Refugiados, entre o populismo e o humanismo

A resposta para o drama dos refugiados não se encerra no acolhimento. Precisa de ir mais longe, na união e na solidariedade

O acolhimento de refugiados é um dever. Uma atitude natural de uma sociedade civilizada fundada em valores do humanismo cristão. A Europa foi construída com base em valores de respeito, tolerância e solidariedade. A negação de ajuda a quem precisa coloca em causa a sobrevivência da Europa enquanto espaço de respeito pelos direitos humanos.
As recentes notícias sobre o tratamento dado aos refugiados nos Estados Unidos da América são repugnantes e não podem deixar-nos indiferentes. Mas os EUA não são a Europa. E neste sentido ganha particular pertinência a afirmação do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa que afirmou ao presidente americano que Portugal – país europeu – é diferente dos Estados Unidos.

Sobre o comportamento dos Estados Unidos da América em relação aos refugiados, a origem do país – fundado por emigrantes – deveria ditar uma atitude de respeito pelos fundadores ascendentes.

Mas a atitude da Europa no âmbito da União Europeia é ainda mais grave. A União Europeia foi fundada com o sentido da tolerância, defesa dos direitos humanos e promoção da solidariedade. As instituições e estados europeus indignaram-se primeiro e comprometeram-se depois com a situação dos refugiados prometendo acolhimento. Proclamaram princípios, criaram expectativas e não têm cumprido.

O preconceito, o individualismo e o egoísmo são sentimentos que toldam o bom senso e evitam que nos coloquemos no lugar do outro. Um refugiado é alguém que perdeu quase tudo: perdeu a casa, os bens, a família, a pátria. Um refugiado é um ser humano a quem resta a vida e a tentativa desesperada de não perder a dignidade. O que seria, para cada um de nós, perder o chão?

A demagogia populista de acenar com os perigos da receção de emigrantes tem de ser enfrentada com a coragem de afirmar e ser consequente com os valores de solidariedade que proclamamos e que são fundadores da nossa identidade. A Europa será tanto mais forte quanto conseguir distinguir-se de outras regiões e de outros povos não os rejeitando, não os temendo, mas afirmando-se como espaço de acolhimento, paz e segurança.

Portugal tem uma vasta história de migrações ao longo da sua história. A experiência bem-sucedida dos portugueses que foram acolhidos e que souberam acolher em vários momentos da sua história deve servir de incentivo a sermos exemplares no contexto europeu em relação à disponibilidade para acolhermos quem pede e precisa de ajuda.

Alguém que foge da guerra, com fome, sujeito à exploração e a diferentes formas de abuso e procura refugio para si e para os seus colocando em risco a própria vida é alguém que merece a nossa solidariedade, compaixão e ação.
A capacidade de nos colocarmos no lugar do outro e a resposta solidária de ajudar partilhando o nosso espaço deve ser a resposta bastante para o individualismo e para o egoísmo.

A resposta para o drama dos refugiados não se encerra no acolhimento. Mas esta é a resposta urgente e imediata. Depois precisa de ir mais longe, mas mantém-se na união e na solidariedade. Esta é a atitude que reforçará a capacidade de alargarmos a outras partes do mundo uma cultura de tolerância e respeito pelos direitos humanos.