CGD. Macedo esbanja em reunião de quadros

Só o aluguer da Altice Arena terá custado cerca de 50 mil euros. A este valor acrescem outros gastos, que podem triplicar a despesa. Macedo disse no encontro que 2019 ‘vai ser um ano de transformação’.

CGD. Macedo esbanja em reunião de quadros

Os trabalhadores da Caixa Geral de Depósitos estiveram reunidos no sábado passado na Altice Arena. O SOL contactou o banco público e não obteve qualquer resposta, mas o sabe que o banco liderado por Paulo Macedo terá gasto perto de 50 mil euros só para fazer a reunião naquele local. A este valor há que somar gastos extra, nomeadamente com audiovisuais e catering, o que poderá triplicar aquele valor.

Ao que o SOL apurou, o encontro contou com cerca de seis mil trabalhadores, que vieram de norte a sul do país para assistir à palestra de motivação de Paulo Macedo, assim como ao anúncio de que 2019 «vai ser um ano de transformação» para o banco público, sem adiantar pormenores. O SOL sabe que em cima da mesa, a par do plano de transformação acordado com Bruxelas em troca da recapitalização de quase cinco mil milhões de euros que continua em marcha – com o fecho de balcões e redução do número de trabalhadores através de programas de pré-reforma e de rescisão por mútuo acordo –, está também pensada uma mudança de rebranding (marca).

Esta não é a primeira vez que os quadros da Caixa estão reunidos. No ano passado, o local escolhido foi em Santa Maria da Feira, no centro de congressos do Europarque. Uma reunião que ficou marcada pela concentração de vários sindicatos dos bancários que integram a Federação Nacional do Sector Financeiro (Febase) acusando a administração da instituição financeira de diversos «atropelos» aos direitos dos trabalhadores do banco público, nomeadamente no que dizia respeito ao incumprimento do Acordo de Empresa e ao encerramento de agências.

Para este ano e para o próximo está a prevista a saída de uma centena de trabalhadores com vista a cumprir os objetivos acordados com Bruxelas: menos 2.200 colaboradores até 2020. E, para isso, o banco público tem 180 milhões de euros para indemnizar os que saírem. De acordo com as últimas contas da Caixa, saíram 547 pessoas em 2017 e 646 trabalhadores em 2018, ou seja, mais de metade da meta está cumprida, faltando ainda 1.007. O mesmo cenário repete-se no encerramento de balcões. Desde que Paulo Macedo assumiu a liderança foram encerradas 195 agências totalizando 522. Mas a ideia é chegar até 2020 entre 470 e 490 balcões.

Esta tem sido a fórmula encontrada pelo presidente da Caixa, juntamente com o agravamento das comissões ­– só no ano passado, a Caixa encaixou 472,2 milhões de euros com serviços e comissões – para levar a instituição financeira a resultados positivos. Só no ano passado, o banco público lucrou 496 milhões de euros, o melhor resultado desde 2007 (ver texto ao lado).

O que é certo é que estes gastos extra com a reunião de quadros ocorre numa altura em que a Caixa está debaixo de fogo com os resultados da auditoria da EY feita à gestão do banco entre 2000 a 2015, onde avaliou sete operações de crédito com risco grave ou elevado e, só nestas, estimou perdas de mais de mil milhões de euros.

Um cenário agora afastado por Paulo Macedo. Ainda ontem, o presidente da instituição financeira revelou aos deputados que «houve uma evolução» que «torna impossível que se passe o que se passava nesta época anterior». Acrescentando: «No passado, os administradores não tinham avaliações formais». Agora têm avaliações formais e individuais. E dá como exemplo o maior controlo que existe nas atas das reuniões do conselho que, de acordo com o responsável, «têm mais de 20 páginas», revelou na quinta-feira, na comissão de Orçamento e Finanças.

Também aos deputados garantiu que não cabe ao Estado «intrometer-se na concessão de crédito», mas defende ser necessário que o acionista defina a sua função dentro da instituição financeira. «Não cabe ao Estado intrometer-se na concessão de crédito, política de prémios e dar indicação para a compra e venda de ativos». Ainda assim, afirmou esperar «que hoje em dia haja um consenso» sobre o tema, «à luz do que aconteceu e à luz da evolução das práticas» do banco.

Em causa está a auditoria da EY à gestão da instituição financeira entre 2000 e 2015, onde avaliou sete operações de crédito com risco grave ou elevado e, só nestas, estimou perdas de mais de mil milhões de euros.

Em relação aos créditos mais problemáticos, o presidente executivo do banco revelou que decidiu ficar com os créditos mais problemáticos, em vez de os vender, para os tentar recuperar. «A Caixa está determinada a não desistir e a recuperar dinheiro e valores que haja, mesmo em situações muito difíceis», disse aos deputados.

Macedo adiantou, no entanto, que há créditos com colaterais envolvidos, ou avalistas, que podem ser executados. Noutros casos, disse, será mais difícil, já que «quer sócios quer as empresas estão totalmente insolventes, ou melhor, declararam-se».

 

Governador pede escusa

 Já esta sexta-feira foi revelado que o governador do Banco de Portugal pediu para não participar nas decisões do regulador quanto à eventual responsabilização de antigos gestores da Caixa, pedido esse que foi aceite pelo Conselho de Administração. Isto porque, quando era administrador do banco público esteve em várias reuniões que aprovaram créditos ruinosos. É o caso, por exemplo, da compra de ações pela Metalgest (de Joe Berardo) e da Investifino (de Manuel Fino), dois dos principais devedores do banco público.

No entanto, Carlos Costa «reitera que está totalmente disponível, como sempre esteve, para prestar todos os esclarecimentos que a Assembleia da República entender necessários, designadamente sobre os termos da sua participação nos órgãos colegiais que aprovaram as operações que são objeto da auditoria da EY à CGD», disse em comunicado.