Turismo: de solução a problema?

«Deve haver coragem política para dizer basta ao turismo».

Portugal, nos últimos anos, tem ganho vários prémios turísticos de âmbito europeu e internacional. Distinções que reforçam a atratividade e o bom nome da nossa oferta turística, na concorrência feroz que existe entre vários países e vários destinos, sobretudo na Europa e na bacia do Mediterrâneo (mais ocidental do que oriental). 

Os World Travel Awards, por exemplo, distinguiram Portugal como o melhor destino de praia da Europa, a cidade de Lisboa como o melhor porto de cruzeiros da Europa, e a Madeira como a melhor ilha de destino europeu. Mais: o resort Pine Cliffs, no Algarve, foi considerado o melhor resort de destino europeu para famílias, e a vila de Sintra um excelente destino. Portugal obteve ainda a distinção de melhor site de promoção turística.

Estes e outros troféus atestam e reforçam não só a perceção mas acima de tudo a certeza de que o nosso país vive muito bons momentos na primeira divisão internacional do turismo. 

 

A tudo isto há que acrescentar mais e melhores indicadores económicos e sociais, que mostram até que ponto o turismo é um esteio para a nossa economia — no que respeita à captação de receitas, pagamento de impostos e afins, criação de emprego, renovação e revitalização de vilas, cidades e outras partes do território. 

Portugal está na moda como destino turístico. A diversificação da oferta turística durante os doze meses do ano tem permitido que o nosso país não seja procurado apenas durante alguns meses do ano, sobretudo por causa do sol e do mar, mas seja associado a outras ofertas na área da cultura, da história e da gastronomia.

 

O turismo no nosso país tem crescido – e muito – mais do que a economia nacional no seu todo.

O perfil do turista que nos visita tem sido tipicamente europeu, mas os não europeus estão a aumentar. Vêm essencialmente de avião, viajam acompanhados, gastam principalmente dinheiro no alojamento, restauração e viagens. Mais de dois terços dos turistas são repetentes no nosso país. Não faltam indicadores, números, exemplos, para atestar quanto nós, portugueses, temos ganho com o turismo.

Esta indústria global movimenta em todo o mundo mais de mil milhões de pessoas (das mais de sete mil milhões que o globo tem) e preveem-se crescimentos alucinantes até 2030 (ano em que, segundo a Organização Mundial do Turismo, haverá 1,9 mil milhões de turistas). 

No ranking dos países do mundo que mais turistas recebem estão vários europeus, mas também outros como a China, a Malásia ou a Rússia. Globalmente, a França é um dos campeões. Dos países que mais lucram com o turismo, temos também uma diversificação que atesta o quanto a receita turística é importante para as contas públicas e para as economias nacionais.

 

Quando esta indústria foi ‘criada’, há cento e cinquenta anos, poucos poderiam vaticinar o que iria ser o turismo no futuro. 

Num mundo cada vez mais aberto, no século do movimento dos povos, o turismo tem tudo para continuar a ser uma força económica, social e cultural que pressionará governos e fronteiras. 

Mas será que o turismo corre o risco de deixar solução e se transformar num problema para os cidadãos e para os países recetores de turistas? Será que a euforia com o turismo não correrá o risco de ser igual à euforia com o betão num passado recente? Designadamente com as características do emprego que assegura e dos vícios que alimenta? 

Já se começam a ouvir e a identificar vários problemas com a massificação turística. Sobretudo nas grandes cidades portuguesas, que têm sido também as grandes beneficiárias. Não faltam exemplos. Cá e lá. Barcelona aí está a atestá-lo.

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