Web Summit, esse acontecimento

Sai caro, mas Medina e Costa dão tudo para ter a Web Summit em Lisboa… sem Panteão nem Marine Le Pen, claro

«Ganhámos. Ganhámos». Enquanto proclamava vitória aos microfones do cenário montado para a apresentação do acordo entre a Câmara de Lisboa, o Governo português e a organização da Web Summit, Fernando Medina tinha no rosto estampada a alegria com que Alfa Semedo comemorou o terceiro golo do Benfica na Grécia.

«Esta vitória tem muitos significados, o primeiro, claro, é que ganhámos uma competição muito difícil com algumas das principais cidades do mundo, que fizeram o seu melhor para apresentarem os seus argumentos», disse o presidente da Câmara Municipal de Lisboa.

Ganhámos a grandes cidades do mundo. Ganhámos-lhes. Elas fizeram o seu melhor para apresentarem os seus melhores argumentos e mesmo assim ganhámos-lhes. 

Estamos a falar de quê?

Estamos a falar de sermos anfitriões da Web Summit por mais 10 anos, o que passa por largarmos uns bons milhões/ano para a organização e seus convidados, com base em estudos de retorno daqueles que fazem perdurar os seus efeitos diretos e indiretos por umas boas décadas para ficarmos todos convencidos que se trata de um bom investimento.

Balelas!

Tirando uns cartões de visita de Lisboa para uns quantos minutos de promoção no mundo e mais umas quantas querelas para consumo interno, o retorno fica-se pela ocupação da hotelaria e da restauração da capital e pouco mais.

Se assim não é, digam-nos o que ficou para a história das edições anteriores. Muito pouco ou quase nada, além, claro, do jantar marcado para o Panteão que tanta confusão fez a tão boa gente – sim, porque o Panteão tem de arranjar maneiras decentes de se auto financiar.

 

E o que fica para a história da edição deste ano? Para além, claro, da renovação do acordo por mais 10 anos e, evidentemente, do veto à palestra da líder da extrema direita francesa Marine Le Pen?

Ninguém, tirando a organização, fará a mínima ideia do que teria a dizer Marine Le Pen sobre a evolução tecnológica e os novos desafios ao empreendedorismo.

Eu, pelo menos, não faço. E continuarei a não fazer, porque a verdade é que se impôs a censura: a organização, que nunca explicou por que raio convidou a senhora, acabou por desconvidá-la, cedendo às pressões das esquerdas, cujo conceito de democracia passa por aceitar a extrema esquerda e ostracizar a extrema direita, enquanto não lhe for possível silenciar também a direita e, depois, o centro e a esquerda moderada. Se bem que, por este caminhar, eles hão de lá chegar um dia e poucos acham tal comportamento anormal e atentatório da liberdade de expressão e de opinião e do pluralismo democrático.

 

Voltemos ao ‘Ganhámos. Ganhámos’ de Fernando Medina.

Tamanho festival ou euforia faz lembrar a vitória de Lisboa como cidade anfitriã da Expo 98 ou a de Portugal como país organizador do Euro 2004.

Uma, a Expo 98, marcou indiscutivelmente a recuperação e modernização de Lisboa enquanto capital europeia e cidade reconciliada com o Tejo e aberta para o mar – e a transformação da zona oriental lisboeta, se foi da noite para o dia, marcou também o início de todo um projeto novo e de desenvolvimento para a capital portuguesa, com reflexo, aliás,  em muitas outras cidades do país, então também com muitas zonas envelhecidas e degradadas.

Já  o Euro 2004 significou a recuperação da autoestima de um povo unido em torno da sua seleção de futebol e dos símbolos nacionais, mas com um custo gigantesco em infraestruturas desadequadas e injustificadas, que ainda hoje continuam a pesar no orçamento de muitas autarquias e regiões: tirando os estádios dos grandes clubes, sobejam os elefantes brancos do Algarve, de Leiria, de Coimbra, de Aveiro, de Braga. Milhões e milhões perdidos, enfim…

 

Quanto à Web Summit, traz o quê? Apenas e quase só o mesmo que as feiras de vaidades para quem gosta de se pavonear no meio daqueles que são apresentados como os empreendedores e decisores do futuro (como Marine Le Pen, na opinião inicial da organização).

Para já, tirando mais uns milhares de quartos de hotel e outras tantas mesas de restaurantes, o que ganhámos foi o largo sorriso de Paddy Cosgrave, o organizador da Web Summit, que consegue da CML e do Estado português o que nenhum empreendedor português alguma vez sonhou conseguir apenas com criatividade.

E nós, no meio de tanta parolice, ainda acreditamos que ‘ganhámos’? 

Uma pouca vergonha é o que é. De um país atrasado que paga, e bem, para armar ao pingarelho tecnológico e ultramoderno.