Engolir um sapo do tamanho da troika

«Estamos no caminho certo e o país está a recuperar com bases mais sólidas e sustentáveis do que tínhamos no passado».          Pedro Passos Coelho

Por entre muito lixo mediático, próprio da época estival, os mais atentos e cultores da coerência política (um bem que vai escasseando…) assistiram a um choque frontal com a realidade por parte do Partido Socialista e do Governo. Aquilo a que poderemos chamar ‘engolir um sapo do tamanho da troika’. Isto a propósito da saída da troika da Grécia. 

O ministro das Finanças de Portugal, Mário Centeno, simultaneamente presidente do Eurogrupo, entre vídeos, declarações e proclamações, veio anunciar aos europeus que a intervenção externa na Grécia através da troika tinha terminado e fora um sucesso. 

De entre a cartilha aduzida por Centeno, a Grécia e os gregos estão melhor do que antes da entrada da troika (por três vezes e com cerca de 250 mil milhões de euros). 

Até alguns elementos importantes do Partido Socialista se indignaram, mas logo se calaram. Quem não se recorda do que foi dito em 2013, 2014, 2015, 2016, a propósito da saída da troika de Portugal (com uma só intervenção e cerca de 73 mil milhões de euros). 

Recordamo-nos do que foi dito. Portugal e os portugueses estavam muito piores do que antes do programa de ajustamento. A aplicação do programa tinha sido um desastre, e quase tudo fora mal feito. E quem disse estas e muitas outras coisas? Precisamente Mário Centeno e outros governantes e dirigentes do PS. Passados poucos anos, a troika grega já era melhor que a portuguesa? É caso para fazer várias perguntas:

1. Quanto tempo esteve a troika na Grécia e em Portugal?

2. Quantos programas de intervenção externa foram aplicados na Grécia e em Portugal?

3. Quais os montantes aplicados na Grécia e em Portugal?

4. Quem provocou a chamada da troika em Portugal e na Grécia?

5. Quem teve de tomar medidas difíceis e impopulares a propósito das troikas em Portugal e na Grécia?

6. Como ficaram vários indicadores económicos e sociais após a saída das troikas de Portugal e da Grécia?

7. Quem ganhou as eleições após essas saídas?

São várias as perguntas e várias as comparações que podem e devem fazer-se a propósito das causas, das consequências e das (in)coerências da aplicação dos programas das troikas em Portugal e na Grécia.

E é justo – mais do que justo – reconhecer que Portugal lidou melhor com a aplicação do memorando da troika com vista a que esta saísse rápido do nosso país e que Portugal fizesse reformas estruturais e promovesse várias alterações legislativas, para enfrentar com mais robustez o seu futuro político, económico e social.

O sapo do tamanho da troika que o Partido Socialista e o Governo engoliram estas semanas, a propósito dos elogios que fizeram à Grécia e à situação grega, é um hino à incoerência política. Mesmo sabendo que vivemos tempos em que vale quase tudo na política portuguesa. 

Existe quem vaticine que isto contará pouco para a aritmética eleitoral de 2019. Mas trata-se de um caso de política pura. E é um exemplo que não deveria existir. E que dá que pensar. Será que afinal o Partido Socialista achava que Portugal deveria ter tido a troika no nosso país por mais tempo, com mais programas de ajustamento e com mais milhares de milhões de euros aplicados? Será que, quando diziam que era preciso mais dinheiro e mais tempo, estavam a inspirar-se no caso grego?

É que o pai e a mãe da troika em Portugal é o PS. Goste-se ou não, esta é a verdade. E quem teve de aplicar o seu memorando (negociado e acordado pelo PS) foi o PSD e o CDS/PP. 

Uns chamaram a troika, outros mandaram-na para fora de Portugal. As diferenças entre Portugal e a Grécia, nestas como noutras matérias, são muito grandes. Não tenho nada contra os gregos. Mas Portugal tem a vários títulos um percurso diferente – para melhor.

olharaocentro@sol.pt.