Guerra aberta no PS-Porto

O líder da maior federação distrital socialista arrisca-se a ficar em lugar  não elegível e não gostou da decisão do primeiro-ministro. O nono lugar na equipa de Pedro Marques deixou militantes da Invicta em choque… mas o visado está em silêncio para não aumentar a tensão interna.

Guerra aberta no PS-Porto

Não há memória recente no PS de tanta tensão por um lugar numa lista eleitoral entre a maior federação do partido, a do Porto, e a direção nacional socialista. O PS fecha a equipa de nomes para as eleições europeias no próximo dia 28 de fevereiro e a grande dúvida chama-se Manuel Pizarro, o líder da federação do PS/Porto.

O antigo governante e atual autarca na Câmara do Porto teve uma conversa com o primeiro-ministro no passado domingo, no rescaldo da convenção nacional para as eleições europeias, e a conversa não terá corrido bem, de acordo com informações recolhidas pelo SOL. O nono lugar, uma posição considerada na zona cinzenta da lista para garantir a eleição, terá sido a proposta feita por Costa a Manuel Pizarro.

O cenário deixou vários militantes do Porto em «choque» pela situação colocada à federação do PS/Porto. E há quem admita uma  rutura com a direção nacional. Ora, o próprio remeteu-se ao silêncio para não alimentar a escalada de tensão interna no PS/Porto. De facto, o líder da federação distrital do PS/Porto  não está satisfeito e chegou a pedir conselhos sobre o melhor caminho a seguir na passada segunda-feira.

Mais, no dia 25 de fevereiro está marcada uma reunião do secretariado da federação e alguns dos seus membros esperam que Pizarro diga de sua justiça: aceita ou não  o lugar oferecido na lista.

Neste quadro haverá leituras para tudo: se Pizarro aceitar o lugar, abre caminho a eventuais opositores internos no Porto, por concorrer na cauda da lista. Se não aceitar, pode ser interpretado como um sinal de rutura com o Largo de Rato. Os dois cenários deixam o dirigente numa situação delicada.

Há quem lembre, aliás, que é a primeira vez, em 20 anos, que o PS/Porto fica representado num lugar «pouco honroso», confidenciou ao SOL um responsável local. O cenário de tensão interna piora se a deputada Isabel Santos surgir em quarto lugar na lista para as Europeias de 26 de maio. Para alguns dirigentes locais seria «uma afronta» à direção da federação, porque Pizarro não seria, sequer, o primeiro nome do Porto representado na lista. E a escolha de Isabel Santos poderia ser encarada como uma vitória do líder concelhio Renato Sampaio, rival de Manuel Pizarro, que o responsabilizou pela derrota autárquica no Porto em 2017.

A hipótese de Manuel Pizarro vir a recusar o nono lugar na lista, fruto de compromissos com os Açores e a Madeira e sob o chapéu de uma lista totalmente paritária, terá sido abordada ainda, que de forma indireta, na última reunião do secretariado nacional do PS. A reunião decorreu em plena convenção nacional das Europeias, em Vila Nova de Gaia, e a resistência de Pizarro já era pública, com uma notícia do Expresso.  No meio de uma das suas intervenções, o primeiro-ministro e secretário-geral, António Costa, terá deixado um desabafo, numa das intervenções, ao referir que «com tantas recusas, a continuar assim, qualquer dia não temos pessoas para fechar a lista». A frase, segundo apurou o SOL, foi interpretada por alguns socialistas como um recado ao líder da Federação do PS/Porto.

O visado está a ser aconselhado a aceitar o lugar porque o ano de 2019 é sinónimo de eleições legislativas e é necessário mobilizar os militantes. Porém, ainda não terá tomado uma decisão.

Neste quadro existe ainda um outro dado que não tem passado despercebido a muitos socialistas: a hipótese de o cabeça de lista do PS, Pedro Marques, vir a ser comissário europeu. A ideia é ainda extemporânea, mas o próprio foi confrontado com esse cenário na mais recente entrevista ao Público e à Rádio Renascença. O ex-ministro do Planeamento não quis responder à questão: «Eu não queria de maneira nenhuma para apoucar estas eleições, ou retirar-lhe centralidade, ao responder a essa pergunta», afirmou Pedro Marques perante a pergunta se gostaria de ser comissário europeu. A fórmula que o candidato utilizou foi evasiva e há quem admita ao SOL que se o PS não conseguir eleger nove eurodeputados, mas apenas oito, Pizarro poderá ir para Bruxelas mais  tarde, depois da escolha do comissário europeu português.

 

As incógnitas no PS

O cabeça de lista socialista, Pedro Marques, foi anunciado no passado sábado em plena convenção sobre as europeias, naquilo que era o segredo mais mal guardado desde o mês de dezembro. A novidade foi a escolha da número dois da lista, a ex-ministra da presidência e da modernização administrativa, Maria Manuel Leitão Marques. A decisão obrigou uma a remodelação no Governo e no dia da tomada de posse, o  primeiro-ministro, António Costa, surpreendeu tudo e todos ao confirmar o seu nome nas listas a partir da sala das Bicas, no Palácio de Belém.  A ex- ministra foi a solução encontrada por Costa para um lugar, que à partida, estaria destinado a Maria João Rodrigues, eurodeputada socialista.

Contudo a parlamentar enfrenta uma investigação por assédio laboral, que a pode deixar fora das lista. Talvez por isso, o número quatro da equipa de Pedro Marques ainda esteja em aberto. Sendo quase certo que o terceiro lugar será para o eurodeputado Carlos Zorrinho,  a posição seguinte pertencerá a uma mulher. A dúvida aumentou ao longo das últimas semanas, e a especulação também. Em cima da mesa estarão também os nomes da deputada Margarida Marques ou, então o de Isabel Santos, Esta última versão apenas aumentaria a tensão interna no Porto.

Maria João Rodrigues tem estado, de facto, no centro das atenções e não será pelas melhores razões. Esta semana,  a Lusa e o Expresso diário noticiaram que Henri Naillet, um antigo ministro da equipa do já falecido presidente francês François Miterrand (socialista) acusou a eurodeputada de liderar um processo pouco democrático na escolha do novo secretário-geral Fundação Europeia de Estudos Progressivos (FEPS). Maria João Rodrigues, que preside à organização,  negou «categoricamente» as acusações.

De acordo com as informações recolhidas pelo SOL, no quinto lugar deve surgir Pedro Silva Pereira, seguido de uma mulher indicada pelo PS/Madeira.  Contudo,  a eurodeputada Liliana Rodrigues dificilmente será reconduzida e tem este fim de semana uma reunião decisiva com os dirigentes socialistas da Madeira, após uma negociação difícil que se arrasta há duas semanas. A eurodeputada também chegou a ser alvo de um processo por assédio laboral no final de 2014, mas o caso foi arquivado.

 O sétimo lugar está definido para o PS/Açores e André Bradford é o escolhido. O oitavo lugar  deverá estar destinado à deputada socialista Sónia Fertuzinhos.