PJ do Porto realiza buscas em 18 municípios do Norte

Ao que o i/SOL apurou em causa estão ajustes diretos a sociedades de transporte que pertencem a um grupo empresarial de âmbito internacional. Em causa estão suspeitas de corrupção e favorecimento pessoal. Investigadores passam a pente fino gestão de vários autarcas, como o social-democrata Álvaro Amaro, antigo presidente da câmara da Guarda, ou o socialista Joaquim Jorge,…

A Polícia Judiciária do Porto está a realizar um novo raide às autarquias do norte do país. Nesta nova mega operação, com o nome de Rota Final, que contará com mais de uma centena de inspetores e outras dezenas de peritos, estão em causa ajustes diretos a empresas de transporte de passageiros, por suspeitas de corrupção e favorecimento pessoal.

Ao que o i/SOL apurou as autoridades estão a investigar 18 autarquias de várias cores políticas: "Águeda, Almeida, Armamar, Belmonte, Barcelos, Braga, Cinfães, Fundão, Guarda, Lamego, Moimenta da Beira, Oleiros, Oliveira de Azeméis, Oliveira do Bairro, Sertã, Soure, Pinhel e Tarouca", lê-se no comunicado da Polícia Judiciária.

Suspeita-se de diversas irregularidades na adjudicação de serviços a várias holdings do grupo empresarial francês Transdev, cuja atividade económica não se centra apenas em território nacional.

"Mediante atuação concertada de quadros dirigentes de empresa de transporte público, de grande implementação em território nacional com intervenção de ex-autarcas a título de consultores, beneficiando dos conhecimentos destes, terão sido influenciadas decisões a nível autárquico com favorecimento na celebração de contratos públicos de prestação de serviços de transporte", referem as autoridades, acrescentando assim que as regras de concorrência foram ignoradas, tendo havido lugar a "atribuição de compensação financeira indevida e prejuízo para o erário público". No mesmo documento consta ainda que "também no recrutamento de funcionários se terão verificado situações de favorecimento".

As diligências, que envolveram elementos das delegações da PJ do Porto, de Aveiro e de Braga, estão centradas apenas nas instalações das autarquias e nas empresas suspeitas e para os investigadores está em causa a atuação dos próprios presidentes de Câmara.

No caso da Guarda os investigadores estão a passar a pente fino não só a gestão do atual presidente, Carlos Alberto Monteiro (PSD), como a do anterior, Álvaro Amaro, que deixou a presidência da autarquia por ter sido escolhido por Rui Rio para o parlamento Europeu.

Entre as câmaras socialistas visadas está a de Oliveira de Azeméis, presidida por Joaquim Jorge. Oliveira do Bairro, ao que o i/SOL apurou, é a única câmara com executivo centrista, liderada por Duarte Novo.

Na operação policial realizaram-se 50 buscas, domiciliárias e não domiciliárias que envolveram 200 elementos da Polícia Judiciária – inspetores, peritos informáticos, peritos financeiros e contabilísticos.

 

Operação teia tem poucas semanas

No fim de maio, a PJ do Porto deflagrou a Operação Teia, em que estava em causa um mega esquema de viciação de concursos públicos e favorecimentos pessoais que tem como peça central Joaquim Couto, até então presidente da Câmara Municipal de Santo Tirso. Joaquim Couto e a sua mulher, Manuela Couto, também arguida na Operação Teia, já tinham estado debaixo de fogo por um esquema idêntico que visava o Turismo do Porto e Norte (Operação Éter). Neste último caso são suspeitos de negócios menos claros com o IPO do Porto e com a Câmara Municipal de Barcelos, cujos presidentes (Laranja Pontes e Miguel Costa Gomes, respetivamente) são também arguidos.

Estes dois últimos adjudicaram vários serviços às empresas da mulher de Joaquim Couto e o MP acredita que em causa estava uma troca pela influência deste que, além de autarca, é membro da comissão política nacional do PS.

[notícia corrigida às 17h30. Inicialmente era referido que a Câmara de Vila do Conde e de Póvoa de Varzim eram duas da  visadas na operação da PJ, no entanto as autarquias não terão contrato público com a Transdev]