José Manuel Tengarrinha, o histórico combatente da ditadura

Quando acontece o 25 de Abril, José Manuel Tengarrinha está preso no Forte de Caxias, em incomunicabilidade total

Combatente da ditadura, deputado constituinte e historiador. José Manuel Tengarrinha transformou o movimento de oposição à ditadura MDP-CDE em partido político, em 1974, no tempo em que a organização era um satélite do PCP. Foi também ele que decidiu, na segunda metade dos anos 80, a rutura com os comunistas. Uma das referências históricas da esquerda morreu no passado fim de semana, aos 86 anos, na sua casa de São João do Estoril.

Nascido em Portimão a 12 de abril de 1932, retomaria a atividade militante partidário – depois de muitos anos de ausência da vida política – em dezembro de 2015 tornando-se membro da Assembleia do Partido Livre. O MDP-CDE, de que Tengarrinha era líder histórico, tinha sido dissolvido em 1994, depois dos desaires eleitorais de 1987, 1989 e 1993. Nas legislativas de 1987, o MDP/CDE, já divorciado do PCP, concorreu em listas próprias à Assembleia da República e só obteve 0,49% dos votos. Em 1989, candidatou António Victorino de Almeida ao Parlamento Europeu, conseguindo apenas 1,37%. As autárquicas de 1993 – apenas 1386 votos – ditaram o fim do partido.

José Manuel Tengarrinha ainda era adolescente, estudante do ensino secundário no liceu de Faro, quando começou a atividade política, no MUD-juvenil, a organização de jovens combatentes da ditadura, a que pertenceu Mário Soares e muitos históricos do Partido Comunista. Foi preso várias vezes pela PIDE e vítima da tortura do sono na prisão de 1961. 
Esteve em todas as lutas contra a ditadura e nas eleições a que a Oposição Democrática se candidatou. O Movimento Democrático Português/Comissão Democrática Eleitoral é fundado em 1969 para concorrer às eleições para a Assembleia Nacional que a ditadura organizava. 

Expulso do ensino secundário e impedido de realizar a sua atividade de jornalista (entrou em 1953 para o jornal República) pela censura em 1962, Tengarrinha sobreviveu graças a uma bolsa da Gulbenkian que lhe permitiu realizar a investigação que iria culminar na primeira História da Imprensa Periódica Portuguesa, publicada logo em 1965 e depois em 1989. 

Quando acontece o 25 de Abril, José Manuel Tengarrinha está preso no Forte de Caxias, em incomunicabilidade total. É um dos que foi libertado a 27 de abril – o programa de operações do golpe do 25 de Abril não contemplava a libertação dos presos. É integrado como professor da Faculdade de Letras em outubro de 1974. Doutorou-se em 1993.

Eleito deputado à Assembleia Constituinte, José Manuel Tengarrinha viveu entre o mundo da política e o da academia. Há dois anos e meio quis regressar à política.