As mulheres não são inferiores e não precisam de cotas

Esta semana futebolística foi animada por uma declaração de Jorge Andrade, antigo jogador do FC do Porto e da seleção nacional, onde este explicava como travaria João Félix, a nova coqueluche do Benfica, se ainda jogasse: «Dava-lhe um pisão e ele afastava-se», disse, provocando um pequeno terramoto no mundo da bola, o mais histérico da…

Esta semana futebolística foi animada por uma declaração de Jorge Andrade, antigo jogador do FC do Porto e da seleção nacional, onde este explicava como travaria João Félix, a nova coqueluche do Benfica, se ainda jogasse: «Dava-lhe um pisão e ele afastava-se», disse, provocando um pequeno terramoto no mundo da bola, o mais histérico da sociedade portuguesa. Jorge Andrade, na sua ingenuidade, disse aquilo que todos faziam e fazem: impor respeito ou medo ao adversário. A esse propósito, lembro-me sempre de uma entrevista de Mozer, antigo central do Benfica, que contou como foi o seu primeiro jogo pelo clube da Luz. O encontro foi contra o Salgueiros, que contava com um avançado habilidoso de seu nome Tonanha, se a memória não me atraiçoa. Contava então o magnifíco e caceteiro jogador, que avisou o avançado logo na primeira jogada para não o tentar fintar: «Comigo, só podes jogar ao primeiro toque, recebes e passas, se me tentares fintar, já sabes que a coisa vai ficar feia», foi desta forma, mais coisa menos coisa, que Mozer recordou o seu primeiro jogo. O problema é que Tonanha começou a entusiasmar-se e depois de ter cumprido o pacto com Mozer, decidiu inventar e fintar o defesa benfiquista. Com a plateia a assobiar a nova contratação benfiquista, o avanço do Salgueiros na jogada seguinte ficou com os dois pés no ar.

Não sei se Mozer levou cartão amarelo ou vermelho, mas calculo que não tenha levado nenhum. É claro que hoje o futebol é diferente, mas a manha continua a fazer parte do jogo, daí ter estranhado o aparecimento de tantas virgens ofendidas. Hoje, com tantas câmaras, os jogadores não podem recorrer com tanta insistência a essas ‘cacetadas’ como no tempo de Jorge Andrade e Mozer, mas que existem, existem. Que fique claro que não defendo a violência e que essas jogadas praticadas no passado pelos dois jogadores referidos devem ser muito penalizadas. Só que todos sabemos que o futebol também é isso.

Vem esta conversa toda a propósito da nova lei da Paridade aprovada ontem na Assembleia da República e que implica a presença de 40% de mulheres em todos os cargos políticos. Todos sabem que não é por ser obrigatório haver determinado número de mulheres que elas se vão interessar pela causa e que isso não significa uma melhoria dos cargos. Ou a Assembleia da República vai melhorar porque em vez de 33% de mulheres vai passar a  haver 40%? Rita Rato, do PCP, foi bastante assertiva: «A lei da paridade radica num embuste, que é o sexo de cada um dos eleitos que determina a justeza das propostas». Claro que Rita Rato não se importava de definir o número de deputados pela sua ideologia e se pudesse, calculo, só entrariam no Parlamento homens e mulheres com a cartilha de Marx debaixo do braço. Mas isso é outra história.

Que os partidos devem cativar as mulheres para a causa pública e política, ninguém tem dúvidas, mas a história das cotas só as menoriza. Por este andar, ainda vai aparecer alguma proposta a defender que se um Presidente é homem só deve fazer meio mandato para entrar uma mulher nos dois últimos anos e meio. Nesta fúria das cotas, calculo que também não deva faltar muito para que alguém queira determinar um número para hipocondríacos, bulímicos, transgéneros, negros, amarelos, azuis e por aí fora…

vitor.rainho@sol.pt