O PAN, a verdade e os ciganos

Não é a esconder a verdade que os problemas se resolvem. E muito menos a castigar quem denuncia situações condenáveis.

Uma deputada municipal do PAN, Fátima Dâmaso, numa recomendação à assembleia municipal da sua terra, escreveu o seguinte: «Verifica-se que existe uma etnia que se multiplicou e que todos os dias se passeiam pela Moita e arredores, empilhados em cima de carroças puxadas por um único cavalo subnutrido».
Esta frase provocou uma onda de indignação.
Na sequência disso, o PAN nacional retratou-se, pediu desculpa, a deputada foi desautorizada e acabou por se demitir.
Porquê? – pergunto eu.

A senhora fez afirmações objetivas: 1. Que existe «uma etnia que se multiplicou». Ora, a obrigação da assembleia municipal seria verificar de que etnia se trata e se, de facto, tem crescido; 

2. Que elementos dessa etnia se passeiam pela terra em cima de «carroças puxadas por um único cavalo subnutrido». Também aqui a assembleia municipal deveria aquilatar da veracidade da afirmação. E, a confirmar-se, deveria tomar as medidas adequadas, pois a situação descrita não parece razoável.
Não foi, porém, nada disto que se fez. Em lugar de se confirmar a veracidade da mensagem, tapou-se a boca ao mensageiro.
Em vez de se tentar apurar a verdade, calou-se o denunciante.
O crime passou a ser o que a senhora disse – e não o facto por ela relatado.

Ora, isto É gravíssimo. Estamos perante mais um caso em que a ideologia se sobrepôs à verdade. Das duas, uma: ou o que a senhora relatou era uma calúnia lançada para prejudicar uma etnia – e, nesse caso, a senhora deveria ser punida – ou era verdade – e, aqui, a punição deveria recair sobre os prevaricadores.
Mas não: a ideologia impôs o silêncio. 
O politicamente correto sobrepôs-se aos factos, mostrando que caminha a passos largos para se tornar uma nova ideologia, com os seus mecanismos de repressão e censura. Censura institucional – que se traduziu na exclusão da deputada pelo seu próprio partido – e censura social – porque vi vários programas televisivos que condenavam a senhora, sem se dignarem discutir a situação que ela relatou. 

Recordo que, há uns bons anos, publiquei uma notícia no semanário Expresso dando nota da prática de assaltos na Quinta da Marinha por imigrantes vindos do Leste.
Pois bem: passado um tempo recebi uma carta de uma qualquer organização oficial dizendo que o jornal incorrera num crime, pois não se podia referir a origem dos assaltantes. E, como tal, não poderia voltar a fazê-lo.
Fiquei estupefacto. Respondi à referida comissão dizendo que considerava relevante o facto de os assaltantes serem imigrantes do Leste, que considerava essa circunstância de óbvio valor informativo, e que voltaria a fazer o mesmo em situações semelhantes. Devo dizer que não recebi qualquer resposta – e continuei a decidir de acordo com os meus critérios.

No caso da moita, é evidente que, partindo do princípio de que a informação é verdadeira, não é indiferente o facto de quem se passeia diariamente pela terra numa carroça puxada por um cavalo esquelético serem indivíduos sempre da mesma etnia.
Como seria igualmente relevante se fossem, por exemplo, recrutas de uma mesma unidade militar.
Ou empregados de determinada quinta.
A origem dos ocupantes da carroça – e presumíveis proprietários dela e do cavalo – não é de modo nenhum despiciendo. 

Episódios como este só contribuem, a meu ver, não para acabar com a xenofobia e o racismo mas para fomentar a xenofobia e o racismo. 
Porquê?
Primeiro, porque as pessoas não gostam que lhes ocultem a verdade. 
Segundo, porque, provavelmente, os elementos da dita etnia vão passear-se ainda mais pelas ruas da Moita em cima de carroças puxadas por cavalos subnutridos, vangloriando-se de terem provocado a demissão de uma deputada do PAN. No fundo, vão rir-se na cara do PAN, por ter demitido a deputada que os denunciou.
Repito: é assim que se promove o racismo. Eu, que nunca fui racista – e já o constatei em variadíssimas circunstâncias –, sinto-me indignado com o que se passou. Não é a esconder a verdade que os problemas se resolvem. E muito menos a castigar quem denuncia situações condenáveis.