“Achavam que era uma oferecida e uma tarada”

A pornografia de vingança diz respeito à partilha de conteúdos de cariz sexual (imagens, vídeos ou áudios que contêm nudez) de forma não consensual, muitas das vezes, depois do fim de um relacionamento amoroso.

Mariana (nome fictício) tem 22 anos e reside no distrito do Porto. Há oito anos, iniciou o seu primeiro relacionamento amoroso: “Era a fase da descoberta total: do prazer conjugal, de coisas novas” referiu, clarificando que, certo dia, decidiu trocar fotografias com o então companheiro. “Estávamos quase como viemos ao mundo. Nunca guardei as dele, porque honestamente tinha medo de que a minha mãe pegasse no meu telemóvel” adiantou a jovem que viu o seu corpo ser exposto com apenas 16 anos.

Na verdade, Mariana armazenou as imagens que havia captado numa pen porque “se sentia poderosa”. Na escola que frequentava, todos os alunos costumavam deixar as mochilas à porta das diversas salas: afinal, o que poderia acontecer entre colegas? Mas uma avalanche de emoções derrubou a adolescente quando, certo dia, se sentiu “olhada de lado” na instituição de ensino que frequentava. “Não percebia porquê. Até que me vieram dizer que tinha sido criada uma conta minha com as fotos, com a minha identidade” e com muitos insultos à mistura.

A reputação da estudante ficou manchada mas não tanto quanto o seu estado de espírito. “Passei por uma das piores fases da minha vida. O meu namorado jurou a pés juntos que não tinha sido ele mas não queria saber daquilo que ele dizia”. A mãe de Mariana convocou uma reunião entre encarregados de educação e exigiu que a pen fosse colocada na mochila da filha até ao dia seguinte. Quando a estudante saiu das aulas, confirmou que o dispositivo tinha-lhe sido devolvido.

“Ainda hoje não faço ideia de quem foi, a minha mãe nunca me disse. Nesse mesmo dia a conta foi eliminada mas não fugi à fama na altura. Foram tempos de aflição. Acima de tudo, de sufoco” admitiu a atual maquilhadora, realçando que a identidade do agressor somente foi desvendada porque o seu padrinho tinha um amigo “crânio da Internet, hacker total” que conseguiu descobrir a localização do computador do criminoso.

“Jurou que não foi ele. E hoje, acredito. Nunca tive coragem de perguntar à minha mãe quem de facto foi. Honestamente, acho que ela não me disse para eu não sair magoada” respondeu quando questionada acerca da identidade da pessoa que lhe roubou os resquícios de inocência. Na opinião de Mariana, a família protegeu-a por dois motivos: era demasiado nova e, quem a atacou, inconsciente.

“Achavam que era uma oferecida e uma tarada. Hoje encaro aquilo como a descoberta do meu corpo e da minha própria sensualidade” exprimiu a mulher que, devido ao trauma vivenciado, acredita que só é totalmente íntima com os parceiros pessoalmente. “Nunca conhecemos alguém a 100%”, adicionou, com a sabedoria típica de quem viveu muito mas antes do tempo.