Portugal tem estado nos últimos anos no centro dos interesses chineses. As apostas feitas nos vários setores de atividade fizeram de Portugal um dos quatro mais importantes parceiros estratégicos da China em todo o mundo e tudo indica que as parcerias estão bem longe de terminar. Com controlo em setores como a energia, a banca, aviação e seguros, faltava aos chineses ter um pé na base das Lajes, no Açores. Com o uso militar fora de questão, há muito que especialistas em geopolítica e geoestratégia garantiam que era muito provável que Portugal e China estabelecessem acordos que envolvessem os Açores, principalmente, para investigação marítima. E foi o que aconteceu.
Na primeira visita oficial que fez como primeiro-ministro de Portugal à China, António Costa acabou por tornar possível o acordo de cooperação para o estudo subaquático da plataforma marítima portuguesa. Nesta altura, em que Costa esteve em Pequim, em 2016, explicou mesmo que tinha sido atingido «um novo patamar» na cooperação entre estes dois países, «com a criação de novos ativos no país, ou a partir de Portugal para terceiros países». Costa chegou mesmo a admitir que a China poderia vir a usar a base das Lajes, caso os EUA não renovassem o acordo de exclusividade, mas apenas para fins científicos. Com Portugal interessado em corresponder aos grandes projetos da China no sentido de criar uma rota marítima mundial chinesa, António Costa frisou que tinham surgido «novas áreas que justificam uma parceria económica entre os dois países».
Interesse nas Lajes
É verdade que o interesse chinês nas Lajes nunca foi um assunto que fizesse parte das agendas oficiais dos encontros que foram realizados, mas também é verdade que em pouco tempo multiplicaram-se as visitas chinesas à ilha.
Quando, em 2012, os EUA fizeram saber que pretendiam reduzir os efetivos na base das Lajes, as atenções dos chineses passaram a estar nos Açores. A imprensa especializada começou desde cedo a tocar no assunto e a somar pontos de interesse. Um dos sinais que correu os corredores da política internacional foi o acordo estabelecido com a Irlanda. Este passo no sentido do comércio livre entre os dois países permitiu abrir as portas à utilização dos portos islandeses para a nova rota polar, explorada pelos chineses.
O Asian Times chegou mesmo a insistir na importância estratégica das Lajes e a conclusão era simples: «Se Pequim conseguir agarrar esta base, pode interferir tanto no tráfego marítimo como aéreo entre os EUA e a Europa».
Numa entrevista à Bloomberg, Costa acabou por admitir a possibilidade de a China vir a usar a base. «Claro que é uma boa oportunidade para criar uma plataforma de pesquisa científica e estamos abertos a cooperação com todos os parceiros, incluindo a China», disse, perante a insistência do jornalista.
Nem o céu é limite
É de notar ainda que as parcerias e ambições partilhadas pelos dois países vai mais longe e, por isso, Portugal e China vão criar já no próximo ano um laboratório para o espaço e oceanos. O STARlab, que arranca em pleno já na primavera, vai ter um polo em Peniche e outro em Matosinhos. Com um investimento na ordem dos 50 milhões de euros, este laboratório tecnológico servirá principalmente a construção de microssatélites e observação de oceanos. Até porque importa referir que Pequim tem estado a demonstrar, de forma muito clara, a sua crescente ambição espacial. O objetivo não podia ser mais concreto: Concorrer com a União Europeia, Rússia e EUA. Para isso, está a ser preparada uma missão inovadora ao lado oculto da Lua. Há quem garanta que, se for bem-sucedida, esta missão acabará por colocar a China na liderança da exploração lunar.
E é também nesta matéria que os Açores fazem sentido. Ainda que tenha começado por não integrar o projeto, a China começou desde cedo a mostrar grande interesse no Centro de Investigação Internacional do Atlântico – Air Center, nos Açores. Fonte da secretaria regional do Mar, Ciência e Tecnologia dos Açores chegou mesmo a garantir recentemente que a China esteve representada numa reunião ‘Atlantic Interactions’, em 2017. O Air Center terá, segundo o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, dois objetivos fundamentais: a «criação de emprego» e o contributo para «um futuro sustentável», nomeadamente através da monitorização das alterações climáticas e dos seus efeitos.