Será possível Rui Rio ser primeiro-ministro?

Quase ninguém apostava em Durão Barroso, mas este chegou a S. Bento…

Muito poucos acreditariam que Durão Barroso algum dia chegasse a primeiro-ministro atendendo a que António Guterres liderava um Governo apoiado em 115 deputados. Faltava-lhe um, é certo, para a maioria absoluta, mas o PSD não tinha mais do que 81 deputados na Assembleia da República. Estávamos no tempo em que um queijo fazia a diferença, já que o primeiro-ministro conseguiu convencer o deputado centrista eleito por Viana do Castelo a votar ao lado do Governo, dando Guterres em troca alguns benefícios para a terra onde era produzido o conhecido queijo. Fosse por esse motivo ou por outros, o certo é que o PS acabaria por ser cilindrado nas eleições autárquicas de 2001, quando perdeu as Câmaras de Lisboa, Porto, Sintra, Setúbal, Coimbra ou Faro. O povo foi votar para as autarquias, mas Guterres fez uma leitura diferente e bateu com a porta, alegando que não queria contribuir para o «pântano político». 

E foi aí que entrou Durão Barroso de rompante e levou o PSD à vitória nas legislativas, elegendo 105 deputados que contavam com o apoio dos 14 do CDS/PP. O resto é o que se sabe. O cherne seguiu o seu caminho e foi para Bruxelas, entrando Santana Lopes para a chefia do Governo. O resto também é conhecido.

Vem esta conversa toda a propósito de Rui Rio – talvez um dos mais inábeis líderes do PSD –, já que não há ninguém que consiga imaginá-lo a ganhar umas eleições a António Costa. Mas na altura de Durão Barroso assisti a muitas discussões e a única pessoa que vi a acreditar no futuro presidente da União Europeia foi José António Saraiva. Nós brincávamos, mas quando Barroso chegou a primeiro-ministro tivemos de ‘levar’ com a habitual ‘confiança’ de José António Saraiva.

Rui Rio, um homem que lida pessimamente com a crítica, está a fazer no PSD o que nem Álvaro Cunhal levou a cabo no PCP quando começou a expulsar os dissidentes.

É confrangedor ler no Público o artigo de opinião de Teresa Morais, uma deputada social-democrata à prova de qualquer intriga, a queixar-se que existe uma política de silenciamento na bancada do PSD e que há quase uma caça às bruxas à procura dos conspiradores, leia-se antigos aliados de Passos.

Rui Rio demonstra uma sede de vingança preocupante e parece querer levar o partido para um abismo de carneirada. Quem está com ele, está com deus, quem está contra ele tem a porta da saída aberta.

Não se percebe muito bem como é que o PSD se entretém com guerras internas quando o Governo de Costa dança ‘desengonçadamente’ ao sabor do escândalo de Tancos, que já levou à demissão do ministro da Defesa, e às cedências no Orçamento do Estado, quer ao PCP, BE ou PAN.

Também é certo que o ano passado morreram mais de 100 pessoas por causa dos incêndios e a popularidade de Costa não saiu beliscada. No entanto, nada nos diz que daqui até às eleições  não possa haver mais algum escândalo que ponha o PS numa situação muito desconfortável. É muito pouco provável, mas se tal acontecer Rui Rio terá então a sua hipótese. Neste momento, numa casa de apostas, ninguém apostaria um cêntimo em Rio, um homem, volto a dizer, com tiques de autoritarismo e que convive mal com a crítica. 

Também é óbvio que será muito mais provável que o líder do PSD faça o seu partido implodir do que o Governo de Costa ter um escândalo que o faça deixar o poder.