O governo não é o Estado

Ninguém marcha como os coreanos. Quantos marcharam…Ninguém tem a saúde dos cubanos. Excepto os que foram mortos…Ninguém tem a benção bolivariana de um Maduro. Com a excepção dos que vegetam ou fogem…

Parece simples a solução.  Se tudo for público e se o Estado de tudo se ocupar, não existindo concorrência nem opção pela qualidade, seremos mais felizes e mais tranquilos.

É que a exigência é um aborrecimento, o bom desempenho profissional liberta o princípio da discriminação, a qualificação um excesso.

E o mundo está cheio de bons exemplos. A Coreia do Norte, Cuba, Venezuela.

Certo é custar muito chegar àquele apuro de forma.

Ninguém marcha como os coreanos. Quantos marcharam…

Ninguém tem a saúde dos cubanos. Excepto os que foram mortos…

Ninguém tem a benção bolivariana de um Maduro. Com a excepção dos que vegetam ou fogem…

Portanto, colocar assim a questão é afirmar a esquerda e a solidariedade e o bom governo. Serve para tudo, desde a educação à saúde.

Traz para o seu lado os exemplos de dedicação à causa pública, a competência profissional, a recusa em querer ser rico.

Há bons serviços públicos. Há exemplos que a história regista.

Ainda há pouco tempo li uma entrevista de um dos mais significativos servidores modelo. O Prof. Manuel Antunes fez mais pela excelência da resposta pública do que todos os manuais ideológicos. 

Os vários casos de professores que em ambiente de carência e dificuldade conseguem oferecer e manter um altíssimo nível em algumas escolas são outro dos testemunhos.

E há respostas privadas que degradam a alternativa.

Nuns casos porque vendem cursos e notas, noutros porque violam as regras e vendem serviços desnecessários a preços proibitivos.

Noutros casos porque a ideia da parceria público-privada fez disparar os custos do Estado sem critério.

O Serviço Nacional de Saúde é o novo incêndio.

Pretendem uns que se não limite à imagem ideal servida pela Constituição. Querem-no revisto, mais forte, com maior capacidade de resposta.

Há, todavia, um pequeno problema. O do nível de despesa possível.

Mesmo do lado dos mais empedernidos defensores do SNS, as limitações orçamentais sucedem-se. Faltam respostas, aumentam os tempos de espera, multiplicam-se nos utentes as despesas acumuladas. Mais adiamentos, mais viagens, mais dias de trabalho perdidos.

Para a subsistência do sistema contribuem todos aqueles que pagam impostos, os outros (em número crescente), apenas dele usufruem.

E a alternativa é a dos seguros de saúde, privados ou públicos, ou o bolso dos possidentes nos casos não abrangidos, ou o abandono.

Um dado é inegável. Os seguros têm obtido uma crescente procura.

Ora, não existindo um enriquecimento generalizado na sociedade portuguesa, a motivação só pode ser a incapacidade de resposta pública.

Portanto, temos um serviço nacional em crise e um modelo de alternativa privado que também depende, em parte, do dinheiro do Estado.

Não consta que nos encontremos no melhor dos mundos.

Ora, independentemente de outras querelas, de outras discussões sobre o Estado, esta discussão sobre a saúde é verdadeiramente o momento da verdade.

Sobram-nos recursos para investir? Temos resposta para quanto tempo? Podemos olhar para o lado até quando?

Eu sei, temos eleições e a verdade é inconveniente. 

A nossa é a terra do leite e do mel.

Mas o que cada português quereria era saber como pode pagar menos, ou com mais justiça e obter mais utilidades sem sobressalto.

Quer governo…

 

* Vice-presidente do Grupo Parlamentar do PS