Do carrinho do Barril ao mar da Vagueira

Chegou o Verão. Este ano o tempo anda esquisito, mas a seally season não.  Se o Verão entrou a meio gás, a seally season veio em força, e promete estar no seu melhor. Há dois anos, uma das imagens que correu país nas redes sociais – para não dizer que correu mundo, sob pena de…

Chegou o Verão. Este ano o tempo anda esquisito, mas a seally season não. 

Se o Verão entrou a meio gás, a seally season veio em força, e promete estar no seu melhor.

Há dois anos, uma das imagens que correu país nas redes sociais – para não dizer que correu mundo, sob pena de exagerar – foi a de um vendedor de bolas de Berlim na praia a ser multado por um fiscal por não passar fatura nem registar as vendas. Como se diz nas redes sociais, lol ou . Pelo ridículo. Absurdo.

Em matéria de bolas de Berlim e de praias, anos antes, já tinha havido a guerra das bolas com creme e sem creme e os perigos para a saúde dos banhistas ou consumidores de bolas com creme. Salmonelas diziam eles. E os desgraçados dos vendedores é que se tramaram.

No ano passado, a grande novidade foi o lançamento de uma app que permitia encomendar bolas de Berlim online. Essa, sim, uma boa notícia, embora tivesse de haver rede na praia e um vendedor arregimentado nas redondezas.

Este ano, a notícia é que o sr. Joaquim Guerreiro vai ter de se modernizar e dar a volta ao texto ou está tramado.

Quem é o sr. Joaquim? É o protagonista de uma das histórias que prometem marcar este verão nas redes sociais… e não só.

O sr. Joaquim há décadas que vende bolas de berlim na Praia do Barril, em Tavira.

É um ícone dali. Tal como o comboio que liga a praia ao aldeamento de Pedras d’ El Rey ou o cemitério de âncoras nas dunas à entrada da dita.

As bolas de Berlim que o sr. Joaquim vende não têm creme e são uma delícia. Fofinhas, porque sempre frescas, já que se esgotam todos os dias e várias vezes ao dia.

O sr. Joaquim percorre a praia do Barril de uma ponta à outra com um carrinho original, movido à força dos braços que o empurram ou puxam e o fazem deslizar pela areia. Tem chapéu de sol, para fazer sombra ao vendedor e à caixa estanque que conserva os bolos à temperatura ideal e umas rodas gigantescas e de plástico para deslizarem facilmente na areia sem se enterrarem nem obrigarem a grande esforço. Está bem pensado. As rodas já foram pretas, laranjas e agora são amarelas, e dão um ar mais engraçado ao carrinho. Há ainda a célebre campainha, daquelas das bicicletas antigas (já foi em tempos uma buzina), cujo toque substitui o pregão próprio dos vendedores de bolas de Berlim como dos de gelados, línguas da sogra, bolacha americana, batata frita ou refrigerantes.

Ora, este ano, alguém se lembrou que o sr. Joaquim Guerreiro não tem licença para circular com o carrinho na praia.

Pois é, foi proibido. Não há bolas de Berlim do sr. Joaquim para ninguém. Ou há, porventura, se entretanto o sr. Joaquim se adaptar aos novos tempos e a estes novos critérios sem critério. Veremos.

Uma coisa é certa, o carrinho, para já e até ver, está impedido de circular.

Diz que faz mal ao ambiente. Lol. . Absurdo. Ridículo.

Mal ao ambiente faz não cuidar dos areais e das falésias e das dunas e ver o mar galgar terreno todos os anos. De norte a sul do país.

Um dos exemplos mais tristes é o da praia da Vagueira, a seguir à Barra e à Costa Nova, no distrito de Aveiro.

Que vale a pena visitar. É impressionante como o extenso areal e as dunas que duraram até ao final dos anos setenta do século passado desapareceram por completo, por completo mesmo – da frente de mar propriamente dita, na praia-mar não sobra um palmo de praia, nem um simples metro de areia, nadinha.

Uma praia que rivalizava com a da Figueira da Foz ou a de Mira, pela extensão imensa do seu areal, e cujas dunas, enormes, eram um verdadeiro ex libris, simplesmente foi-se.

E agora, que a construção em plenas dunas e areal foi por aí fora, resta um gigantesco muro a fazer de paredão para evitar que o mar devolva à natureza o que o homem lhe roubou. Um escândalo.

Importam-se eles com o carrinho do sr. Joaquim que tanta pequenada – e também tantos graúdos – alimentou (relevem lá o açúcar, que os fundamentalismos nunca fizeram bem a ninguém) e esquecem-se do fundamental.

Que tristeza!!!

Entretanto, Pedro Santana Lopes anunciou que a sua relação com o PPD/PSD «acabou mesmo». Volta a pairar o PSL, de Partido Social Liberal. Ou, se calhar, uma candidatura presidencial. 

E é Verão e chove, !