Os partidos que se cuidem!

As campanhas para as europeias foram guerras políticas intestinas, todos a denegrir, ninguém a construir

As análises sobre as europeias estão feitas e mais que feitas. A abstenção atingiu números recorde: 68,99%. Dos votos que entraram nas urnas, 6,94% foram brancos ou nulos. Assim, 76% dos portugueses explicaram bem que não se revêem nestes partidos ou nestes políticos ou em ambos.

 Sei que as eleições eram europeias e a maioria das pessoas que viveram antes da adesão à Europa (há 33 anos!) esquecem com facilidade as condições em que então se vivia, nomeadamente económicas, claramente inferiores às atuais. Os mais novos não fazem nem ideia. Pertencer à Europa veio indiscutivelmente melhorar o nível de vida de todos nós – e, se hoje houvesse um referendo sobre continuar ou não na UE, tenho a convicção de que a adesão seria massiva e os resultados defendendo a continuidade seriam inequívocos. 

Regressemos ao tema dos 76% que acharam não valer a pena votar nesta gente que ocupa os lugares políticos. Obviamente que o tema é grave. Mas será que foi assim tão diferente das outras eleições? Olhando para trás, vemos que em 2009 foram cerca de 70% e em 2014 cerca de 74%. Ou seja, apenas se tem agravado um problema que é bem real da democracia e que todos os partidos democráticos e que acreditam na Europa nada fazem de concreto para combater.

 As campanhas para as europeias foram guerras políticas intestinas, todos a denegrir, ninguém a construir. Esperavam com isso atrair o eleitorado? Tirando os militantes, que são ‘obrigados’ a ir votar; tirando os esclarecidos e os que acreditam em causas como as ambientais; tirando os que gostam de protestar pelo feitio anárquico de dizer que ‘tudo está mal’ — os outros literalmente borrifam-se para a política.

De tudo o que ouvi na noite das eleições, retive numa rádio o protesto de um emigrante em França que ‘deu o salto’ antes do 25 de abril e dizia qualquer coisa assim: «Que sucedeu à democracia em Portugal? Tanto lutámos pelo direito de ter eleições livres e, passados 45 anos, quase ninguém usufrui desse direito?».

Muito mais que perderem o PCP ou a direita (PSD/CDS), a pergunta é: quem ganhou? 

Ganhou o Bloco, que nas europeias de 2009 teve 10,7% (382 mil votos) e agora teve 9,82% (324 mil)? A resposta é sim, se compararmos este resultado com as europeias de 2014 (4,56% e 149 mil votos). 

Ganhou o PS, que teve 31,46% nas europeias de 2014 (1.033 mil votos) e agora teve 33,41% (1.103 mil), ou seja, praticamente o mesmo? 

Ganharam os novos Verdes? O PAN teve 167 mil votos (5,08%) mas o MPT teve, em 2014, 234 mil votos (7,14%)… 

Querem a minha conclusão? 76% dos portugueses mostraram o cartão vermelho a estes políticos e estes partidos. Sobretudo a classe média, que é a força fiscal que alimenta, nos grandes números, este OGE com a maior carga fiscal de sempre. 

Ou seja, ou os políticos e partidos portugueses defendem ‘todos’ esta democracia maravilhosa que temos, em que os populismos não têm a expressão europeia, ou rapidamente serão triturados por novos partidos populistas com discursos de ‘sereia’.

P.S. – No Estádio do Jamor disputou-se a Taça de Portugal, vencendo o mais feliz. Deste jogo retive duas ideias. A primeira é que o Benfica demonstrou sem jogar que mereceu o título nacional (como o Porto mereceu em 2017). A segunda é que há um longo caminho a percorrer na democracia do futebol quando se apregoam cânticos anti-Benfica por claques que deviam festejar os seus êxitos.

*Economista