Na semana passada o antigo primeiro-ministro e antigo Presidente da República Cavaco Silva afirmou não se recordar de existirem relações familiares nos governos que chefiou.
Ontem, na apresentação do livro “A Reforma das Finanças Públicas em Portugal”, de Joaquim Miranda Sarmento, porta-voz do conselho estratégico nacional do PSD, Cavaco Silva voltou a referir-se ao mesmo tema, apontando como “indecorosa” a prática dos “jobs for the boys”.
De acordo com uma investigação do Polígrafo, são quinze as relações que existiram no governo de Cavaco Silva, sendo que dessas, duas faziam parte do seu gabinete.
Foi numa publicação do jornal O Independente, de 7 de fevereiro de 1992, que várias das nomeações foram expostas. O primeiro nome é Maria dos Anjos Nogueira, mulher do ministro da Presidência e da Defesa Nacional Fernando Nogueira, que foi colocada como adjunta do secretário de Estado da Saúde, José Martins Nunes.
Fátima Dias Loureiro, mulher de Dias Loureiro, ministro da Aministração interna, foi adjunta de Santana Lopes. Ao Independente, na época afirmou: “estou cá e não guardo segredo (…) estou cá pelo que sou”.
Sofia Marques Mendes, mulher de Marques Mendes, atualmente comentador da SIC, foi nomeada para adjunta do secretário de Estado da Agricultura, Álvaro Amaro. Tinha sido professor durante oito anos e, quando tomou posse, passou a auferir de 310 contos líquidos, o mesmo valor do salário de Fátimas Dias Loureiro.
Margarida Cunha, mulher do então ministro da Agricultura Arlindo Cunha, é outro dos casos apresentados. Foi nomeada para secretária do ministro Couto dos Santos, com um salário mensal de 150 contos.
Maria Filomena de Sousa Encarnação era adjunta do subsecretário de Estado da Cultura, António Sousa Lara, além de ser mulher de Carlos Encarnação.
Luís Filipe Menezes, à época secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares (e futuro líder do PSD) também levou a mulher, Maria Cândida Menezes, para o Governo. Era secretária de Fernando Nogueira.
Celeste Amaro, mulher de Álvaro Amaro, secretário de Estado da Agricultura, foi designada para trabalhar nos serviços sociais da Presidência do Conselho de Ministros, onde era vogal da direção.
Outro caso é o de Paula Teixeira da Cruz e Paulo Teixeira Pinto, mas este tem contornos diferentes. Na verdade, Paula Teixeira da Cruz foi assessora externa de Marques Mendes em 1987 e o marido, nomeado sub-secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, entrou para o gabinete depois dela.
Regina Estácio Marques, secretária de Carlos Encarnação, era casada com Pedro Estácio Marques, assessor de Cavaco Silva. Assim, o ex primeiro ministro tinha no seu gabinete colaboradores com familiares diretos na estrutura governamental.
Fátima Loureiro, mulher de Carlos Loureiro, veio com o marido de Coimbra para Lisboa, ambos para integrarem o Governo, mais concretamente a pasta da Administração interna.
Mas a lista apresentada pelo Polígrafo não fica por aqui.
Eduarda Honorato Ferreira era responsável pela coordenação da agenda do Ministro das Finanças e irmã de José Honorato Ferreira, chefe de gabinete de Cavaco Silva.
Isabel Elias da Costa era adjunta de Couto dos Santos nos Assuntos Parlamentares e mulher de Elias da Costa, secretário de Estado das Finanças.
Teresa Corte Real Silva Pinto era secretária de Couto dos Santos e irmã da secretária de Estado da Modernização Administrativa, Isabel Corte Real
Isabel Ataíde Cordeiro, adjunta da secretária de Estado do Desenvolvimento e Planeamento Regional, Isabel Mota era mulher de Manuel Falcão, chefe de gabinete do secretário de Estado da Cultura. Neste caso, Isabel já fazia parte do gabinete antes de o marido entrar para o Governo.
Por fim, Margarida Durão Barroso, mulher de Durão Barroso, que era na época secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação – e que mais tarde chegaria a líder do PSD e da Comissão Europeia – integrou a Comissão dos Descobrimentos.
Ao todo, no tempo em que Cavaco Silva foi chefe do Executivo foram 15 os ‘casos de família’ existentes.
Recorde-se que no atual Governo houve hoje uma baixa devido a uma questão de relações familiares dentro do Executivo. Carlos Martins, secretário de Estado do Ambiente, demitiu-se esta quinta-feira, de pois de ter ter escolhido o primo, Armindo dos Santos Alves – entretanto também já afastado – para adjunto do seu gabinete.