António Costa ama os hospitais privados

A preferência de António Costa pelos hospitais privados vem de longe, ao contrário do que esta ópera bufa recente das PPP quer fazer crer

A preferência de António Costa pelos hospitais privados vem de longe, ao contrário do que esta ópera bufa recente das PPP quer fazer crer. Apresento-vos uma insofismável prova de amor de António Costa pelo setor privado para os leitores ajuizarem. 

Em julho de 2014, era António Costa presidente da CML, foi notícia que a câmara ia fechar o quartel de bombeiros mais moderno da cidade para poder vender o terreno à Espírito Santo Saúde. O Hospital da Luz (detido por este grupo) era encostado ao quartel, construído num terreno do município de Lisboa.  

Declarou então a CML que o terreno seria vendido em hasta pública para que pudessem «aparecer outros interessados no negócio». Porém, coincidência das coincidências, na revisão do plano de pormenor da zona (iniciado em 2010) já se previa o alargamento do hospital para o terreno onde estavam os bombeiros.

Refira-se que o quartel, ‘entalado’ entre o Hospital da Luz e o Colombo, inaugurado em 2004, fora projetado pelo arquiteto Manuel Salgado, primo de Ricardo Salgado e membro da família Espírito Santo – o qual, entretanto, se tornou vereador do Urbanismo na Câmara de Lisboa, lugar que ocupa desde 2007 até hoje. 

Em fevereiro de 2014, ainda a câmara não tinha discutido a revisão do plano (que foi aprovada pelo executivo municipal em abril desse ano, com as abstenções do PSD, CDS e PCP), já a Espírito Santo Saúde anunciava que «ia aumentar em 40% a área construída do Hospital da Luz, com um investimento de 60 a 70 milhões de euros a realizar até 2018». Ora, o hospital só podia crescer para o lote do quartel de bombeiros…

O caderno de encargos e o programa da hasta pública do terreno municipal foram tornados públicos: o terreno foi à praça por um valor-base de 15,8 milhões de euros, para uma área de construção de 29.164 m2, para qualquer uso.

Mais se dizia que, na data de assinatura do contrato, a câmara se comprometia a entregar o terreno com o quartel de bombeiros «livre de pessoas e bens», podendo o comprador «demoli-lo a expensas suas». 

No dia 1 de dezembro de 2014, em hasta pública, a Espírito Santo Saúde, em envelope fechado, ofereceu 15.580.001 euros, um euro acima do valor-base estipulado pela Câmara Municipal de Lisboa. 

E tornou-se proprietária do terreno onde estava o quartel do Regimento de Sapadores de Lisboa, porque foi o único interessado a apresentar proposta. 

António Costa, presidente da CML, sacrificou portanto um quartel de bombeiros, vendendo o terreno municipal onde este se encontrava, para que o grupo Espírito Santo aumentasse o seu hospital privado – o Hospital da Luz. E mais, levou à Assembleia Municipal todas as alterações dos planos urbanísticos para que tal fosse possível. 

Não veem aqui uma prova de amor, esforço e compreensão de António Costa relativamente ao setor privado da saúde? 

sofiarocha@sol.pt