Portugueses. Meia centena de motivos de orgulho lusitano (e troféus) ao redor do globo

Foram precisamente 50 os jogadores e treinadores nacionais a conquistar títulos e medalhas em 2018/19. Europa e Ásia tiveram predominância, mas África e América também não ficaram sem representação lusa.

Mais uma temporada futebolística se fechou, e mais uma vez houve muitos – mas mesmo muitos – portugueses com motivos para celebrar por essa Europa fora. É um cenário que se repete a cada ano que passa e 2018/19 não foi exceção: ao todo, foram 50 os jogadores e treinadores a engrossar os respetivos palmarés com troféus de campeão e/ou de vencedores de Taças, Taças da Liga ou Supertaças. (Consulte aqui o mapa)

A maior diferença em relação às últimas temporadas residirá no facto de, desta vez, não ter havido festa em português nas grandes competições continentais, depois de três anos com o Real Madrid a vencer a Liga dos Campeões (Cristiano Ronaldo venceu todas, Pepe duas e Fábio Coentrão uma) e ainda do triunfo do Manchester United de José Mourinho na Liga Europa de 2016/17. É verdade que o Liverpool tinha um português nas suas fileiras (o jovem Rafael Camacho), mas este não chegou sequer a ser convocado por Jurgen Klopp para nenhum encontro europeu dos reds, pelo que (infelizmente) não poderá entrar nesta compilação. Gelson Martins, por seu lado, foi ao banco na Supertaça Europeia entre os dois rivais de Madrid, ganha pelo seu Atlético, não tendo chegado a ser utilizado.

Há, ainda assim, muito por contar, até porque mais uma vez houve motivos para celebrações em quatro continentes diferentes: só faltou a Oceânia. Como seria de esperar, mais de metade das conquistas foram registadas na Europa (29), mas a Ásia apresenta também um invejável registo de 16 portugueses a celebrar – oito dos quais referentes ao hexacampeonato do Benfica de Macau, sim, mas onde saltam à vista também os inúmeros triunfos na língua de Camões na Arábia Saudita, Catar e China. Sobram dois em África (Moçambique e o recôndito Botsuana) e um na América do Norte (México).

O ano de Ronaldo… e Bernardo  Se nas últimas épocas tinha sido o campeonato italiano o único a escapar à voracidade portuguesa, desta feita essa realidade alterou-se por completo. A Juventus acolheu nas suas fileiras João Cancelo e Cristiano Ronaldo e assim encetou mais um passeio no parque da Serie A, vencendo o oitavo campeonato consecutivo e triunfando ainda na Supertaça, frente ao AC Milan: 1-0, com golo… de Ronaldo. O CR7, de resto, terminou a época com 28 golos em 43 jogos (21 em 31 no campeonato) e foi eleito o melhor jogador da liga. Aos 34 anos… podia ser pior. Realce ainda para Pedro Neto, jovem avançado de 19 anos que somou 13 minutos na campanha da Lazio na Taça e assim arrecadou o primeiro título da ainda curta carreira.

Este ano, foi em França que os troféus fugiram a sete pés aos portugueses. O PSG dominou a seu bel-prazer o campeonato e arrancou a época a golear o Mónaco de Leonardo Jardim na Supertaça (4-0). As duas Taças (francesa e a da Liga), ambas decididas nos penáltis, teriam outros destinos: o Rennes ganhou a primeira e o Estrasburgo ficou com a segunda, após suplantar o Guingamp do lateral-esquerdo luso Pedro Rebocho, que fez uma temporada belíssima em termos individuais, recheada de assistências e nomeações para o 11 da semana da Ligue 1, apesar da descida de divisão da sua equipa.

Numa época bisonha para o Monaco, que acabou a ‘celebrar’ da forma mais tímida possível a permanência, o grande destaque irá mesmo para a campanha do Lille, este ano a equipa mais portuguesa de França, com Luís Campos como diretor-desportivo e José Fonte a capitanear um conjunto onde se integravam ainda Xeka, Rafael Leão, Edgar Ié (emprestado ao Nantes em janeiro) e o seu irmão, Rui Fonte. Os lillois terminaram em segundo, três pontos à frente do Lyon de Anthony Lopes, e garantiram o acesso à Liga dos Campeões pela primeira vez em sete anos.

Em Inglaterra, o Manchester City voltou a assumir o papel de bicho-papão: os citizens venceram as quatro competições internas – só faltou a Liga dos Campeões para ser uma temporada absolutamente perfeita. E desta vez com contribuição decisiva de Bernardo Silva, eleito o melhor jogador da temporada do conjunto liderado por Pep Guardiola.

José Mourinho acabou por ser demitido do Manchester United a meio de uma temporada onde o conjunto sensação dificilmente podia ser mais português: falamos, obviamente, do Wolverhampton Wanderers, orientado por Nuno Espírito Santo e com uma verdadeira legião de jogadores lusos, que terminou no sétimo lugar no ano de regresso à Premier League, garantindo mesmo o acesso à Liga Europa – e com Nuno nomeado para treinador do ano da prova (perderia a eleição para Guardiola). Logo abaixo, a apenas três pontos, ficou o Everton de Marco Silva (e André Gomes), também a abrir boas perspetivas para a próxima temporada.

Em Espanha, a nau do Barcelona navegou como quis face à implosão do Real Madrid. Os blaugrana começaram por vencer a Supertaça e asseguraram depois a conquista do bicampeonato, embora tenham acabado a temporada numa profunda depressão face à dolorosa eliminação nas meias-finais da Liga dos Campeões (depois de vencer o Liverpool por 3-0 no Camp Nou, perderam por 4-0 em Anfield). Aproveitando esse estado de espírito, o Valência de Gonçalo Guedes (e Rúben Vezo até janeiro), que já estava em festa pela qualificação para a Liga dos Campeões, ganhou ainda a Taça do Rei, batendo os catalães na final (2-1).

Dos ‘big five’, falta falar da Alemanha, onde Renato Sanches voltou a ser apenas opção ocasional num Bayern Munique bem menos mandão no relvado… mas novamente hegemónico nos troféus conquistados: venceu as três competições internas. O médio internacional português não foi chamado para o jogo da Supertaça, mas festejou a Bundesliga e a Taça. Ainda assim, e dadas as suas constantes reivindicações de mais minutos, tudo indica que se encaminha para uma mudança definitiva de ares na temporada que se avizinha.

O salto de Fonseca Fora das principais ligas, o maior feito em território europeu terá sido o de Paulo Fonseca, que levou o Shakhtar Donetsk ao tricampeonato na Ucrânia – aliás, à terceira dobradinha consecutiva, pois venceu igualmente a Taça. Um percurso sempre em ascensão, que não passou despercebido no radar dos grandes clubes: na próxima época será treinador da Roma, com o seu lugar no gigante ucraniano a ser ocupado por Luís Castro, que aos 57 anos terá a primeira experiência além-fronteiras.

Ali ao lado, na Rússia, Neto despediu-se do Zenit com o segundo título de campeão – o central de 31 anos irá representar o Sporting na próxima temporada. E a Taça também foi conquistada por portugueses: pertenceu, aliás, a Manuel Fernandes a assistência para o golo que garantiu o troféu ao Lokomotiv. Eder, suplente não utilizado no jogo decisivo, também inscreveu o nome no triunfo. Manuel Fernandes, refira-se, fez ainda um golaço de livre direto que apurou o Lokomotiv para a Liga dos Campeões: a forma perfeita para dizer adeus ao clube que representou nas últimas cinco temporadas e cuja ligação termina agora.

Na Grécia, glória a dobrar para o PAOK de Vieirinha e Sérgio Oliveira, com a conquista da dobradinha – e com muita emoção à mistura para o lateral/extremo e capitão, que sofreu uma rotura de ligamentos na parte final da temporada e mesmo assim foi lançado nos minutos finais do último jogo em casa para receber a ovação do seu público, num dos mais belos momentos vividos num estádio de futebol nos últimos largos anos. Ali ao lado, na paradisíaca ilha de Chipre, Bruno Vale também foi homenageado pelo Apollon: o guardião, que se despediu após sete temporadas, viu o clube retirar a camisola com o seu número (83). No que respeita a troféus, o campeonato seguiu para o APOEL, de Nuno Morais e André Vidigal (o técnico Bruno Baltazar iniciou a época, acabando demitido após vencer a primeira jornada) e a Taça para o AEL Limassol, de André Teixeira e Leandro Silva.

Também na Roménia houve um treinador português a abrir caminho para o sucesso, embora neste caso com bem maior importância: António Conceição abriu a época a vencer a Supertaça para o Cluj (capitaneado por Camora) e acabaria por ser demitido em fevereiro, quando seguia… na liderança do campeonato. O conjunto da Transilvânia viria mesmo a ser campeão, tal como o Lincoln Red Imps, em Gibraltar – neste caso, é já o quarto campeonato consecutivo para Bernardo Lopes -, e o FC Santa Coloma, em Andorra, numa estreia para André Azevedo.

Em Israel, o central Jair Amador venceu campeonato e Taça da Liga pelo Maccabi Telavive, enquanto Miguel Lopes e Hélder Barbosa entraram na época a vencer a Supertaça turca pelo Akhisar – acabariam por chorar no fim, com a derrota na final da Taça e a descida de divisão. Ainda na Turquia, realce para os 29 golos apontados por Marco Paixão ao serviço do Altay, que lhe valeram o troféu de artilheiro da II Liga. O seu irmão gémeo, Flávio, viria a festejar também a conquista da Taça na Polónia, ao lado de João Nunes, com Lupeta a conseguir o mesmo na Eslovénia e João Escoval na Croácia.

A Arábia a falar a língua de Camões Fechada a ronda na Europa, é tempo de viajar pelos outros três continentes. Em particular pela Ásia, que nesta temporada vestiu a camisola de Portugal como nunca antes, e muito por culpa dos treinadores portugueses que “invadiram” a Arábia Saudita e o Catar… e varreram quase todos os títulos.  Começou com Jorge Jesus a vencer a Supertaça saudita, acabaria com Rui Faria a conquistar a Taça catari. Pelo meio, Rui Vitória ganhou o campeonato e Pedro Emanuel (e o central Ricardo Machado) a Taça na Arábia Saudita, com Jesualdo Ferreira a vencer o tão ansiado campeonato do Catar e Diogo Amado a conquistar a Taça da Liga pelo segundo ano consecutivo.

Além da legião portuguesa que celebrou o sexto título consecutivo em Macau, liderada por Bernardo Tavares, referência também para Vítor Pereira, que guiou o Shanghai SIPG à conquista do campeonato e da Supertaça na China.

Na África lusófona, o português sem dialeto manifestou-se apenas em Moçambique, com Horácio Gonçalves a vencer Taça e Supertaça pela Costa do Sol. A verdadeira lança portuguesa, porém, foi Jorge Duarte, técnico que na época anterior se havia sagrado campeão no Uganda e que agora conquistou a Taça do Botsuana, terminando a escassos dois pontos do título nacional.

Este será o destino mais exótico deste périplo, que se encerra na América, com a conquista da Taça do México pelo Cruz Azul de Pedro Caixinha. De realçar, porém, que ainda há um técnico português com possibilidades de vencer uma competição de seleções: Carlos Queiroz, que lidera a Colômbia na Copa América, a decorrer por estes dias no Brasil.