Polémica em curso de chefes da PSP

Candidatos queixam-se de avaliação pouco transparente e de clima de facilitismo. PSP já assumiu erro na correção do teste escrito e lançou segunda pauta, mas descarta anular a prova

O concurso de admissão ao curso de formação de chefes da PSP está envolto em polémica e o SOL sabe que já foram feitas queixas a pôr em causa a justiça de todo o processo. Tudo começou quando após a saída das notas da prova escritas se ter verificado um grande número de negativas. Nas páginas de Facebook alguns candidatos manifestaram a sua surpresa com as notas e poucas horas depois acabou por sair uma nova pauta, com um número substancialmente superior de positivas – quase o dobro. Mas esse não é o único erro apontados pelos candidatos à forma como as provas decorreram: há reclamações por desconformidades nas folhas de teste e ainda quem refira um clima de facilitismo dentro de algumas salas. No total, são cerca de 200 as vagas, e com a nova pauta houve naturalmente diversas mudanças quanto à posição das centenas de candidatos.

Contactada, a PSP confirmou ao SOL ter sido feita uma primeira correção errada de uma das versões do teste escrito, mas afasta que tal erro tenha criado injustiças aos candidatos. «Para cada prova ( conhecimentos profissionais e cultura geral) são elaboradas duas versões dos testes (A e B), diferindo apenas a ordem das questões; No caso da versão B da prova de conhecimentos profissionais, aquando da aplicação da chave de correção, verificou-se um erro na parametrização do programa, uma vez que não foi selecionada a opção ‘alteração da ordem das perguntas’, levando a que no sistema não houvesse coincidência entre as perguntas e as respostas corretas da respetiva chave, o que conduziu a uma classificação errada dos testes», esclarece fonte oficial, garantindo que não existe em todo o processo «intervenção humana relevante». 

Correção antes das reclamações

Segundo a PSP tudo foi corrigido antes de qualquer reclamação formal, mas ao SOL um dos candidatos, que preferiu não se identificar por ainda estar a recorrer da sua nota, garante que a nova pauta saiu quando nas redes sociais já corria o descontentamento de alguns candidatos com as notas.

Quanto ao erro na correção, a PSP diz entender o desconforto gerado, mas deixa claro que não vai repetir a avaliação: «É compreensível que a alteração das notas e consequentemente dos candidatos aprovados e não aprovados, possa ter gerado uma situação de desconforto, o que nunca se desejou e se lamenta, mas não poderia deixar-se de corrigir o erro e repor a verdade das notas e a justiça para aqueles candidatos que efetivamente e por mérito próprio haviam superado realmente as provas».

Mas as reclamações continuam mesmo com a saída das novas pautas. Segundo algumas fontes esclareceram ao SOL, a correção fez com que todos os que tinham negativa subissem a sua classificação, não havendo situações de elementos que tivessem descido com a aplicação da grelha correta de avaliação do teste B.

Em relação às queixas que ainda persistem, a PSP lembra que «os candidatos têm o direito de participação e reclamação para o Júri, de recurso para outras entidades, e de consulta da documentação nos termos das disposições legais que regem o concurso». 

Provas Sem anonimato

Além da polémica em torno das notas erradas, há candidatos que se queixam da falta de transparência na avaliação, referindo que não foi garantido o anonimato para efeitos de avaliação, uma vez que os nomes dos candidatos constavam na folha de teste, ou seja, o cabeçalho não era destacável – sistema em que o teste é apenas identificado através de um número. 

Além disso, sempre que um aluno queria alterar uma resposta tinha de o fazer no verso e assinar tal resposta adicional – outra prática que impossibilita o anonimato.

As queixas dão ainda conta de que em determinadas salas, os candidatos terão sido tratados com algum facilitismo, mas a PSP recusa ter conhecimento de que em alguma situação tenha existido qualquer apoio aos alunos durante a realização da prova.

«A PSP recusa a existência de qualquer clima de facilitismo, bem como lamenta que se queira criar um clima de suspeição que não corresponde à verdade», afirma fonte oficial, acrescentando que «as regras da realização das provas são conhecidas de todos os candidatos» e que «em todas as salas existiram sempre e em permanência mais do que um supervisor/fiscalizador de provas, com um código de conduta e de procedimentos rigoroso para o que foram prévia e devidamente instruídos». Conclui dizendo que não foram «relatadas irregularidades» e que por isso não vai anular a prova escrita. Neste concurso, além das provas escritas, os candidatos têm de realizar ainda provas físicas.

Contactado o presidente da Organização Sindical dos Polícias, Jorge Rufino confirmou ter recebido reclamações por parte de associados, adiantando que nesse seguimento enviou um ofício para a Direção Nacional da PSP a 17 de março, não tendo ainda obtido qualquer resposta.

O SOL contactou ontem ao final da tarde o Ministério da Administração Interna, que não conseguiu até à hora de fecho.