Touradas e totalitarismos

A recente iniciativa para impor a proibição das touradas corresponde à tentativa de impor uma ideologia e foi, a bem da liberdade e da democracia, recusada. O PAN – Pessoas, animais e natureza não esconde a sua filosofia – o animalismo – que defende a equivalência entre animais (humanos ou não). Em democracia, a liberdade…

A recente iniciativa para impor a proibição das touradas corresponde à tentativa de impor uma ideologia e foi, a bem da liberdade e da democracia, recusada.

O PAN – Pessoas, animais e natureza não esconde a sua filosofia – o animalismo – que defende a equivalência entre animais (humanos ou não). Em democracia, a liberdade e a tolerância permitem a defesa deste ponto de vista.

Mas as propostas para a proibição de corridas de touros, primeiro na Assembleia da República e depois na Assembleia Municipal de Lisboa revelaram a tentativa de impor uma ideologia. À boleia de uma cândida defesa dos animais, o PAN procurou decretar o “animalismo” para todos os portugueses. A imposição de ideologias traduz-se num totalitarismo que é incompatível com a democracia.

A visão minoritária do PAN, travestida de uma alegada ética de respeito pelos animais, reivindica uma inaceitável superioridade moral e arroga-se no direito de determinar o que é ou não aceitável que o povo aprecie. Este é um caminho perigoso com paralelismos no passado que são inaceitáveis. A ética e a moral não se decretam.

A iniciativa de proibir as corridas de touros em Portugal significa o desrespeito pela tradição cultural popular de uma parte do país. E não é por ser mais ou menos significativa que deve merecer menor respeito. A identidade de um povo revela-se na pluralidade dos hábitos, tradições e cultura que se constroem e reforçam na liberdade e tolerância de conviver e respeitar as diferenças.

Há quem goste e quem não goste de touradas. Ninguém é obrigado a assistir ou a gostar. O que não é aceitável é que uns queiram impor o seu gosto aos outros, ofendendo, apoucando ou pretendendo desrespeitar a liberdade. Quem não gosta de touradas não vê. Mas não pode arrogar-se de qualquer superioridade moral ou traduzir o seu gosto em desrespeito e intolerância. 

As corridas de touros são uma expressão cultural popular intimamente ligada ao mundo rural com uma tradição histórica relacionada com a criação de gado e com manifestações nas festas locais. É no meio rural que se convive, trata e conhece melhor os animais pois deles se depende. Não é por acaso que estes movimentos que se pretendem acabar com as touradas são mais populares nos meios urbanos. É mesmo por ignorância.

Uma corrida de touros à portuguesa é uma manifestação cultural de arte e bravura. Um combate entre a força e bravura natural de um animal que coloca à prova a coragem do homem. Trata-se de uma expressão que envolve a cumplicidade artística entre o cavalo e o cavaleiro, o destemor dos forcados e que elogia e respeita as características de bravura do touro. Apenas a arrogância e a ignorância podem confundir este espectáculo com sadismo.

Portugal afirmou-se ao longo da história através da sua identidade cultural construída na diversidade. Hoje, importa garantir a tolerância, o respeito e a liberdade. É a democracia que está em causa.