A TAP ou uma low cost a testar aviões

Se não fosse o pessoal, não voava mais na TAP. Comandantes, pilotos, hospedeiras e comissários de bordo são do melhor: competentes, simpáticos, sempre disponíveis.

No mais, um horror.

Viajei recentemente para uma capital europeia, como sempre que possível, na companhia aérea portuguesa.

Uma desilusão. Não fora o voo ser de poucas horas e teria sido um pesadelo.

Se o corredor do avião passou a ser o mais estreito que pode, provocando inevitáveis encontrões e atropelos, cada lugar passou a ter menos espaço do que o mínimo aceitável, sobretudo para quem mais alto ou mais forte do que a média.

Os bancos são agora o mais fininhos que possa imaginar-se e cada vez com menos espaço em redor (aliás, os braços são quase inexistentes). Para levar o maior número de pessoas, porque a comodidade dos passageiros passou definitivamente para segundo plano.

E não há upgrade possível. Mesmo os lugares da classe mais cara estão reduzidos a três ridículas filas sem diferença que justifique o preço, separadas das outras apenas pelo catering e por uma absurda cortina.

O catering – que em idos tempos fazia a diferença em relação a outras reputadas companhias – é hoje de um pretensiosismo equivalente à mixuruquice. Anunciar pelo sistema de som da aeronave que será servida uma refeição é gozar com os passageiros.

Mas, uma vez mais, enfim… não é bom para a TAP – e muito menos para quem nela viaja.

Mas mal, mal maior, bem pior é ter-se transformado a TAP numa empresa de testes para a Airbus.

Como foi notícia de manchete na última edição do SOL, a companhia portuguesa comprou umas dezenas de aeronaves novinhas em folha e nunca antes testadas, de tal forma que só agora estão a ser detetados os respetivos defeitos. Ao ponto de, especialmente no longo curso, tais aviões não comportarem lotação esgotada e obrigarem a aliviar a carga no porão para garantir autonomia suficiente para o voo, como confirmaram ao SOL_várias fontes.

E o que fez a companhia? Envidou seus melhores esforços para reduzir os impactos negativos, emitindo ‘comunicado interno’ no dia seguinte, desmentindo a notícia e procurando comprometer os respetivos autores e condicionar o jornal dizendo que as suas tentativas de esclarecimento foram por estes ignorados. Ora, não houve qualquer esclarecimento. Nem por escrito nem verbal. A estratégia comunicacional usada foi, como é óbvio, outra – aliás, useira e vezeira noutras grandes empresas de outros tempos, com os resultados que hoje se conhecem, nada esclarecendo e procurando imputar aos autores da notícia e ao jornal a ausência de contraditório.

Nos dias que correm, já não é possível abafar a informação como se abafou no passado. Já não é possível. E os sobreviventes desse passado que lograram passar entre os pingos da chuva em tão grandes escândalos e que conservam tanto de arrogância como de falta de escrúpulos já só jogam o jogo que os deixam jogar e que já não conseguem dominar. E sobrevivem porque os critérios dos acionistas da TAP são, afinal, terceiro-mundistas.

Esperemos, a bem de todos, que nunca venham a confirmar-se os piores cenários e que a sorte os acompanhe sempre, a bem de todos.

A TAP pode até já ser uma low cost ao serviço da brasileira Azul – apesar de o Estado, deste Governo, ter revertido a sua privatização –, mas daí a tornar-se também numa companhia de testes de novos aviões ou perder a reputação de uma das companhias aéreas com menor sinistralidade e maior segurança é que não pode ser.

Por mais propaganda barata que faça e por mais que se esconda em cobarde arrogância. E, já agora, esperemos que o acionista Estado e que o novo ministro das Infraestruturas não continuem a fechar os olhos a tudo o que os acionistas brasileiros decidem fazer.

A bem da TAP e dos seus passageiros – apesar de tudo, ainda somos muitos.