CIA foi responsável por assalto à embaixada da Coreia do Norte em Madrid

O “El País” avança que pelo menos dois dos assaltantes identificados têm ligação à CIA, tendo roubado computadores e telemóveis da embaixada

As autoridades espanholas suspeitam que o assalto à embaixada da Coreia do Norte em Madrid, a 22 de fevereiro, seja obra da Agência Central de Inteligência (CIA). Fontes do Centro Nacional de Inteligência (CNI), a agência de contraespionagem espanhola, confirmaram ao “El País” que apesar da maioria dos assaltantes identificados serem coreanos, dois deles são conhecidos pelos seus vínculos à CIA, apontando para que a operação seja uma colaboração entre os EUA e a Coreia do Sul. 

A investigação decorre dentro de grande secretismo, podendo ser ordenados mandatos de detenção para os culpados materiais, apesar de ser pouco provável que se possa provar judicialmente a participação da CIA no caso, admitem as fontes do “El País”. Contudo, acrescentam que o assalto está a causar tensão nas relações entre Madrid e Washington, podendo colocar em causa as diversas parcerias militares e estratégicas entre os dois países. Não só a CIA terá agido em solo espanhol sem pedir autorização como violou as leis internacionais que protegem delegações diplomáticas. 

A agência secreta norte-americana terá sido questionada quanto ao assunto pelos seus homólogos espanhóis, que consideraram a resposta negativa da CIA como “pouco convincente”.

O episódio ocorreu nas vésperas da cimeira no Vietname entre o líder norte-coreano Kim Jong-un e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em que os dois países tentavam desarmar quase 70 anos de hostilidade mútua entre as duas potências nucleares. A cimeira, que pretendia ser o maior sucesso diplomático até à data de Trump, acabou por ser um fiasco, não se chegando a nenhum acordo. No entanto, a participação da CIA no assalto à embaixada norte-coreana em Madrid poderá ter um efeito explosivo para tentativas futuras de desnuclearização da Coreia do Norte.

O que aconteceu? Fontes próximas da investigação revelaram ao “El País” que a dia 22 de fevereiro, por volta das 15 horas, “10 pessoas com armas falsas” entraram na delegação diplomática, agindo de uma maneira “planeada”, “como comandos”, tendo algemado, amordaçado, espancado e interrogado os oito funcionários presentes durante pelo menos duas horas. Os assaltantes “sabiam o que queriam levar”, levando computadores e telemóveis e arquivos informáticos.

No entanto, os gritos de uma mulher, que conseguiu escapar por uma janela do segundo andar, alertaram um vizinho, que ligou à polícia. Quando chegou um carro patrulha, um homem de aspeto oriental foi à porta avisar que estava tudo bem, tendo os assaltantes pouco depois arrancado da embaixada a toda a velocidade nos carros de alta cilindrada dos representantes diplomáticos norte-coreanos.

Rapidamente a hipótese de que se tratava de um crime de delito comum foi colocada de lado pelos investigadores espanhóis, dada a sofisticação e eficência da operação. Os investigadores interrogaram vizinhos e terão tido acesso às gravações das câmaras de segurança das áreas circundantes, tendo assim identificado os assaltantes.

Porquê? Coloca-se a possibilidade de que a operação tivesse como objetivo adquirir informação sobre o antigo embaixador em Madrid, Kim Hyok-chol. O diplomata foi expulso do país pelas autoridades espanholas em setembro de 2017, devido aos testes nucleares efetuados por Pyongyang. Hyok-chol é agora um dos principais negociadores norte-coreanos com os Estados Unidos, estando diretamente envolvido na organização da cimeira no Vietname. A tese é reforçada pelo facto do aparente líder dos assaltantes ter interrogado separadamente o encarregado de negócios da embaixada, que trabalhou de perto com Hyok-chol entre 2014 e 2017.