Os curdos pedem tribunais internacionais para combatentes do Estado Islâmico

Os rebeldes não têm capacidade para manter milhares de jihadistas detidos nem para os julgar.

O último reduto do Estado Islâmico na Síria, a aldeia de Baghuz, foi conquistado pelas Forças Democráticas Sírias, mas, agora, novas dificuldades surgem. Os rebeldes sírios capturaram milhares de jihadistas e não sabem o que fazer com eles: não têm locais suficientes para os manter detidos indefinidamente nem tribunais capazes de os julgar. Assim, o comandante e responsável pelos Negócios Estrangeiros dessa força, Abdul Karim Omar, apelou à criação de um “tribunal internacional especial no norte-oeste da Síria para julgar os terroristas” para se garantir que os julgamentos “são conduzidos de forma justa e de acordo com a lei internacional e as convenções e Carta dos direitos humanos”. 

Muitos dos jihadistas sob controlo dos curdos proveem de países ocidentais e a recusa de muitos destes Estados em recebê-los e os julgar não facilitou a situação dos curdos, que se veem obrigados a despender recursos materiais e humanos para os manterem cativos. Houve até Estados que decidiram retirar a nacionalidade aos jihadistas. Desde janeiro que os curdos já capturaram cinco mil jihadistas, entre os quais mil estrangeiros, a que se juntam mais de nove mil familiares estrangeiros dos detidos, muitos dos quais crianças. 

“O chefe dos Negócios Estrangeiros da administração [das Forças Democráticas Sírias] disse-me sentir que os curdos foram deixados a lidar sozinhos com a detenção dos membros do EI e com as suas famílias sem que haja qualquer plano para o que aconteça a seguir”, afirmou Aleem Maqbool, correspondente da BBC no norte da Síria. 

Sabendo da situação no terreno, os Estados Unidos, o principal aliado dos curdos, apelaram aos seus parceiros europeus que aceitassem os jihadistas. A Alemanha respondeu que as suas capacidades na Síria são escassas e que é difícil repatriá-los, enquanto a França rejeitou o pedido norte-americano: “Nesta fase, a França não responderá às exigências” dos EUA, disse a ministra da Justiça franceasa, Nicole Belloubet. 

Ainda que o Estado Islâmico tenha deixado de controlar território, a ameaça que representa não desapareceu, prevendo-se que organize e incentive atentados terroristas em solo europeu para mostrar que ainda tem capacidades ofensivas. O Estado Islâmico deverá abandonar os métodos convencionais para se dedicar a uma estratégia diferente. Entre 15 mil a 20 mil combatentes do EI mantêm-se ativos no Iraque e Síria.

Os jihadistas poderão regressar à Europa com novas e mais “perigosas” capacidades e ligações, explicou o chefe do MI6 britânico, Alex Younger, na Conferência de Segurança de Munique. “Estamos muito preocupados sobre isto por toda a experiência nos dizer que uma vez que alguém se coloca nesse tipo de posição é bem provável que tenha adquirido capacidades e ligações que os faz potencialmente muito perigosos”, acrescentou.