Câmara de Cascais quer criar museu a partir da cadeira de Salazar

Estado cedeu Forte de Santo António à Câmara de Cascais por um ano, acordo que será renovado por igual período. Autarquia recuperou o espaço e quer agora transformá-lo num museu, com a cadeira de onde Salazar caiu em exposição.

Foi no Forte de Santo António, no Estoril, – onde costumava passar férias – que António de Oliveira Salazar caiu de uma cadeira e bateu com cabeça no chão, há 50 anos, no dia 1 de agosto de 1968. A queda acabou por ditar a sua saída da Presidência do Conselho e o princípio do fim do regime que liderara por mais de quatro décadas. 

Após vários anos fechada e com sinais de degradação, em março deste ano a fortificação foi cedida por um ano à Câmara Municipal de Cascais pelo Ministério da Defesa. O acordo – que prevê que o forte se mantenha na posse do Estado, mas possa ser usado pela Câmara para realização de atividades pontuais – será posteriormente renovado por mais um ano.

A Câmara Municipal de Cascais reabilitou o espaço e reabriu-o ao público no dia 25 de abril. Agora, está a preparar um projeto de recuperação e dinamização do forte – que será apresentado ao Ministério da Defesa – incluindo a criação de um museu onde estará exposta a mobília de Salazar, com especial destaque para a famosa cadeira. 

Cadeira que neste momento não está no forte, tal como não está o resto da mobília. Segundo o porta-voz do Exército, tenente coronel Vicente Pereira, «o Colégio Militar foi, até agora, unicamente o ‘fiel depositário’ das chaves do Forte de Santo António». Portanto, ficou também na posse do mobiliário, que foi transferido para as instalações do Colégio Militar em Carnide, «por uma questão de segurança e preservação do património». 

Segundo explicou ao SOL João Miguel Henriques, chefe de divisão de Património, Arquivos e Bibliotecas da Câmara Municipal de Cascais, a autarquia já enviou «um ofício para o Exército a pedir a mobília de Salazar para colocar no museu que a Câmara quer construir no forte. Estamos agora a preparar uma investigação mais alargada sobre esse período e a história de Salazar – a carta saiu há pouco tempo para lá e ainda não temos a resposta».

Além da recuperação da mobília, a autarquia quer que a língua portuguesa e a ligação de Portugal ao mar sejam os pontos fortes do musealização do forte. «Estamos agora a trabalhar na parte programática e já ficou decidido que vamos desenvolver no forte aquilo que são os dois patrimónios portugueses mais desaproveitados no nosso entender: o potencial da língua portuguesa e o potencial do mar», explicou ao SOL Carlos Carreiras, presidente da Câmara Municipal de Cascais.

Segundo o autarca, estão a ser desenvolvidas «todas as parcerias necessárias, abrangendo as perspetivas cultural, económica e social, para que o resultado evidencie estas duas riquezas que o país tem e não tem sabido explorar».

A Câmara está a trabalhar no projeto de recuperação e dinamização do Forte de Santo António que será apresentado ao Ministério da Defesa. João Miguel Henriques garante que Carlos Carreiras deu à sua equipa toda a latitude para desenvolver o  projeto assente nas duas premissas da língua e do mar, a que se junta o lado simbólico de ter sido ali, no forte, que começou o desmoronar do Estado Novo. Em breve, o plano será apresentado a Carreiras que terá de perceber «em termos de verbas» se o mesmo é exequível em função das contas do município, «e depois sim haverá a proposta ao Ministério da Defesa que fez a entrega por um ano à autarquia Cascais deste património».

 

Obras de recuperação

Depois da assinatura do protocolo com o Ministério da Defesa, em março deste ano, a Câmara Municipal de Cascais iniciou a recuperação do Forte de Santo António. As obras duraram um mês e dez dias e a primeira iniciativa foi acabar com a densa mancha de vegetação que não permitia que o forte fosse visto da estrada. «Houve uma preocupação muito grande com a desmatação daquele espaço e a retirada do conjunto de materiais que estavam a impedir a visualização da fortificação. Neste momento, quando se vem a caminho de Cascais e antes de se chegar a São João do Estoril já é possível ver o forte, o que é uma grande novidade. Agora está visualizável por todas as pessoas», referiu João Miguel Henriques.

No que diz respeito ao tratamento e recuperação da próprio edifício, João Miguel Henriques destaca «a retirada dos graffiti que empestavam todo o forte, nomeadamente os belos azulejos que lá estão. Este processo foi apoiado e acompanhado pela Direção Geral do Património Cultural, que possibilitou também a pintura da fachada virada para o mar». 

O objetivo das intervenções feitas pela autarquia foi, por um lado, permitir a visita do espaço «o mais rapidamente possível» – o que se concretizou no dia 25 de abril – e acautelar que a fortificação não se degrade até ser definido o futuro oficial do espaço. 

O Forte de Santo António está aberto aos sábados, domingos e feriados e, em média, recebe 200 visitas em cada um desses dias. «Há visitas de turistas estrangeiros, mas há também muitos portugueses interessados em conhecer um espaço que é muito simbólico para a história não só de Cascais, mas de Portugal. Além disso,  era um espaço que estava isolado e onde viveu uma personalidade tão célebre: Salazar».