O haraquiri do PSD

 Como é possível os intervenientes da guerra de guerrilha não perceberem que o partido pode vir a alcançar o pior resultado da sua história nas próximas eleições legislativas?

É difícil imaginar um partido que dê tantos tiros nos pés como o PSD. Como é possível os intervenientes da guerra de guerrilha não perceberem que o partido pode vir a alcançar o pior resultado da sua história nas próximas eleições legislativas? O espetáculo degradante até incomoda quem nada tem a ver com os sociais-democratas e, muito provavelmente, o país poderá perder a força de um partido que, para o bem ou mal, funcionava como contraponto ao bloco da esquerda. Uma sociedade sem duas forças distintas caminha perigosamente para o totalitarismo e Rui Rio é o rosto dessa desgraça anunciada. Prometeu um banho de ética política e, como já diz Carlos Carreiras, acaba por ser uma ‘banhada de ética’. As confusões com os seus secretários-gerais são tudo menos transparentes, e é tudo aquilo de que a política não precisa. Desde um que manipula o seu currículo a outro que marca presenças em sessões em que não põe lá os pés.

Quanto à famosa password que passou à sua colega Emília Cerqueira para esta aceder ao seu computador no plenário da AR, que depois de ligado dá José Silvano como presente, é um caso de estudo de ciência política. E é mau demais para ser verdade. Mas o PSD é um partido que se comporta como se estivesse numa guerra de guerrilha onde os atiradores aparecem e desaparecem sem deixar rasto. É óbvio que a notícia do Expresso foi soprada por alguém de dentro do partido – são as fontes anónimas que fazem o jornalismo melhor, caso contrário os jornais seriam uma espécie de Diário da República – e esse alguém não tem noção do mal que fez ao partido. Mas, repito, ainda bem para o jornalismo que essas fontes existem, pois dão a dimensão da guerra que o partido vive. Os sociais-democratas, com Rui Rio à cabeça, ainda não perceberam que o mundo mudou e que mesmo aqui ao lado, em Espanha, os partidos tradicionais foram amplamente castigados pelo aparecimento de novas forças políticas, como o Ciudadanos ou o Podemos. 

Acredito que em Portugal, para já, Santana Lopes é o homem que mais ganha com esta guerra sem quartel no seu antigo PPD/PSD. Mas outras forças poderão surgir num futuro próximo, ao que tudo indica do quadrante mais à direita, digamos mesmo, extrema-direita. 

Mas voltemos à história dos deputados que marcam presença por outros colegas. É ou não verdade que isso é uma prática comum há muitos anos em vários partidos? E que é por essas e por outras que o comum dos mortais diz o pior dos políticos, abrindo caminho aos tais ‘fascistas’ de pacotilha.

António Costa deve estar a rir que nem um perdido com o cenário criado: com o BE a aproveitar a sua convenção para barafustar contra a maioria absoluta e com o PSD na sala de urgências ligado às máquinas, é natural que o primeiro-ministro cada vez mais pense na maioria absoluta. Se é verdade que um partido que esteja na oposição nunca ganhou eleições, os que estavam no poder é que as perderam, neste caso bem pode dizer-se que a oposição perdeu por desistência e que o Governo vai ganhar estando quieto.

Ninguém no PSD avançará contra Rui Rio neste cenário, pois sabem perfeitamente que não há Tancos, incêndios, greves de professores e pessoal médico que faça cair António Costa. A não ser que este cometa uma verdadeira loucura, o PS já ganhou as legislativas com larga folga. Veremos se com ou sem maioria absoluta.

vitor.rainho@sol.pt