‘Marcelo tem razão’, diz santana lopes

PSD não gostou de ouvir Marcelo prever uma crise na direita. ‘Caiu muito mal no partido’.  Santana defende o Presidente e diz que ‘é a própria direita que faz mal a si própria’. 

Pedro Santana Lopes não alinha no coro de críticas ao Presidente da República por ter antecipado uma crise na direita nos «próximos anos». Pelo contrário. O líder da Aliança diz ao SOL que Marcelo «falou verdade quando disse o que disse sobre a direita» e considera «muito interessante tanta crítica a uma constatação presidencial».

As maiores críticas vieram do lado do PSD, que não gostou de ouvir o Presidente da República prever uma vitória dos socialistas nas legislativas de outubro e uma «crise na direita nos próximos anos» poucos dias depois de ter sofrido uma pesada derrota nas eleições europeias. 

«Caiu muito mal no PSD. Desde o militante de base aos mais altos dirigentes. Quando as pessoas estão no chão não é a altura para dar pontapés», diz ao SOL fonte do PSD. 

Ângelo Correia, que integra a equipa que está a preparar o programa eleitoral do partido, foi o mais duro com Marcelo. «O Presidente da República não é um comentador televisivo, é um integrador para regular o funcionamento das instituições e isso não fez. Falhou, errou», disse o histórico do PSD, que acusou Marcelo de «extravasar das suas funções constitucionais». 

Rui Rio foi mais brando, mas classificou o comentário como «um bocadinho superficial». 

O vice-presidente do partido, David Justino, disse na TSF que «este tipo de comentários» não ajuda a resolver os problemas do país. 

Mesmo os mais próximos de Marcelo Rebelo de Sousa consideraram a intervenção excessiva. 

José Miguel Júdice, amigo e apoiante desde a primeira hora do chefe de Estado, defendeu, na SIC,  que a declaração do Presidente da República «é um erro de alguém que tem uma brutal incontinência verbal». 

Santana Lopes, que já propôs uma coligação pré-eleitoral entre os partidos de direita, distancia-se das críticas e dá razão a Marcelo. «Não disse que a esquerda está fraca? Mas, eleitoralmente, não está. Está forte e com ânimo. No centro-direita e na direita é que estão quase todos  sem rumo», afirma. 

Para Santana Lopes, a direita só pode queixar-se de si própria. «É a própria direita que faz mal a si própria», avisa. 

Coligação à direita?

As interpretações sobre a intervenção de Marcelo na Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), no final da semana passada, em inglês, foram várias. Há quem pense que Marcelo está a preparar terreno para a recandidatura e com a direita fragilizada é preciso um Presidente para equilibrar o sistema. 

José Miguel Júdice pensa que Marcelo estará «apavorado» com a possibilidade de uma maioria absoluta do PS e acredita que a melhor maneira de o evitar é uma coligação entre os partidos de direita. «O que ele quis dizer foi: vocês só têm uma solução que é irem coligados às eleições».

Rio avalia hipóteses de coligação com distritais

O tema já foi abordado numa reunião entre Rui Rio e as distritais do PSD. 

O líder da distrital da Guarda e vice-presidente do grupo parlamentar, Carlos Peixoto,  segundo o Observador, defendeu que «uma não-coligação com o CDS tem impactos ao nível do número de deputados». 

O cenário de uma coligação pré-eleitoral é, porém, quase impossível de concretizar – como Marcelo deixou implícito.

Rui Rio e Assunção Cristas nunca mostraram disponibilidade para se juntar e o CDS já apresentou os principais candidatos às legislativas.

Mas há quem defenda a coligação dos dois partidos. 

Ribeiro e Castro é um dos nomes que tem defendido uma aproximação entre o CDS e o PSD. Ao SOL, o ex-líder dos centristas admite que «há sinais de preocupação» que passam pelos «péssimos resultados eleitorais, por algum desacerto de agenda, pela emergência de novos partidos e pelo afastamento entre os dois principais partidos de centro-direita. Estes são sinais que podem gerar alguma preocupação quanto à duração desta crise».

Ribeiro e Castro também não alinha com os que acusaram o Presidente de se ter excedido, porque o chefe de Estado «usa a palavra como entende e não disse nada de extraordinário», ou seja, «é evidente que à direita do PS existe uma situação crítica há bastante tempo».

Frases

Marcelo Rebelo de Sousa

Presidente da República

Eu diria que há uma forte possibilidade de haver uma crise na direita portuguesa nos próximos anos

 

Ângelo Correia

Ex-dirigente do PSD

O Presidente da República não é um comentador televisivo, é um integrador para assegurar o regular funcionamento das instituições e isso não fez. Falhou, errou

 

David Justino

Vice-presidente do PSD

No que é que este tipo de comentários ajuda a resolver os problemas do país? Nada!

 

José Eduardo Martins

Ex-deputado do PSD

Tenho muitas dúvidas de que esse seja o papel  do Presidente da República

 

Pires de Lima

Ex-dirigente do CDS

Queria pedir ao senhor Presidente da República, uma pessoa que considero muito, para ser mais seletivo e contido e despir a pele de comentado

 

José Miguel Júdice

Ex-dirigente do PSD

O Presidente não devia meter-se nisto.  É um erro de alguém  que tem uma brutal incontinência verbal