Impasse regressa à Autoeuropa

Trabalhadores querem aumentos de 4% e pagamento do trabalho ao domingo a 100%, mas negociações só serão retomadas após férias em agosto. Empresas fornecedoras vivem o mesmo impasse

As negociações na Autoeuropa para os aumentos salariais de 4% com um mínimo de 35 euros e o pagamento do trabalho ao domingo a 100% serão retomadas depois das férias de agosto. A garantia foi dada pela Comissão de Trabalhadores (CT) da fábrica de Palmela, depois de ter sido aprovado o caderno reivindicativo nos três plenários que decorreram na quinta-feira. 

Ao que o SOL apurou, a administração está disponível para falar com a estrutura que representa os trabalhadores, mas poderá não acompanhar os valores que serão propostos, na altura em que irão avançar os novos horários de laboração contínua. Isto porque a Autoeuropa vai fechar para férias a 31 de julho e a produção será retomada depois de 22 de agosto, não dando espaço até lá para novas negociações.

O braço-de-ferro entre trabalhadores e administração passa essencialmente pela remuneração do trabalho ao domingo – com a implementação da laboração contínua a partir do final de agosto – que os trabalhadores querem que seja pago a 100%, tal como já é pago o trabalho ao sábado, mas que a empresa pretende remunerar como um dia normal de trabalho.

O caderno reivindicativo prevê ainda melhoria de alguns prémios atribuídos pela empresa, e mais dois ou três dias de descanso, além dos 22 dias de férias, assim como um aumento das pausas intercalares de sete para dez minutos em todos os turnos. 

Além destas reivindicações, a CT defende ainda a integração no quadro de pessoal, até setembro de 2019, de mais 400 trabalhadores com contrato a termo, a garantia da empresa de que não fará nenhum despedimento coletivo durante a vigência do acordo, bem como a entrega extraordinária da quantia de 100 mil euros para o Fundo de Pensões, a dividir de forma igual por todos os trabalhadores aderentes.

Esta votação surgiu depois de a CT ter acusado a administração da empresa de querer condicionar as regalias adquiridas pelos trabalhadores a uma cláusula de denúncia, que poderia ser acionada face ao resultado das negociações anuais com os trabalhadores. Uma situação que levou o  diretor de recursos humanos da fábrica de Palmela a dizer que se tratava de um mal entendido e que seria ultrapassado na próxima ronda de negociações.

Contestação

Esta votação ocorre numa altura em que o SOL avançou que um grupo de trabalhadores da fábrica de Palmela, denominado Juntos pelos Trabalhadores da Autoeuropa, quer avançar com uma providência cautelar para impedir a implementação dos novos horários de laboração contínua após o período de férias, em agosto. 

«Há mais de um ano que a administração da Autoeuropa tem adotado uma postura de intransigência para com os trabalhadores para resolver um problema que ela mesma criou. Esta intransigência tem resultado em várias imposições prejudiciais aos trabalhadores, algumas delas levantando várias dúvidas quanto à sua legalidade», dizem numa comunicação divulgada aos trabalhadores a que o SOL teve acesso.

Este grupo vai contratar um escritório de advogados para esclarecer se a administração pode ou não impor o novo modelo de laboração contínua sem o acordo dos trabalhadores e a satisfação das suas exigências quanto aos limites temporais e às compensações respetivas. Para isso, estão a recolher fundos no valor de 25 euros e garantem que caso atinjam «uma quantia superior ao exigido ou na eventualidade desta não ser atingida, o grupo compromete-se a devolver o dinheiro a cada um», diz a mesma comunicação.

A Autoeuropa vai funcionar com 19 turnos de laboração: três turnos diários de segunda a sexta e dois turnos diários ao sábado e domingo. A ideia é permitir à Autoeuropa produzir perto de 240 mil carros em 2018.

Este impasse ocorre também no Parque Industrial de Palmela, onde a maioria das empresas fornecedoras da Autoeuropa – das 19 existentes nesse espaço e que contam com cerca de 3500 trabalhadores – ainda não têm acordo para o horário de laboração contínua. Apenas três a quatro empresas chegaram a um acordo, «existindo algumas que têm acordos mais vantajosos que a própria Autoeuropa», garante a CT deste espaço.

Já nas empresas que ainda estão em negociações, segundo esta estrutura «existe uma clara vontade por parte das administrações de diminuírem os rendimentos dos trabalhadores e agravando as suas condições de trabalho, aumentando inclusive a precariedade», acrescentando ainda que «há empresas com cerca de 70% de trabalhadores precários».