A arte da mentira

Há muitos anos conheci, na margem sul, um advogado comunista, que até se gabava das relações de amizade que tinha com Agostinho Neto e Fidel Castro. Exibia mesmo relógios presenteados por estes, em cujos mostradores não faltavam a foice e o martelo. Provavelmente bom no seu ofício, amealhou uma pequena fortuna e não escondia uma…

Há muitos anos conheci, na margem sul, um advogado comunista, que até se gabava das relações de amizade que tinha com Agostinho Neto e Fidel Castro. Exibia mesmo relógios presenteados por estes, em cujos mostradores não faltavam a foice e o martelo.

Provavelmente bom no seu ofício, amealhou uma pequena fortuna e não escondia uma vida burguesa de luxo, frequentando os melhores restaurantes, vestindo fatos de excelente porte e fumando imponentes charutos, muitos oferecidos pelo seu amigo Fidel.

Certo dia interroguei-o acerca da contradição entre os ideais que alegava defender e a vida faustosa que levava, ao que ele respondeu-me, com grande lata, já ter lido o programa do partido comunista diversas vezes, da frente para trás e de trás para a frente, não tendo encontrado lá nada que dissesse que tinha de ser estúpido!

Parece que este agora ex-vereador bloquista também não encontrou no programa do seu partido nenhuma obrigatoriedade de ser estúpido e vai daí embrenhou-se num negócio que, certamente por mero acaso, está nos antípodas daquele que tem sido um dos grandes cavalos de batalha dos seus correligionários, e dele próprio, claro está: o combate ao que eles designam de especulação imobiliária.

Essa gente vai mesmo mais longe e abomina todos quantos sejam titulares de algum património, por mais insignificante que este seja, fobia de que o diligente ex-vereador admitia igualmente sofrer.

A prová-lo está um dos temas que constou no programa do acampamento bloquista que decorreu no passado fim-de-semana, onde jovens aparentemente inocentes são doutrinados por formadores manifestamente desequilibrados, com o sugestivo título de “a propriedade é o roubo: socialização dos meios de produção”!

Na perspectiva dos amigos do Costa, que o suportam na desgovernação do País, as palavras proprietário e ladrão são sinónimos, excepto quando se trata de criaturas eleitas nas listas do partido para o exercício de cargos públicos!

Por isso o rapaz ex-vereador, acredita-se que a meias com a irmã, não teve qualquer prurido em comprar um prédio degradado à segurança social, ou seja, pertença do Estado, remodelá-lo e pô-lo à venda por um preço exorbitante, despejando todos os moradores com excepção de um.

Na tentativa de captar potenciais investidores, a imobiliária que o pôs à venda utilizou o slogan de que este seria ideal para quem estivesse disposto a apostar no alojamento local.

Estes são os factos provados, que não foram desmentidos por nenhuma das partes envolvidas no negócio. Abstenho-me, naturalmente, de mencionar outros desenvolvimentos que têm sido denunciadas pela imprensa, que em nada abonam quanto à idoneidade do agora jovem empresário do ramo imobiliário, porque carecem ainda de prova e também pouco acrescentam quanto à evidente desonestidade moral daquele e à dos que prontamente vieram a terreiro defendê-lo.

Na verdade estes comunistas de trazer por casa não têm nada de estúpidos, têm é esta irritante  mania de pensarem que todos os outros o são!

Uma vez posta a nu a negociata que levou à aparente desgraça do pobre empreendedor imobiliário, a extrema-esquerda congeminou de imediato uma estratégia de defesa que consistiu, basicamente, no argumento de que o novel proprietário do prédio em causa não enriqueceu porque o edifício não chegou a ser vendido, pelo que as acusações de lucro desenfreado que lhe foram endereçadas são difamatórias!

Valha-nos Deus!

Claro que não foi vendido, porque ninguém, no seu perfeito juízo, esteve disposto a desembolsar mais de cinco milhões de euros num conjunto de habitações cuja compra e reabilitação não chegou a um milhão!

O prédio esteve à venda durante vários meses e não foi vendido não por vontade do vendedor, que se empenhou nesse objectivo, mas sim porque não apareceu nenhum comprador. Esta é que é a verdade, tudo o resto são fantasias!

A inarrável Catarina, que tão grosseira tem sido em hostilizar quem, através do seu trabalho, gera riqueza, contribuindo assim decisivamente para o desenvolvimento económico e social do País e, consequentemente, para a melhoria das condições de vida dos mais necessitados, desta vez não hesitou em vir defender publicamente o seu discípulo, considerando a sua conduta inatacável.

Como é hábito nela, recorreu a argumentos falaciosos e demagógicos, branqueando o comportamento do seu pupilo ao invocar que as denúncias de que foi alvo mais não foram do que uma cabala adstrita a uma agenda política e, pasme-se, atreveu-se mesmo em procurar sacudir responsabilidades para o Presidente da República, acusando-o de não ter ainda promulgado um diploma  que, veio a saber-se, ainda aguardava despacho dos serviços do parlamento.

O próprio negociante de prédios, ao defender-se das acusações de ter enveredado pelo mesmo caminho daqueles que foram o seu principal alvo na campanha autárquica que o catapultou para a vereação camarária, o da especulação imobiliária e alojamento local, quis-nos tomar a todos por tolos, vendendo a ideia de que não foi ele quem estipulou o preço de venda mas sim a agência a que recorreu para o efeito! É preciso lata! O menino aprendeu depressa e bem as manhas e artimanhas que são leccionadas nos acampamentos de verão frequentados pelos seus amiguinhos.

A sua chefe ainda teve a pouca vergonha de o desculpar, invocando que este retirou o prédio do mercado ainda antes da imprensa o ter desmascarado. Omitiu, no entanto, um pequeno pormenor: é que o fez quando a trama foi conhecida no seio dos seus pares.

A mentira e a hipocrisia continuam a ser a imagem de marca destes burgueses trotskistas, incapazes de assumir os seus erros e lestos a imputar a terceiros a culpa pelas trapaças em que se envolvem.

De facto a conduta do ex-vereador é inatacável: ele limitou-se a entrar nas regras de jogo do capitalismo ao comprar uma casa, reabilitá-la e procurar vendê-la obtendo o maior lucro possível.

É graças a esta política que centenas de prédios degradados e desocupados que inundavam e descaracterizavam Lisboa têm sido recuperados, permitindo o seu uso por milhares de habitantes e turistas e cativando chorudas receitas por via do turismo, que tão importantes se têm revelado para a economia do País.

Mas, e há sempre um mas, acontece que a extrema-esquerda tem sido uma feroz adversária deste tipo de empreendedorismo, apostando inclusive na feitura de leis que o decapitem e equiparando os proprietários de habitações postas no mercado a bandidos.

No entanto quando aparece um desses proprietários que, por força do destino, milita nas suas fileiras, alto e pára o baile, esse é dos nossos. Esse é inatacável!

Os outros, os que não beberam em Marx os ideais que apregoam, mas não praticam, é que são ladrões que roubam o próprio povo.

E é com estes desenvergonhados e trapaceiros que Costa se socorre no seu propósito de levar Portugal a um novo resgate financeiro.

Hoje, aquilo que separa Costa da sua amiga Catarina é praticamente nada!

Se a mentira e a hipocrisia fossem tributadas ambos estariam tramados. Seriam obrigados a rechear os cofres do Estado de avultadas quantias monetárias!

 

Pedro Ochôa