura do Estado tenha sido mais taxativo e belicista, fazendo-me uma crítica violentíssima, não tendo a mínima noção do cargo que ocupa e da sua condição de sócio do Sporting Clube de Portugal. Será por isso um dos primeiros visados nas ações cíveis que vou mover, até pela posição relevante que ocupa na sociedade», afirmou o presidente do Sporting, numa nota enviada à agência Lusa. Em resposta, Carlos César, líder do grupo parlamentar do PS, disse apenas que «estamos numa fase em que, muito sinceramente, já interessa muito pouco o que o presidente do Sporting diz».

O primeiro-ministro também foi duro nas palavras que utilizou para condenar os acontecimentos no Sporting. Avisou que o desporto não pode ser «uma forma de promoção da selvajaria» e que é preciso acabar com «uma infiltração grande no mundo do futebol de comportamentos que são inaceitáveis». Ainda assim, Costa garantiu que assistirá ao jogo com «muito gosto».

Segundo o protocolo, cabe ao Presidente da República entregar a taça. Caso este não esteja presente, o troféu será entregue pelo presidente da Assembleia da República. Se nenhum dos dois assistir ao desafio essa tarefa será desempenhada pelo primeiro-ministro.

Governo quer avançar com autoridade contra a violência 

Nenhum dos partidos ficou indiferente aos acontecimentos que incendiaram o futebol português. O primeiro-ministro admitiu avançar com a criação de uma autoridade nacional contra a violência no desporto. «É, sobretudo, essencial que haja uma autoridade que não permita que, ao longo das épocas, se vá criando um clima que gera estes fenómenos». 

O PSD não discorda. Rui Rio espera que exista coragem para avançar com medidas que «invertam tudo isto» e deu o exemplo de Inglaterra, onde as claques foram proibidas. «No caso de Inglaterra levou à proibição. Se tem de levar à proibição ou não deve ser estudado». Já Pacheco Pereira, na Quadratura do Círculo, disse que considerava a ideia uma «patetice».

Também o CDS se mostrou contra a ideia de criar uma autoridade. Pela voz de João Almeida, o partido defendeu que «é preciso perceber porque é que em Portugal, existindo as mesmas leis que noutros países, não há interdição dos adeptos entrarem no estádio em número relevante. Não há interdições dos jogos, não há jogos à porta fechada». O PCP também condenou «as manifestações de violência». Para os comunistas «mais do que nova legislação, o que se impõe é o cumprimento efetivo da legislação já hoje existente relativa à violência no desporto e ao combate à atividade criminosa». O Bloco de Esquerda mostrou-se disponível para «reavaliar a legislação em vigor e, se necessário, estudar novas medidas de combate à violência no futebol e novos instrumentos de responsabilização dos vários agentes desportivos».