Responsáveis pelo afundanço do país

Teixeira dos Santos, pessoa que tinha como séria, ou está a brincar connosco ou então persiste numa verdade que é muito sua, reafirmando que Sócrates se mostrou contrário à nomeação do amigo Vara para a Caixa, por «politicamente [poder ] gerar ruído mediático». A ser verdade, foi a única vez na vida de José Sócrates…

A comissão de inquérito parlamentar à gestão da Caixa Geral de Depósitos e aos seus empréstimos ruinosos no consulado de José Sócrates tem sido um belo retrato do país, fazendo lembrar uma anedota em que várias nações perguntam a Cristo qual a razão de ter sido tão nefasto para eles, já que vivem em climas horríveis, onde muitas vezes nem veem a luz do sol, e ‘deu’ a Portugal condições tão fantásticas. A resposta, de Jesus Cristo, foi a óbvia: «É verdade, mas pus lá os portugueses…».

Um dos últimos inquiridos na comissão parlamentar fez uma ginástica mental deveras impressionante. O antigo ministro das Finanças de José Sócrates – o homem que encostou o primeiro-ministro de então às cordas e o obrigou a chamar a troika para pagar os salários à Função Pública – teve a distinta lata de dizer que foi ele o responsável pela nomeação de Armando Vara e Carlos Santos Ferreira para a administração da CGD e que «até este momento» não tem razões para se arrepender «dessas nomeações».

Teixeira dos Santos, pessoa que tinha como séria, ou está a brincar connosco ou então persiste numa verdade que é muito sua, reafirmando que Sócrates se mostrou contrário à nomeação do amigo Vara para a Caixa, por «politicamente [poder ] gerar ruído mediático». A ser verdade, foi a única vez na vida de José Sócrates que tais preocupações lhe assaltaram a mente.

Mas ainda mais insólito é Teixeira dos Santos dizer que não se arrepende das duas nomeações! Será que o antigo ministro das Finanças emigrou e esteve afastado da realidade portuguesa das últimas décadas? Como é possível defender uma administração que pactuou com negócios ruinosos para o país como foram os empréstimos a Joe Berardo, entre outros, para o Estado assaltar o maior banco privado de então, o BCP? Foi este homem que percebeu que o seu chefe estava a levar Portugal alegremente para o abismo e que nem tinha dinheiro para fazer face às despesas mais prementes? Por mais voltas que dê à cabeça, não consigo entender o que levou Teixeira dos Santos a dizer o que disse na comissão parlamentar.

O antigo ministro foi apenas um dos que ‘borrou’ a pintura, pois podemos juntar muitos outros, mas relembro Vítor Constâncio e Joe Berardo – e todos os outros que tiveram ataques de amnésia em comissões semelhantes. Olhando para esses testemunhos podemos perceber a razão para haver tantas desigualdades em Portugal, tantas oportunidades desperdiçadas para sermos a Suíça do sul, no que diz respeito à riqueza, não aos costumes! Acredito que um dia será feita a devida história deste período tão negro do país.

Um país que não tem dinheiro para manter as urgências das maternidades da Grande Lisboa abertas ao mesmo tempo, por falta de pessoal que vai para o privado por ter sido forçada a isso. Um país que não tem os transportes públicos suficientes para possibilitar aos trabalhadores menos endinheirados chegarem a horas ao trabalho ou ao médico… Um país onde para se renovar o cartão de cidadão é preciso esperar meses e em que alguns portugueses que trabalham no Reino Unido são obrigados a apanharem um avião para tratarem da papelada burocrática que necessitam para legalizarem a sua situação em terras de Sua Majestade.

Acredito que as futuras gerações consigam fazer deste país um pequeno paraíso plantado à beira-mar. Aqueles que têm passado pelas comissões de inquérito é que não o conseguiram, nem vão conseguir.

 

vitor.rainho@sol.pt