Livro: Luís Marques Mendes já está na corrida para suceder a Marcelo em Belém

1.É a novidade literário-política (ou, mais rigorosamente, política com laivos literários) desta época pré-natalícia: Luís Marques Mendes lançará um livro, no próximo dia 5 de Dezembro, sobre política externa. Mais concretamente, sobre a sua visão de afirmação de Portugal no mundo – e de como a língua, a vertente comunicacional, desempenha um papel relevantíssimo na…

1.É a novidade literário-política (ou, mais rigorosamente, política com laivos literários) desta época pré-natalícia: Luís Marques Mendes lançará um livro, no próximo dia 5 de Dezembro, sobre política externa. Mais concretamente, sobre a sua visão de afirmação de Portugal no mundo – e de como a língua, a vertente comunicacional, desempenha um papel relevantíssimo na aproximação dos povos lusófonos, no desenvolvimento de relações de fraternidade em tempos de conflito, enfim, de difusão da cultura portuguesa pelos mais variados cantos do mundo.

Numa frase, o autor – que iniciou a sua carreira política aos dezanove anos em Fafe, passando meteoricamente para o estatuto de uma das figuras de primeiríssimo plano do cavaquismo até desembocar, após experiência governamental fugaz nos anos barrosistas, na liderança do PPD/PSD. Hoje, como é público e notório, o político Marques Mendes cedeu lugar ao comentador televisivo dominical Luís Marques Mendes, que continua em busca do seu estrelato à la “Professor Marcelo”.

2.O que tem Luís Marques Mendes? Já aqui escrevemos (e reescrevemos) no “SOL” que o ex-líder do PSD é um homem viciado em política como nenhum outro, que faz comentário enquanto prolongamento da sua desmedida, provavelmente legítima, ambição (e adição) política – e que, nos tempos livres, vai incrementando o seu poder exercendo consultadoria jurídica e empresarial e multiplicando-se em tarefas várias. Numa formulação mais sucinta e directa: Luís Marques Mendes tem uma rede de conhecimentos inigualável; tem experiência política, conhecendo o país político como ninguém; tem influência mediática, fruto essencialmente de muitos anos consecutivos a lidar com jornalistas e conhecendo os seus mecanismos de actuação.

O que falta então ao ex-líder do PSD? O reconhecimento de uma visão minimamente estruturada para o país – se preferirmos, uma dimensão teórica, mostrando que é igualmente competente a construir e expor um pensamento que exceda a mera espuma dos dias que vai entretendo o nosso país mediático. À dimensão de construção de redes de apoiantes, à dimensão de comentador que percebe o que o país comunicacional quer ouvir e dá-lhe com desenvoltura – Marques Mendes precisa de acrescentar a dimensão intelectual.

3.E precisa – perguntará o leitor mais cauto – porquê? A resposta é por demais evidente: porque Luís Marques Mendes quer (e muito) ser o sucessor de Marcelo Rebelo de Sousa na Presidência da República.

 Da mesma forma que Marques Mendes sucedeu a Marcelo na liderança do PSD, com o período barrosista de permeio (e o presente envenenado oferecido a Pedro Santana Lopes); da mesma forma que Marques Mendes sucedeu a Marcelo nos comentários dominicais e como pitonisa-mor da política portuguesa; Luís Marques Mendes pretende suceder a Marcelo Rebelo de Sousa no Palácio de Belém.

 O livro, que será publicado na próxima semana, é apenas a confirmação de que o comentador da SIC já começou a sua caminhada. Inspirada, mais uma vez, em Marcelo – note-se que Marques Mendes também sucedeu a Marcelo como o cidadão mais requisitado de Portugal para apresentações de livros…De repente, Marques Mendes começou a percorrer o país, apresentando livros sobre temáticas tão diversas como a solidariedade social ou a economia e os brinquedos…

4.Um aspecto muito curioso do livro prende-se com a autoria dos respectivos prefácio e posfácio.

O prefácio é assinado por Marcelo Rebelo de Sousa; os posfácios são de Jorge Sampaio e de Aníbal Cavaco Silva. Ou seja: do actual Presidente da República e dos seus dois antecessores. De três Presidentes da República!

Não é por acaso. O objectivo de Marques Mendes – por quem temos estima e consideração, até pela sua paixão pela política – é cristalino: criar a sua imagem de presidenciável, por associação com os Presidentes da República Portuguesa ainda vivos, com excepção (por razões óbvias) do Presidente Ramalho Eanes.

No fundo, a autorictas adquirida pelo exercício da função presidencial por Marcelo, Jorge Sampaio e Cavaco Silva acaba, na visão de Marques Mendes, por se transmitir para o livro (por via dos textos introdutórios e conclusivos) e, por conseguinte, para si. Não deixa de ser sintomático que Marcelo Rebelo de Sousa insista, no prefácio, que o seu antigo líder parlamentar (e actual porta-voz oficioso) presta, mediante a publicação do livro, um serviço a Portugal. Um serviço inestimável aos portugueses.

5.Duas razões adicionais justificam a publicação do livro “Afirmar Portugal no Mundo”, da Matéria-Prima editora (a mesma editora que, muito meritoriamente, lançou no mercado português a obra de Shimon Peres, “Não há Sonhos Impossíveis”, que é um excelente presente de Natal para oferecer à família e aos amigos). A saber:

1)Marques Mendes tem a crença inabalável que  o seu adversário, no campo político do centro-direita, nas presidenciais do pós-Marcelo será Paulo Portas. Ora, Paulo Portas está criando a sua imagem de estadista, de putativo Presidente, forjando alianças diversas e inesperadas, por via da política externa. Precisamente, pela análise do papel de Portugal no mundo e de como exponenciar  a sua relevância. Pois bem, Luís Marques Mendes quis marcar presença neste debate, mostrando que intelectualmente nada fica a dever a Paulo Portas. E que o seu percurso é mais significativo do que o ex-líder centrista e actual comentador da TVI (também dominical);

2)Marques Mendes pretendeu aproveitar a onda de publicações que gerariam certamente frenesim mediático. Evoque-se que Cavaco Silva lançou há poucas semanas o segundo volume das suas memórias – e o lançamento do livro de Passos Coelho havia sido anunciado para Dezembro. Ora, Marques Mendes não quis ficar de fora; as suas ambições presidenciais exigiriam que constasse das prateleiras das livrarias nacionais com um livro sobre política e interesse nacional. Infelizmente, para Marques Mendes, o livro de Passos Coelho só sairá algures no próximo ano, pelo que a sua intenção sai ligeiramente frustrada. Esta conclusão é tão mais certeira quando se considera a tese central do livro: a de que a RTP Internacional foi uma decisão estratégica para Portugal, que muito beneficiou a difusão da cultura portuguesa e da portugalidade em geral e que é esse modelo que se deverá seguir para expandir o “ser português” por todas as latitudes e longitudes. E quem era o Ministro em exercício de funções na altura do lançamento da RTP Internacional? Precisamente – o próprio Luís Marques Mendes. Ou seja: o livro serve (um pouco à semelhança dos livros de Cavaco Silva e de Pedro Passos Coelho) para enaltecer as qualidades governativas (visionárias, segundo o próprio) do autor, mostrando que como Ministro evidenciou talentos e qualidades que não logrou replicar na sua passagem – discreta e com pouca história – pela liderança do PPD/PSD.

6.Tudo isto dito e redito, cumpre concluir: Luís Marques Mendes – por entre as suas funções empresariais, de comentador preferido do regime na SIC, de repastos políticos (apelidados como “tertúlias”) no restaurante Jockey (que é um excelente restaurante, que recomendamos vivamente, ali perto da Faculdade de Direito de Lisboa) – já lançou a sua pré-candidatura presidencial.

 O livro, disponível nas livrarias (de acordo com a previsão oficial) a partir de dia 5 de Dezembro, é a confirmação dos objectivos políticos mendistas; quer imitar Marcelo Rebelo de Sousa, também na Presidência da República. Daí vir agora juntar o elemento intelectual à sua imagem pública de política profissional com acesso privilegiado aos bastidores do poder.

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